Diversão e Arte

Danças livres dão protagonismo para pessoas com deficiência

Aulas, como as da academia de dança Bailacci, quebram paradigmas e trazem novos olhares para o centro do palco

Correio Braziliense
postado em 21/03/2020 06:05
A academia Bailacci promove aulas livres para pessoas com deficiência

A academia de dança Bailacci, com sedes no Lago Norte e Asa Sul, se destaca no Distrito Federal por dar oportunidade de aulas a grupos que muitas vezes são deixados de lado, quando o assunto é dança. Nas turmas de danças livres da academia, pessoas com deficiências visual, auditiva, mental, física, alunos com Síndrome de Down, espectro autista entre outras, de diversas idades, podem se reunir para aprender e expressar sentimentos por meio da dança.

De acordo com a sócia da Bailacci, Nayane Dias, a dança não pode se limitar a apenas um público, por isso decidiram investir na ideia. “Não foi a gente que criou essas aulas, porque existia uma academia que tinha um projeto chamado Up dance, o que queremos é continuar esse projeto com a mesma proposta. Nosso objetivo é que o aluno use a dança para ser uma pessoa melhor, então por que limitar uma pessoa deficiente de se sentir melhor?”, conta Nayane.

Para a sócia, que também é dançarina, as aulas trazem muitos benefícios para os alunos desde o físico até o emocional. “Ajuda primeiro no aspecto social, em segundo vem a melhora motora. Em terceiro, a parte emocional, quando você curte seu corpo, sente ele mais completo. O aluno já passa por maiores dificuldades, mas encontrar lugares que tenham programas voltados para eles é melhor, porque se sentem bem”, explica.

O psicólogo clínico com foco no atendimento a pessoas com deficiência, Felipe Medeiro, completa que o maior benefício das danças livres é a quebra de paradigma ao trazer a pessoa deficiente para o centro. “Esse protagonismo evidencia que pessoas com deficiência também possuem várias capacidades importantes, e essas capacidades podem encantar e ensinar cada dia mais a sociedade. Mostra que a deficiência não é o fim da vida, muitas vezes pode ser encarada apenas como um detalhe”, diz.

Além do protagonismo, segundo o psicólogo, a pessoa tem ganhos de estimulação corporal, de aceitação, aumento de reconhecimento, bem-estar e sentimento de valorização pessoal. “Com isso, se pode combater a depressão, ansiedade e autoimagem fragilizada, porque traz um sentimento de competência. As pessoas com deficiência têm potencialidades parecidas, quando você as junta, elas encontram várias coisas em comum. Assim, acabam criando grupos e entram em um processo de identificação”.

A Bailacci oferece as aulas de danças livres há mais de um ano, apenas na sede da Asa Sul. Já no Lago Norte atendem ao público também com aulas de dança terapia. Cada aula tem duração de 1h30, sem a participação dos pais ou responsáveis, dando maior liberdade aos alunos.

Nayane relata que as aulas não têm nada de atípico, o professor passa uma coreografia simples e os alunos aprendem os movimentos, mas as músicas têm grande importância para a receptividade da classe. “Têm músicas que se o professor não tocar, os alunos ficam bravos. Se não toca Despacito, por exemplo, a reclamação é grande. A mudança para eles é algo que impacta muito. Em outras aulas, como street jazz, o professor traz uma coreografia nova todo dia. Na inclusiva isso é mais lento, porque eles não gostam de mudança. Então, às vezes, o professor apresenta algo novo, mas, em seguida, precisa colocar uma música que eles já conheçam”.

Apresentação


Em 2019, os alunos de danças livres da Bailacci apresentaram os espetáculos Ariel — Os sonhos de uma sereia e O Universo de Tim Burton, nos quais puderam ser protagonistas. “Isso mostra para as pessoas que elas precisam parar de se sabotar, a gente vê muitos dizendo que não têm tempo. Quando assistem uma apresentação de dança inclusiva vêem que estão se prejudicando. Além disso, é possível conscientizar que as pessoas deficientes podem estar em qualquer lugar, inclusive na dança”, pontua Nayane.

“Muitas pessoas com deficiência não têm grandes atividades porque, às vezes, até a família não acredita muito. Com certeza, se apresentar contribui para a autoestima delas. Estar no centro do palco, mostrando sua arte, sendo vista e reconhecida, é assumir o protagonismo de sua própria vida”, finaliza o psicólogo Felipe Medeiro.

*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
 
 
 
 
 

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