Diversão e Arte

MAB sob lente de aumento em pesquisa de arquiteta

Pesquisa de arquiteta recupera todas as fases do prédio que hoje abriga o Museu de Arte de Brasília

Correio Braziliense
postado em 25/04/2020 08:16
Pesquisa de arquiteta recupera todas as fases do prédio que hoje abriga o Museu de Arte de Brasília





A arquiteta Maíra Oliveira Guimarães nunca chegou a ver o Museu de Arte de Brasília (MAB) funcionando. Quando começou a pesquisar sobre o prédio, em 2015, ele já estava fechado, interditado por não ter condições de abrigar nem obras de arte, nem público. Agora, Maíra quer saber toda a história do edifício cuja origem é uma das mais misteriosas da região onde está, no Setor de Hotéis de Turismo Norte.

Maíra, que é pesquisadora do doutorado da Universidade de Brasília (UnB), identificou que havia uma dificuldade muito grande em saber a história do prédio durante as últimas décadas. Ele teria sido construído entre 1960 e 1961 para ser um anexo do Hotel Brasília Palace, que recebia as personalidades que visitavam a capital nos primeiros anos de existência. Abrigava funcionários e hóspedes menos importantes durante os trabalhos de construção da cidade.

Aquela região, era, de forma geral, muito movimentada. Naquele início de década de 1960, milhares de servidores públicos foram transferidos do Rio de Janeiro e muitos se hospedavam por ali antes de ir para um apartamento. Para atender à demanda, surgiram muitos estabelecimentos comerciais, como a Churrascaria do Lago. A Concha Acústica se tornou o local das festas e o restaurante do anexo do Brasília Palace, um ponto de encontro: de dia, havia o bar e, à noite, a boate. Até o concurso de Miss Brasília de 1961 foi realizado ali.
 

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Fôlego

No entanto, à medida que a cidade se desenvolveu, o movimento na região diminuiu e, até 1966, o prédio ficou abandonado. Foi em maio daquele ano que ele ganhou vida novamente, quando foi transformado em Clube das Forças Armadas e passou a abrigar eventos sociais e bailes de debutantes, além de sessões de cinema. Em 1973, sob administração da Novacap, o destino do prédio começou a mudar. Festas e shows eram organizados no local por meio de editais e o anexo acabou conhecido como Casarão do Samba. No entanto, a acúsitca não ajudava e, depois de alguns eventos comandados por gente como Penambuco do Pandeiro, e depois do incêndio do Brasília Palace, em 1978, veio o abandono novamente. É em 1985 que começa a trajetória do edifício como Museu de Arte de Brasília (MAB).

Inaugurado em 1985, o museu contou com um trabalho minucioso da gravurista Leda Watson para identificar o que havia de obras espalhadas por órgãos públicos e outros locais de Brasília. Na inauguração, cerca de 200 obras de nomes como Tomie Ohtake, Arcangelo Ianelli, Rubem Valentim e Glênio Bianchetti estavam entre esse início de acervo.

Para Maíra, reunir todas essas informações toi um trabalho de formiguinha. “Meu percurso de estudo é em patrimônio arquitetônico. Comecei a pesquisar em 2015 e desde lá vi a dificuldade que era. O prédio tinha sido construído para ser anexo do Brasília Palace. Foi uma informação muito difícil de costurar ao longo da pesquisa”, conta. “Em vários lugares se falava que tinha sido construído para ser das Forças Armadas, havia informações desconexas, que atrapalhavam, que se contradiziam. Essa falta de registro, associo bastante a uma certa história oficial que se conta de Brasília.”



Dificuldades

Para a pesquisadora, as histórias do Brasília Palace e do Palácio de Alvorada são sempre rememoradas porque são considerados monumentos da cidade. Como o restaurante e o anexo recebiam visitantes menos ilustres, acabaram por cair no esquecimento e há poucos registros do patrimônio em arquivos. “Foi grande a dificuldade em encontrar registros, fotografias e notícias. Uma ajuda grande foi o acervo do arquivo nacional do Rio de Janeiro, que tem muito jornal da época. Ali consegui comprovar que era um anexo, um hotel e que tinha um restaurante. Foi um trabalho de acero extenso, mas muito emocionante ao mesmo tempo.”

Maíra chamou a pesquisa de Antes arte do que tarde: o Museu de Arte de Brasília desde o anexo do Brasília Palace Hotel. Agora, ela dá início a uma fase de resgate visual. A pesquisadora, que chegou a entrevistar o arquiteto responsável pela construção, encontrou poucos registros de imagens do prédio. Ela espera que, a partir de um apelo nas redes sociais, consiga que pioneiros e habitantes da cidade mandem fotografias de vários momentos do anexo ao longo dos 60 anos de Brasília.

Apesar das informações muito dispersas, poder ter uma visualização do prédio ao longo dos anos fez muita diferença para a pesquisa. “Um material que mudou muito a visualização desse prédio foi ter encontrado foto do Marcel Gautherot”, conta. O fotógrafo foi contratado por Oscar Niemeyer para realizar registros da capital durante e logo após a construção. As imagens de Gautherot estão entre as mais importantes da história da cidade. “Ele registrava monumentos. Foi um divisor de águas, uma comprovação visual. É diferente de quando você só fala”, conta. Com esses registros, Maira espera dar um lugar de importância a esse patrimônio e inseri-lo na historiografia de Brasília. Hoje, o MAB está em processo de reforma e ainda sem data para reabrir.
 
 
 
 



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