Diversão e Arte

Cultura drag encontra mais um cenário: o rock

Interpretada por Nylo Bimbati, Naja White é pioneira na inserção da cultura drag no cenário roqueiro

Correio Braziliense
postado em 05/04/2020 07:19

Interpretada por Nylo Bimbati, Naja White é pioneira na inserção da cultura drag no cenário roqueiro

 

A cultura drag ganhou espaço nos últimos anos na cena pop. No Brasil, com a ascensão de nomes como Pabllo Vittar, Glória Groove e Aretuza Lovi. No mundo, com o sucesso do reality show RuPaul Drag’s Race. Mesmo assim, há espaços em que esse movimento artístico ainda procura se inserir, como o rock, gênero que foi escolhido pela drag queen Naja White para iniciar a carreira musical.


“Vale dizer que já temos muitos artistas LGBTQIA%2b fazendo rock por anos. Porém, quando falamos do mercado musical drag no Brasil, logo pensamos em Pabllo Vittar e Glória Groove. A ideia de quebrar essa expectativa — porque até mesmo o meu produtor musical não esperava que eu fosse fazer rock (risos) — veio da minha verdade. Ou seja, eu precisava fazer algo que realmente tivesse a ver comigo, senão seria apenas mais uma artista tentando se encaixar no mercado fonográfico para conseguir o mínimo de aprovação do público”, explica em entrevista ao Correio.
 

Saiba Mais

 

O primeiro passo de Naja no cenário foi com o lançamento do single O emo tá de volta. Depois lançará um EP desabafEMOS, que terá quatro músicas, ainda a serem lançadas. “O processo é difícil. O rock atinge um público menor, logo os resultados são menores. E pensando nas baladas, em que a maior parte dos DJs tocam pop ou eletrônica, também há uma barreira a ser quebrada, pois é muito difícil se ouvir tocando rock ou pop rock nas festas em que eu normalmente costumo trabalhar — que é também, onde o público LGBTQIA costuma frequentar — as boates”, completa.

Inspiração

A ideia da primeira faixa e do EP, em geral, veio da adolescência de Nylo Bimbati, o intérprete de Naja. “Foi inspirada nas garotas adolescentes do meu colégio, que por sua vez, ouviam bandas emo/rock, usavam roupas e acessórios de uma forma bem leve e natural. Quando eu escrevi O emo tá de volta foi pensando exatamente em mostrar para as pessoas quem eu era como drag queen”, explica.

Essa temática permeará todo o trabalho, tanto nas letras, quanto na sonoridade. “O hardcore é muito nostálgico e sinto que com alguns toques atuais, pode muito bem voltar aos holofotes ou pelo menos às playlists de muita gente que já se identificou com o estilo em algum momento da vida. A música mexe muito com a nossa memória afetiva e a minha intenção com a arte drag é conectar as pessoas com boas lembranças e esses sentimentos todos que, por vez, se refletem na vida adulta também”, afirma.

O primeiro EP de Naja White deve ser lançado no segundo semestre e reunirá canções que são uma espécie de desabafo: “Falarei sobre dramas da ‘vida de adulto’, amores platônicos e frustrações pessoais”. 

 

 

 

Duas perguntas // Naja White

 

Qual é a importância de quebrar essa barreira no rock, um gênero que costuma ser mais restrito?

 

Conversando com várias pessoas do meio LGBTQIA , percebi que o que mais as afastavam do rock era o fato de ele ser, por vezes, machista e exclusivista (se você ouve rock, tem que ser fiel e não pode ouvir outros estilos diferentes). Vale lembrar que até mesmo o emo foi um estilo hostilizado e que sofreu muito preconceito, mesmo de quem curtia rock naquela época. Acredito que ter uma drag queen fazendo isso é algo transgressor, que faz com que essas barreiras impostas demagogicamente caiam por terra. Afinal, eu sou uma drag queen e posso fazer o que eu quiser com a minha arte! Quero que as pessoas se reconectem com o rock, voltem a ouvir e dançar em festas e shows, lembrando que é apenas mais um dos muitos estilos musicais e que a música é para todos.

 

Musicalmente falando, quais artistas lhe inspiram?

 

É legal essa pergunta, porque muita gente pode pensar que eu só ouço rock. E não é bem assim! Musicalmente, muitos artistas me inspiram. Ultimamente, estou ouvindo o novo álbum do Cícero, que é um cantor de MPB. A sensibilidade e letras dele me inspiram demais a refletir sobre os meus sentimentos mais profundos e como transformá-los em música. Mas, pensando no estilo musical que faço, bandas como Blink 182, My Chemical Romance, Linkin Park, Green Day, Sum 41, CPM 22, NX Zero e Pitty são artistas que claramente me influenciam! Mas vale dizer que também ouço Lia Clark, Kika Boom, MahMundi, Madonna, Lady Gaga... O pop e a música eletrônica também me agradam muito! Entendo que música é cultura. E consumir culturas diferentes só nos enriquece por dentro! 

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