Diversão e Arte

Rap acústico ganha voz

Correio Braziliense
postado em 18/03/2020 04:16
O rapper Delacruz é um dos representantes do estilo melódico



O rap chegou ao Brasil em meados dos anos 1980 como forma de protesto. Cantado, portanto, naquele tempo, por grupos de pessoas da periferia e por negros que utilizavam a música para fazer um discurso contra o racismo e o preconceito. Originado da expressão “rhythm and poetry”, no Brasil, foi traduzido para “ritmo e poesia”. Com isso, então, surgiram diversos artistas que colocavam na música a intenção de um apelo social.           

 A arte de compor música foi, por ora, considerada, pelos artistas, a mais pacífica maneira de  manifestar a indignação de um grupo. No entanto, o rap ainda era visto como um ato violento e da favela por grande parte da sociedade, o que comprovou, então, a discriminação combatida nas letras das canções.       

 Os primeiros grupos do novo gênero musical foram Racionais Mcs, Planet Hemp, Pavilhão9 e Facção Central, bem como os cantores Mv Bill, Sabotage, Ndee Naldinho e Criolo. Para eles, a composição do rap envolvia uma luta cotidiana para dar voz às pessoas descriminalizadas, além de retratar uma realidade não percebida pela alta sociedade.             

Contudo, como todo estilo musical, a cena do rap teve modificações no modelo engessado do último século. Surgem, então, artistas que imergem no universo das rimas para transmitir uma mensagem sentimental, de amor e que converse com o público. O, por vezes chamado de rap acústico, começou, então, a fazer sucesso no Brasil.

Além disso, o acústico também foi uma oportunidade para que mulheres se lançassem, ainda mais, na cena das rimas e do freestyle. Para a cantora carioca Lourena, que atingiu quase 200 mil inscritos no YouTube, ter a voz feminina em composições de hip-hop é um protesto por respeito e equidade.

Amor 

Intituladas love songs, as canções que falam de amor têm alcançado um público diversificado e, para isso, une MCs que trabalham diferentes vertentes, em uma harmonia inusitada. “Falar de críticas sociais, como o rap faz em sua essência, faz com que o artista se conecte com alguns nichos, mas falar de amor conecta todos os humanos. No rap, por muito tempo, isso foi um tabu — na época dos Racionais Mcs, por exemplo, não se falava de amor. O rap era totalmente pautado em problemas sociais, sobre um Brasil castigado de mazelas. Falar sobre esse sentimento era quase como uma profanação ao gênero”, explicou o poeta Fábio Brazza em entrevista ao Correio.      

 Ainda que as produções solo da velha guarda tenham forte influência na música, as chamadas cypher tem sido de bastante relevância para o público e para os artistas. Esses trabalhos consistem em vários cantores produzindo um único som colaborativo. Para isso, nas cyphers, cada cantor escreve uma parte da música e, em seguida, juntam todas as letras, que, por sua vez, podem falar de amor e transmitem mensagens reflexivas aos ouvintes.      

 “As cyphers permitem que cada um mostre sua visão sobre um tema e, normalmente, somos muito sinceros nas composições. É uma forma legal, quem escuta pode se sentir mais íntimo do artista”, contou o rapper Delacruz.          

Ademais, o estilo das love songs e do rap acústico permite que mais pessoas se conectem com a mensagem e se sintam parte de uma história. “O rap de amor serve até como uma isca, para chamar atenção para as reflexões que muitas vezes ficam presas e escondidas dentro de um grupo. As pessoas se identificam mais”, explicou Fábio Brazza.        

O público, por sua vez, não deixou de ouvir e se inspirar no rap consciência e que funcionam como mecanismo de protesto social, mas, pode, com o novo gênero do hip-hop, se envolver emocionalmente nas composições melodramáticas.

Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco


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