Diversão e Arte

O diabo do rock'n roll

Little Richard morreu em Nashville, aos 87 anos, em consequência de um câncer. O artista é considerado o pai do rock e influenciou todas as gerações de roqueiros dos anos 1950 para cá

Correio Braziliense
postado em 10/05/2020 04:19
Do cabelo e da maquiagem aos trejeitos com os quadris, Richards fazia de cada performance um acontecimento

Um dos nomes mais importantes da música popular no século 20, Little Richard morreu ontem, aos 87 anos. A informação foi confirmada pelo seu filho, Danny Penniman, à revista americana Rolling Stone. Dick Allen, o agente do cantor e compositor também confirmou a morte em uma declaração e explicou: “Little Richard morreu nesta manhã de câncer no osso, em Nashville”.

Nascido em Macon, no estado da Georgia (Estados Unidos), em 1932, há muito o artista sofria com problemas de saúde, como um derrame, um infarto e disfunções nos quadris. Segundo o agente, ele vinha sofrendo há anos, mas nunca dava detalhes e só explicava que não estava muito bem.Desde os anos 1950, Little Richard era a voz de diversos sucessos do rock and roll, como Tutti Frutti, Long tall Sally, Lucille e Good Golly, Miss Molly, entre diversos outros.

A carreira começou nos anos 1940, mas as primeiras gravações fizeram pouquíssimo sucesso. Somente em 1955, quando assinou contrato com a gravadora Specialty Records, o nome de Richards ganhou as rádios, as festas e os palcos do mundo com a inconfundível sequência “a-wop-bop-a-loo-bop-a-lop-bam-boom”, de Tutti frutti. Ao mesmo tempo influenciado pelo gospel e pelo blues, de personalidade explosiva e uma habilidade única ao piano, Richard é hoje considerado um dos pais do rock´n´roll como o conhecemos, e suas músicas se tornaram parte do cânone do gênero pelas gerações seguintes. Além dos acordes impulsivos ao piano, Richard cultivava um personagem que influenciou gerações. Com os olhos marcados por delineador e rímel, o corte de cabelo estilo pompadour e os gritinhos que marcavam suas performances, ele deixou um rastro na história do rock.

É possível reconhecer aí de Prince a Robert Plant, de Mick Jagger a Bryan Ferry, com Elvis Presley incluído: todos foram impactados por Richard. Até os Beatles tocaram músicas de Little Richard. Em entrevista ao The Guardian, Paul McCartney contou que era capaz de reproduzir a voz do roqueiro, uma voz “selvagem, rouca”. “É como uma experiência fora do corpo”, disse McCartney. “Você tem que deixar de lado suas sensibilidades e colocar um pé acima da cabeça para cantar como ele. Você tem que, na verdade, sair de você mesmo.”

No Twitter, Mick Jagger, vocalista do The Rolling Stones, publicou uma nota na qual conta que Richards foi a maior inspiração de sua adolescência e que as músicas do artistas são tão eletrizantes hoje quanto eram nos anos 1950. “Quando estávamos em turnê com ele eu ficava assistindo  aseus movimentos toda noite e aprendia com ele como entreter e envolver a plateia e ele era sempre muito generoso em dar conselhos. Ele contribuiu tanto para a música popular”, escreveu Jagger.

Richard também era conhecido por sua pansexualidade  e, diz a lenda que, originalmente,  Tutti frutti descrevia momentos de sexo anal.  Durante o fim da vida, ele teria lutado com o dilema entre o que era considerado “música do diabo”, eterna pecha do rock´n´roll, e a devoção religiosa. Na adolescência, o artista já brincava com maquiagens e experimentava a sexualidade de todas as formas. Ao fim  dos anos de 1950 e até 1962, Richard  se tornaria pastor evangélico, seguindo a tradição do avô e de dois tios.

No cinema, o músico integrou elenco de filmes que estenderam o alcance do rock, como Música alucinante (1956), de Fred F. Sears. Uma das últimas aparições foi registrada há 20 anos no programa comandado por Jay Leno. Na telona, ele teve papel de destaque numa fita de Arnold Schwarzenegger de 1993: O último grande herói. Ícone da cultura pop, marcou presença ainda nas séries de tevê S.O.S. Malibu (1995) e em Miami Vice (1985). Entoando The girl can´t help it, à época de meados dos anos de 1950, ele ainda eternizou o sucesso no filme homônimo estrelado por Jayne Mansfield.





No Brasil
Pioneiro do rock, Little Richard esteve no Brasil pela primeira vez em 1993, quando foi uma das atrações da 8ª edição do Free Jazz Festival, evento que ocorreu no teatro do Hotel Nacional, em São Conrado (RJ). Um dos primeiros artistas norte-americanos a assumir a homossexualidade, durante o show, ele tocou piano e, ao cantar, rebolava e se esfregava no microfone, performance que fazia parte de suas apresentações. Do repertório, fizeram parte músicas que se tornaram clássicos, como Keep A-knockin’, Long tal Sally e, claro Tutti frutti, a mais marcante de sua carreira. Na mesma noite, subiu ao palco outra lenda do rock: Chuck Berry. No final da programação houve uma homenagem a Tom Jobim, comandada pelo contrabaixista Ron Carter, do qual tomaram parte Herbie Hancock, Jon Hendricks, Joe Henderson, Gonzalo Rubacalba, Paulinho Jobim (filho do compositor) e Gal Costa. Em 1997, Little Richard voltou ao Brasil e se apresentou na casa de espetáculos Olímpia, em São Paulo. (Irlam Rocha Lima)


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