Correio Braziliense
postado em 02/04/2020 16:47
O fotógrafo Gabriel Albuquerque, de 22 anos, está acostumado a retratar pistas de corrida repletas de carros em alta velocidade, com pódios, boxes e arquibancadas apinhadas de gente – afinal, além de uma paixão, este é o ganha pão dele, que, com a máquina fotográfica, trabalha para uma equipe automobilística da capital paralelamente ao trabalho em um ministério.
No último domingo, 29 de março, entretanto, ele vivenciou uma experiência bastante diversa daquelas a que está habituado: fotografar as ruas de Brasília completamente desertas esvaziadas pelas restrições de circulação impostas por decretos para conter o avanço do novo coronavírus.
A ideia surgiu logo na primeira semana de quarentena, mas Gabriel demorou um pouco para reunir coragem e pôr o plano em prática. O empurrão necessário veio quando se deparou com uma foto avulsa da Rodoviária do Plano Piloto no Facebook. No sábado, planejou o roteiro, torceu para não chover e, no domingo, saiu do Valparaíso (GO), onde mora, e, a pé, percorreu os principais pontos da cidade, clicando.
“Já estou mais do que acostumado a ir para Brasília todo santo dia para faculdade e trabalho. O deslocamento no final de semana ia ser absolutamente rápido, então não vi problemas nessa jornada. A quarentena já estava me deixando triste por não me deixar fazer a coisa que mais gosto, que é fotografar. Com meu potinho de álcool gel na mochila, tomei todos os cuidados possíveis durante o caminho”, explica o fotógrafo. Veja as fotos aqui.
Deserto atravessado
Deparar-se com a desolação da Rodoviária, por onde milhares de pessoas circulam diariamente em períodos de normalidade, talvez tenha sido o momento mais surpreendente da jornada. “Não vou mentir que, no começo, eu estava um pouco tímido, e, principalmente, preocupado pela minha câmera. Foi assustador ver a rodoviária tão vazia daquele jeito. Mesmo no domingo, em geral, lá tem movimento. Passo lá praticamente todo dia e ver absolutamente tudo fechado foi um pouco tenebroso”, relata.
Nos demais locais visitados por Gabriel — alguns que já estavam no roteiro original e outros que surgiram no caminho, como a Torre de TV —, ele diz ter sido mais tranquilo. “A timidez foi só na Rodoviária, que era o local onde tinha algumas pessoas passando. Às vezes elas se assustam quando olham uma câmera fotográfica na mão de uma pessoa. Lá onde era o local onde eu mais queria fazer fotos, mas eu me soltei rápido”.
De volta ao Valparaíso, selecionou o material e, em cerca de duas horas de edição, o trabalho estava pronto. “Como a quarentena está obrigando a gente a ficar em casa, não tinha muito para onde correr. Tomei um banho, preparei meu café, passei as fotos para o computador e trabalhei as fotos”. “Foi legal olhar o quão bonita nossa cidade é. Às vezes, na correria do dia a dia, a gente não olha para algumas coisas que são tão simples, e ter esse momento mais detalhista, em foto, me deu um novo olhar sobre Brasília”, conclui.
Máquinas velozes
Apaixonado por carros e automotores desde criança, Gabriel Albuquerque apaixonou-se também pela fotografia em 2015, quando teve a oportunidade de brincar com a máquina de um amigo. Em 2016, comprou a primeira câmera e, unindo as duas paixões, começou a praticar, fotografando carros. O hobby começou a render alguns freelancer e, logo, foi contratado por uma equipe que trabalha com trackdays, modalidade automotiva que vem crescendo nos últimos anos.
“Eu amo o ambiente de autódromo, é meu playground, minha válvula de escape principal”, declara o fotógrafo. Aos trancos e barrancos, foi se especializando e profissionalizando. Formalmente, concluiu o curso de enfermagem e, agora, cursa publicidade e propaganda. “Hoje a fotografia, na minha vida, é tudo. Não me vejo longe da minha câmera. Não me vejo sem esse mundo. Fotografar, para mim, é vital”, completa.
Para conferir o trabalho de Gabriel no Instagram: https://www.instagram.com/albuquerque_photo/.
*Estagiário sob supervisão de Adriana Izel
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