Correio Braziliense
postado em 05/04/2020 04:22
A cultura drag ganhou espaço nos últimos anos na cena pop. No Brasil, com a ascensão de nomes como Pabllo Vittar, Glória Groove e Aretuza Lovi. No mundo, com o sucesso do reality show RuPaul Drag’s Race. Mesmo assim, há espaços em que esse movimento artístico ainda procura se inserir, como o rock, gênero que foi escolhido pela drag queen Naja White para iniciar a carreira musical.
“Vale dizer que já temos muitos artistas LGBTQIA+ fazendo rock por anos. Porém, quando falamos do mercado musical drag no Brasil, logo pensamos em Pabllo Vittar e Glória Groove. A ideia de quebrar essa expectativa — porque até mesmo o meu produtor musical não esperava que eu fosse fazer rock (risos) — veio da minha verdade. Ou seja, eu precisava fazer algo que realmente tivesse a ver comigo, senão seria apenas mais uma artista tentando se encaixar no mercado fonográfico para conseguir o mínimo de aprovação do público”, explica em entrevista ao Correio.
O primeiro passo de Naja no cenário foi com o lançamento do single O emo tá de volta, que fará parte do EP desabafEMOS, que terá outras três músicas, ainda a serem lançadas. “O processo é difícil. O rock atinge um público menor, logo os resultados são menores. E pensando nas baladas, em que a maior parte dos DJs tocam pop ou eletrônica, também há uma barreira a ser quebrada, pois é muito difícil se ouvir tocando rock ou pop rock nas festas em que eu normalmente costumo trabalhar — que é também, onde o público LGBTQIA costuma frequentar — as boates”, completa.
Inspiração
A ideia da primeira faixa e do EP, em geral, veio da adolescência de Nylo Bimbati, o intérprete de Naja. “Foi inspirada nas garotas adolescentes do meu colégio, que por sua vez, ouviam bandas emo/rock, usavam roupas e acessórios de uma forma bem leve e natural. Quando eu escrevi O emo tá de volta foi pensando exatamente em mostrar para as pessoas quem eu era como drag queen”, explica.
Essa temática permeará todo o trabalho, tanto nas letras, quanto na sonoridade. “O hardcore é muito nostálgico e sinto que com alguns toques atuais, pode muito bem voltar aos holofotes ou pelo menos às playlists de muita gente que já se identificou com o estilo em algum momento da vida. A música mexe muito com a nossa memória afetiva e a minha intenção com a arte drag é conectar as pessoas com boas lembranças e esses sentimentos todos que, por vez, se refletem na vida adulta também”, afirma.
O primeiro EP de Naja White deve ser lançado no segundo semestre e reunirá canções que são uma espécie de desabafo: “Falarei sobre dramas da ‘vida de adulto’, amores platônicos e frustrações pessoais”.
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