Diversão e Arte

Repertório do sambista paulista Geraldo Filme é celebrado em CD

'Tio Gê' contou com 20 cantoras brasileiras revisitando as canções do artista, entre elas, Ellen Oléria

Correio Braziliense
postado em 10/04/2020 06:05
No disco, faixas do cancioneiro de Geraldo Filme e poemas que narram a história do artista
Em 2020, completam-se 25 anos da morte do sambista Geraldo Filme de Souza. Ao longo dos 67 anos de vida, o cantor e compositor fez questão de ser um símbolo de resistência, seja do samba paulista — muitas vezes renegado pelo carioca —, seja no movimento negro. Tudo isso por meio da música. Esse legado, por vezes esquecido, ganhou nova memória com o lançamento do álbum Tio Gê — O samba paulista de Geraldo Filme, produzido pelo Selo Sesc com idealização de Fernando Cardoso.

Tio Gê é um sonho que nasceu de um encontro inesperado e um verdadeiro encantamento: quando a cantora Fabiana Cozza subiu ao palco do teatro do Sesc Santana e interpretou alguns sambas de Geraldo Filme, posso dizer que o que senti foi amor à ‘primeira ouvida’. Pouco tempo depois produzi uma série de shows chamada Palavra de paulista e convidei a cantora Virgínia Rosa para uma apresentação inteiramente dedica a ele. À medida que eu pesquisava o repertório e a vida do compositor, a curiosidade de quem, até então, conhecia apenas superficialmente seu trabalho foi se transformando em respeito e admiração”, explica Fernando Cardoso no encarte do disco físico sobre o que o motivou a criar o álbum.

Saiba Mais

Com a ideia em mente, ele convidou 20 cantoras brasileiras de diferentes gerações, algumas ligadas ao samba, outras de outros ritmos, para revisitar o repertório do sambista: Graça Braga (Que gente é essa), Leci Brandão (Eu vou mostrar), Cleide Queiroz (Tebas), Amanda Maria (São Paulo menino grande), Eliana Pittman (Samba da Barra Funda/Último sambista/Lava-pés), Teresa Cristina (Garoto de pobre), Áurea Martins (Cravo vermelho), Rosa Maria Colin (Amigo), Ellen Oléria (O luxo da cidade), Xênia França (Anúncio), Maria Alcina (Baiano capoeira), Graça Cunha (História da capoeira), Clarianas (Tradições e festas de Pirapora), Sandra de Sá (Tradição (Vai no Bexiga pra ver), Paula Lima (Vá cuidar da sua vida), Lady Zu (Balançar), Alaíde Costa (Silêncio no Bexiga), Fabiana Cozza (A morte de Chico Preto), Virgínia Rosa (Batuque de Pirapora) e Luciah Helena (Reencarnação).

Seleção


“Fiquei muito feliz que lembraram de mim na hora da seleção. O diretor musical comentou que logo que ouviram o arranjo de O luxo da cidade pensarem em mim. Tem uma pegada que brinca um pouco com a soul music, que tem muito a ver com a minha trajetória e minha identidade musical”, afirma Ellen Oléria em entrevista ao Correio. A brasiliense ficou responsável por revisitar uma das canções românticas do repertório de Geraldo Filme, que, também ficou mais conhecido pelas letras que valorizavam o negro e o samba paulista.

A brasiliense Ellen Oléria foi uma das artistas escolhidas para revisitar o repertório de Geraldo Filme em disco comemorativo

“O trabalho do Geraldo e de todas as mulheres do projeto mostram isso: a cultura negra. A gente se encontra todos nesse contexto, que é algo que celebra a nossa existência e nossa identidade. Meu trabalho sempre foi muito atravessado pela afro diáspora”, comenta a cantora sobre as similares entre ela e as demais cantoras com o sambista.

Mescladas as 20 faixas estão seis textos narrados por Aílton Graça, Sidney Santiago Kuanza e João Acaiabe, que contam a história pouco conhecida de Geraldo Filme. “Acredito muito que a música tem o poder de atravessar o tempo, de desconstruir e diluir fronteiras. Acho que Geraldo se aproxima desse universo, de uma identidade cultural étnica e racial. Ele estava cantando e conta uma história de um povo, de uma maneira tão poética. Acho que ele fez um arquivo do nosso país”, completa Ellen.

Tio Gê — O samba paulista de Geraldo Filme
Vários artistas. Selo Sesc, 26 músicas. Disponível nas plataformas digitais.

Confira trechos de sambas de Geraldo Filme


Que gente é essa
“É o canto negro, senhor/ É o povo negro, senhor É a liberdade, senhor/ Que gente é essa de pé no chão/ Que tem no canto sua forma de expressão/ Cantou na travessia o seu triste lamento/ Para amenizar tanta dor e sofrimento/ Que canto lindo na plantação”

Tebas
“Tebas, negro escravo/ Profissão alvenaria/ Construí a velha Sé/ Em troca pela carta de alforria/ Trinta mil ducados que lhe deu padre Justino/ Tornou seu sonho realidade/ Daí surgiu a velha Sé/ Que hoje é marco zero da cidade/ Exaltar no cantar de minha gente/ À sua lenda, seu passado, seu presente/ Praça que nasceu do ideal/ E braço escravo”

Garoto de pobre
“Garoto de pobre/ Só pode estudar em escola de samba/ Ou ficar pelas ruas, jogado ao léu/ Implorando a bondade dos homens/ Aguardando a justiça do céu/ Seu lápis é sua baqueta/ Que bate o seu tamborim/ Ninguém olha este coitado/ Senhor qual será o seu fim?”

Vá cuidar da sua vida
“Crioulo cantando samba/ Era coisa feia/ Esse nego é vagabundo/ Joga ele na cadeia/ Hoje o branco tá no samba/ Quero ver como é que fica/ Todo mundo bate palmas/ Quando ele toca a cuíca”


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