Diversão e Arte

Prima de Roberto Menescal mergulhou na vida da família para escrever livro

Claudia Menescal mergulhou na vida da família e do músico para fazer um livro leve

Correio Braziliense
postado em 15/03/2020 06:05
Menescal: histórias inéditas

Foi uma insistência familiar que fez a pesquisadora e historiadora Claudia Menescal procurar o primo Roberto, 82 anos, para escrever uma biografia. Tímida e nada afeita à tietagem, Claudia sequer cultivava o fato de ter parentesco com o criador de O barquinho e Você. “Ela ia aos shows da gente com a turma dela, a gente se conhecia assim, e um dia ela falou ‘olha, preciso falar com você’. E aí ela falou ‘sou sua prima’. Eu não sabia, ela nunca me disse”, conta o compositor que, em seguida, foi avisado de que a prima havia feito extensa pesquisa para uma biografia e agora precisava falar com ele. O resultado do trabalho de Claudia está em Roberto Menescal – Um arquiteto musical, que será lançado na próxima terça e marca o início de uma agenda movimentada para o músico.

No começo, Claudia resistiu muito a embarcar na biografia. “Eu achava que ele não tinha nada pra contar, ele tem uma vida linear, seguiu com a carreira, mas nunca se envolveu em coisas diferentes, escândalos. E, além disso, dá muita entrevista”, explica a autora. “Eu ia escrever sobre o quê? E ele é muito discreto quanto à vida pessoal, achei que não tinha material.” Um dia, a pesquisadora acabou convidada para cuidar do acervo do primo, que seria encaminhado a uma instituição. Quando começou a mexer no arquivo, mudou de ideia. “Fizemos descobertas juntos sobre nossa família”, conta.

Menescal ainda não leu o livro. Não quis ter acesso aos originais para não ser tentado pela censura e deixou Claudia trabalhar com toda liberdade. “Eu tinha um baú lá em casa e também tenho muita coisa que entrego para minha empresária porque não quero ficar com aquele monte de papéis. Entreguei um baú para ela e no dia do lançamento é que vou receber o livro e ver”, conta. “Não tenho saudade do passado, tenho saudade do futuro.”

No livro, no entanto, há um passado muito rico. Claudia decidiu organizar tudo em capítulos que são quase verbetes. Queria textos pequenos para não ficar repetitiva e para tornar a leitura dinâmica. “E para não ficar cansativo, senão eu ia ficar me repetindo porque ele conta sempre as mesmas histórias. É complicado. Acrescentei algumas coisas que sei que a mídia não sabe, como ida dele com Flavinho Cavalcanti a Paris para encontrar Paul Mauriat, as coisas que enfrentou dentro da PolyGram, porque é uma pessoa discreta. Ele é muito objetivo”, conta a pesquisadora. O encontro com Mauriat resultou numa série de arranjos para um disco do maestro francês lançado pela Philips.
 
Menescal, Boscoli e Sonia Delfino 
 
Algumas histórias são conhecidas da trajetória de Menescal, como os anos dourados de Copacabana, a amizade com João Gilberto, as tardes no apartamento de Nara Leão, o encontro com Tom Jobim e a parceria com Ronaldo Bôscoli. O lado empresarial, quando Menescal se tornou produtor musical da PolyGram, gravadora que reunia mais da metade dos talentos brasileiros, e deu destaque a nomes como Alcione e Emília Santiago, foi momento importante da vida do compositor, que não gosta de dizer que “revelou” nomes da música. “ Ninguém lança nada. Você incentiva”, conta.

A briga com Angela Rorô nos corredores da PolyGram, um desentendimento sobre o qual Menescal pouco falou, entrou para o livro com uma citação breve. No papel de empresário, o compositor deixou de lado o violão para se dedicar totalmente à promoção de novos nomes. “Não tinha mais nem violão”, conta. Além do texto, o livro também reúne um caderno de fotos com imagens históricas de shows e dos parceiros mais importantes. O lançamento é uma espécie de ponto de partida para a agenda de Menescal para 2020. O compositor acaba de voltar de Brasília – esteve no Clube do Choro para um encontro sobre direitos autorais — e, na próxima semana, lança Bossa, got the blues no Sesc Pompeia (São Paulo), trabalho feito em parceria com o filho.

Este ano lança também Cazuza em bossa, parceria com Leila Pinheiro e, em abril, faz show no Rio de Janeiro ao lado de Carlos Lyra e Wanda Sá. Em maio, parte para o Japão, onde já foi cantar e tocar 31 vezes, para a turnê Os bossa nova. “Vou chamar esse show de ‘grupo de risco’”, brinca.
 

Claudia Menescal mergulhou na vida da família e do músico para fazer um livro leve
Roberto Menescal – Um Arquiteto Musical
De Claudia Menescal Futurama Editora, 288 páginas. R$ 49,90

Duas perguntas / Roberto Menescal


A Claudia Menescal diz que não havia muita coisa para contar porque o senhor deu muitas entrevistas e já falou muito sobre sua vida. O que acha disso? 

O que tinha pra contar está no livro, puxaram tudo dali, a Claudinha é danada, ela chega armada e sabe o que precisa. O que pode ser contado está lá, mas tem coisa que não pode contar. A gente tinha 18 anos, fazendo shows na faculdade, porque o primeiro grande público da gente foi o universitário; então os shows eram uma festa e a gente vivia vida de festa. E, na festa, a gente faz muita coisa, coisa que não devia fazer. E como a gente estava na frente do movimento, fazia mais.

O senhor sente alguma responsabilidade, algum peso de ter sido uma figura-chave na bossa nova?

Não. Acho que foi uma escolha que fiz dentro do que eu gostava, do que achava que podia fazer. Fui muito mau aluno de colégio, a vida inteira; então quando veio essa possibilidade da música me dediquei, porque não queria fazer faculdade, não queria fazer nada. O encontro com Tom (Jobim) foi essencial. Logo no começo, ele perguntou o que tava fazendo. Estava me preparando para o vestibular de arquitetura e ele falou: “Você não quer ser músico? Larga isso. Perdi cinco anos da minha vida estudando para arquitetura, não faça isso não!”. Imagina meu mestre falar isso? Larguei tudo.
 
 
 
 
 

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  • Foto: Acervo Pessoal de Roberto Menescal
  • Foto: Futurama/Reprodução

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