Diversão e Arte

Coronavírus: Pandemia global impacta em diversos setores da cultura

Shows e festivais foram cancelados. Espaços culturais, como cinema e teatro, foram fechados no mundo. Estreias e filmagens adiadas

Correio Braziliense
postado em 17/03/2020 08:20
Marília Mendonça:

Antes mesmo de a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar pandemia global, devido à rápida expansão do novo Coronavírus, a lista de cancelamentos de grandes eventos culturais evoluiu em efeito dominó. Por reunir grande público e gerar um fluxo alto de pessoas, a suspensão das atividades é usada como importante medida preventiva em regiões atingidas pelo vírus.

No Brasil, locais como Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo estão sob decretos que limitam a grande circulação de pessoas e impedem aglomerações. A pandemia impactou diretamente o setor cultural, com shows e eventos cancelados ou adiados, e o fechamento de museus e centros culturais.

. Shows, festas, festivais e atividades culturais foram canceladas ou adiadas, incluindo importantes eventos do calendário candango, como o Festival Filmaê e o Festival Internacional de Bonecos. Todos os espaços públicos culturais também fecharam as portas, assim como  cinemas e teatros.

No âmbito brasileiro, um dos maiores impactos foi no festival Lollapalooza, em São Paulo, que ocorreria na primeira semana de abril, e costuma receber em média 246 mil pessoas em três dias de evento. Enquanto as edições do Lollapalooza da Argentina e do Chile anunciavam os adiamentos, a T4F, produtora do evento no Brasil onde ocorre há oito anos, tentava manter, ao menos, os principais shows do palco  para a nova data: Guns N’Roses, Travis Scott e The Strokes. No mundo, feiras internacionais do livro, Art Basel Hong Kong, Bienal de Arquitetura de Veneza, o festival Coachella, a feira de games E3 e até a Broadway League, em Nova York, também anunciaram a suspensão imediata de todas as apresentações. 

Festival Lollapalooza

Cada uma dessas decisões repercute financeiramente em distintas cadeias: artistas, fãs, funcionários, vendedores e os próprios organizadores. Para o mercado musical como um todo, shows, turnês e festivais, a perda, de acordo com a Forbes, pode chegar a US$ 5 bilhões neste ano. Artistas como o grupo sul-coreano de k-pop, BTS, a cantora canadense Avril Lavigne, o Dj brasileiro Alok e a cantora Marília Mendonça optaram por frear as apresentações diante do surto no mundo.

No fim de semana, a sertaneja se pronunciou nas redes sociais a respeito do tema. “Cancelamos o show hoje. Deveríamos ter cancelado o show ontem. E, com  certeza, virão muitos shows cancelados pela frente. O prejuízo não é só meu nem seu. O mundo está sofrendo as consequências de uma pandemia. Empresário, consumidor e economia estão sofrendo consequências muito graves”, escreveu Marília Mendonça. Em resposta a um usuário que comentou que os brasileiros só vão fechar as portas depois de infectados e diante de casos de morte, a cantora pontuou: “O egoísmo está grande demais, principalmente, dentro do meu próprio mercado. Ninguém está nem aí. Não conseguem colocar a mão na consciência e pensar além. Todo mundo precisa ganhar dinheiro para sobreviver, mas antes precisamos sobreviver”.


Cinemas


Como apontam Samy Ferreira, produtora de conteúdo formada em mídias sociais digitais; e Victória Ragazzi, jornalista pós-graduada em Music Business pela Universidade Anhembi Morumbi, no artigo Showbusiness afetado pelo coronavírus? (leia artigo), as consequências para a cadeia cultural dependem de alguns fatores, incluindo a cobertura de seguro (ou a falta dela) para festivais e artistas, e se o cancelamento foi voluntário ou determinado pelo governo. 

O South By Southwest (SXSW), festival de música, cinema e tecnologia realizado nos Estados Unidos, por exemplo, reconheceu que, apesar de ter seguro para situações relacionadas ao terrorismo, a lesões e a outros perigos, não estava coberto para vírus e pandemias. Só no ano passado o evento havia gerado US$ 356 milhões para a economia da cidade de Austin, onde é realizado.

O vírus também atingiu o setor do audiovisual. Cinemas foram fechados e o setor teve que pausar e adiar gravações de filmes e novelas. A revista americana Hollywood Reporter estima em US$ 5 bilhões as perdas no setor devido ao coronavírus. A estreia no novo filme do agente James Bond, 007 — Sem tempo para morrer, foi remarcada para novembro, da mesma forma que exibições nacionais, como Babenco, e o lançamento duplo A menina que matou os pais e O menino que matou meus pais, foram adiadas. As gravações da sequência do longa Missão impossível, que seria filmado em Veneza, estão pausadas, assim como as filmagens da novela brasileira Amor de mãe. A Rede Globo anunciou que o folhetim das 21h da emissora, horário de maior audiência, será interrompido a partir do dia 21.


Auditório


Pela primeira vez, em 30 anos, o Domingão do Faustão foi ao ar sem plateia
. A medida de esvaziar os auditórios dos programas da emissora foi adotada por precaução. “Esse Domingão, de 15 de março de 2020, é o primeiro de sua história, em quase 31 anos na Globo, de um programa de auditório, que terá o auditório vazio. O coronavírus é o responsável por isso”, explicou o apresentador durante a exibição. Além do Domingão, a eliminação do Big brother Brasil de hoje também não contará com plateia nos estúdios, a informação foi confirmada por Boninho. 

Diante de uma pandemia que atinge uma das principais fontes de sustentabilidade econômica da cultura no país, o público, e com um cenário no qual as políticas culturais são questionadas, pesquisadores e pessoas do setor afirmam que o país precisa de um plano. Na Alemanha, por exemplo, o Ministério da Cultura prometeu assistência financeira a instituições de arte que enfrentam incertezas em meio à queda no turismo e à retração  economia, provocadas pela série de restrições. Estão em negociação artistas e instituições independentes, inclusive, que proporcionalmente, são mais prejudicadas. Em Nova York, as galerias de artes estão entre as pequenas empresas elegíveis para receber empréstimos, sem juros, e doações em dinheiro do governo da cidade, desde que demonstrem que as vendas caíram em 25% ou mais desde o pico da doença. 

*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira
 
Artigo 
 
O que fazer? 
 
Samy Ferreira
Victória Ragazzi
 
É claro que uma pandemia mundial, como essa que estamos vendo se alastrar nas últimas semanas, afeta várias áreas do cotidiano — inclusive a cultura. E, assim como as pessoas, a indústria musical está enfrentando uma nova preocupação. Já são inúmeros os eventos cancelados: feiras, desfiles, estreias de filmes, festivais de cinema. E, no mundo da música, nomes internacionais como SXSW, Tomorrowland e Ultra Music entraram para lista. O Coachella, na Califórnia, que deveria começar em 10 de abril, foi transferido para outubro, também com riscos de cancelamento. Além de diversos shows internacionais em vários países, como Maroon 5, que aconteceria dia 12 deste mês, na Argentina, e foi cancelado de última hora. Aqui no Brasil, o Google destacou que as buscas por “Lollapalooza cancelado” saltaram 4.050% em uma semana. E adiou: Brasil, Chile e Argentina, para novembro e dezembro deste ano.

Esses cancelamentos têm repercussões financeiras para todos os envolvidos: artistas, fãs, funcionários, vendedores e os próprios organizadores do festival. O que acontece depois, e quem é pago, depende de alguns fatores, incluindo a cobertura de seguro (ou a falta dela) para festivais e artistas, e se o cancelamento foi voluntário ou determinado pelo governo.

De acordo com a Forbes, o mercado de música ao vivo — shows, turnês e festivais — pode ter uma perda de US$ 5 bilhões neste ano. Tim Epstein, advogado de esportes e entretenimento, explica que os desligamentos obrigatórios do governo podem desencadear “força maior”, uma cláusula contratual que deixa as pessoas fora do gancho por suas obrigações sob o contrato. Epstein acredita que a maioria dos cancelamentos de festivais relacionados ao coronavírus (covid-19) ocorrerá sob condições similares de força maior, posta pelo governo.

As gravadoras independentes, que tendem a trabalhar com menos artistas em um nível mais profundo, devem sentir mais o impacto destes cancelamentos com baixa probabilidade de recuperação. Além do que, esses eventos são imprescindíveis na carreira de artistas pequenos para emplacar lançamentos e trabalhar como vitrine. Ou seja, remanejando ou cancelando, o planejamento vai por água abaixo.

Alguns festivais trabalham com uma política de não-reembolso e disponibilizam “free pass” para festivais e eventos futuros. Outros oferecem o reembolso. Os fãs que adquiriram ingressos devem se atentar e ler aquelas letras bem pequenininhas dos contratos e direitos do consumidor. Já os custos de viagens e hospedagem para quem é de fora, é outro papo.

Na China, país mais atingido pela Covid-19 atualmente, essas restrições estão sendo ressignificadas. Artistas e gravadoras estão apostando em transmissões ao vivo/online, em que os fãs podem interagir por bate-papo. É uma alternativa que não tapa o buraco financeiro, mas mantém a aproximação de uma experiência. Na Alemanha, a ministra de Cultura, Monica Gutters, promete assistência financeira a artistas afetados pelo cancelamento.

Estamos diante de incertezas. Mas, neste momento, o importante é não esquecermos dos rostos humanos por detrás de todos os números e estatísticas. E — com cuidado, atenção e empatia —  respeitarmos as recomendações de prevenção que chegam até nós!

Samy Ferreira é produtora de conteúdo formada em Mídias Sociais Digitais;  Victória Ragazzi é jornalista pós-graduada em Music Business pela Universidade Anhembi Morumbi 

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