Correio Braziliense
postado em 30/04/2020 08:37
As graves consequências da pandemia estão criando mudanças em estruturas tradicionais da cultura. O distanciamento social alterou todo calendário do cinema mundial e fechou salas em todo o globo. Por causa dessa situação imposta à indústria cinematográfica, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas decidiu que, na próxima edição do Oscar, serão permitidos filmes que estrearam apenas em serviços de streaming, uma mudança significativa para os padrões da premiação.
Na regra original, qualquer filme que tenha a intenção de concorrer às principais estatuetas precisa estrear em um cinema em Los Angeles e passar sete dias em cartaz. Com a nova regulamentação, filmes que estrearam no streaming poderão entrar em disputa desde que passem por todos os trâmites e sejam disponibilizados em até 60 dias em uma plataforma exclusiva para que os votantes assistam às produções. As novas normas também valem para lançamentos exclusivos em DVD e pay-per-view, ou seja, todos da classificação chamada video on-demand.
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A princípio, esta mudança específica no Oscar é temporária. As salas de cinema permanecerão fechadas por mais algum tempo seguindo as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) de evitar aglomerações para diminuir a disseminação do novo coronavírus. Assim, a intenção da Academia é deixar esta nova regra apenas para esta edição da premiação e filmes lançados após a reabertura dos cinemas terão que voltar a passar pelo processo original para se tornarem elegíveis.
Para o cineasta e especialista no mercado cinematográfico pela Fundação Getulio Vargas (FGV) Marcus Ligocki essa era uma medida inevitável e o Oscar ainda preza pela experiência que só pode ser alcançada em salas escuras com várias pessoas e uma tela grande com imagem e som de qualidade. “É interessante ver os pilares da indústria cinematográfica se movimentando para se adaptar tão rapidamente à situação”, afirma o produtor e diretor que trabalhou em filmes como O último Cine Drive-in e Uma loucura de mulher.
“São tempos difíceis para o cinema. Há um impacto muito grande na produção, exibição e na indústria cinematográfica como um todo. Algumas produtoras sairão de cena com este processo de crise”, explica o cineasta. “A expectativa ainda é baixa para a volta dos frequentadores do cinema, os estudos mais otimistas apontam a normalidade para o fim do ano”, observa o especialista.
Contudo, o produtor e diretor aponta para o lado das oportunidades que podem ser geradas pela situação. “O caso do Oscar, além de festivais como Cannes e Berlim que acontecerão de forma on-line, aponta para uma diminuição da burocracia e um maior acesso ao cinema”, diz. Marcus Ligocki pontua que a situação possa ser um ponto de virada na indústria cinmatográfica. “A minha aposta é que esta mudança vem para ficar. Pois promove alargamento do acesso, diálogo com realizadores, novas perspectivas e linguagens a tona. Ainda é cedo para falar, mas quando algo é ampliado para melhor, é muito difícil que se volte atrás para um mundo mais reduzido”, e ainda completa “é uma chance do Oscar lidar com os problemas de popularidade que vinha tendo”.
Um novo Oscar
Junto com a regra temporária, a Academia anunciou a união das categorias Melhor Mixagem Som e Melhor Edição de Som em uma única indicação de Melhor Som. Aspectos técnicos da categoria Melhor Canção Original foram alterados. Por fim, anunciou que todos os membros da Academia participaram da escolha dos pré-indicados, indicados e vencedores na categoria Melhor Filme Estrangeiro, a votação antigamente só era aberta para a todos os votantes na fase final de escolha do filme vencedor.
*Estagiário sob supervisão de Igor Silveira
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