Diversão e Arte

Pensando na volta

Produtores culturais falam sobre os problemas criados pela pandemia, mas também contam como está o planejamento para o retorno das atividades no segmento


Shows, concertos e espetáculos musicais em geral, que costumam reunir plateias expressivas, estão alinhados entre os últimos eventos a serem liberados pelas autoridades da área de saúde, em função da covid-19. Com as atividades paralisadas, produtores brasilienses  se empenham na busca de alternativas para contornar a crise que vêm enfrentando, motivada pelo cancelamento ou adiamento de projetos.

Os prejuízos inevitáveis em decorrência da impossibilidade de desenvolverem qualquer programação, também atingem os empregos diretos e indiretos criados em cada projeto. Nenhum deles, porém, cogita encerrar a atuação nesse segmento. Ao contrário, todos apostam as fichas em futuras ações, tão logo o coronavírus dê trégua. Há quem, sensível às dificuldades enfrentadas por profissionais de apoio — parte mais carente dessa cadeia de produção — vem buscando mitigar os efeitos dessa situação. Em relatos ao Correio, todos contaram o que têm feito e as perspectivas pós-pandemia.


Aci Carvalho (Aci Eventos) 
 “Com a paralisação das atividades artísticas, em decorrência do coronavírus, nossa receita foi a zero. Esse impacto fez com que deixássemos de faturar
R$ 3 milhões. Com isso, mais de mil empregos temporários deixaram de ser gerados. Tínhamos marcado para 21 de abril o Samba Prime, no Ginásio Nelson, com Dilsinho, Ferrugem, Sorriso Maroto, Di Propósito e Menos é Mais, que ficou para 8 de novembro. O Encontro, que reúne Léo Santana, Harmonia do Samba e Parangolé, que ocorreria em 9 de maio, foi adiado para 27 de setembro, também no Nilson Nelson. O show do Roupa Nova, que seria no dia 15 de maio, ainda não tem data para ser realizado. Em parceria com a TV Brasília, produziremos lives com Pedro Paulo & Matheus, no dia 16; e de Rick & Rangel, no dia 21.”


Wilson Kontoyanis (R2) 
 “É a pior situação empresarial que vivemos nos 15 anos do nosso negócio. Infelizmente, tivemos que desmobilizar parte da equipe e isso seria algo impensável meses atrás. A festa Surreal havia sido adiada para maio de 2021, antes mesmo da pandemia. Os prejuízos imediatos foram o cancelamento de três eventos que ocorreriam em maio e junho. O planejamento do Na Praia continua sendo feito com projetos arquitetônicos e cenográficos, prospecção comercial e contratações artísticas. Mas tomamos algumas atitudes justamente para preservar nosso público. A abertura de vendas, que há cinco anos ocorria na primeira semana de maio, foi adiada. Estamos buscando o calendário possível, frente a situação que vivemos. Fome de Música é um projeto que estávamos planejando há quase dois anos e, pela urgência do momento que vivemos, resolvemos tirá-lo do papel e adaptar o modelo de doação de alimentos presencial (concessão de meia entrada em troca de 1kg de alimento) para o modelo virtual nas lives de Léo Santana, DJ Dennis e Sandy & Junior, entre outros. A R2 foi responsável pela produção da live de Jorge & Mateus. Viramos efetivamente uma plataforma de arrecadação de alimentos. Oferecemos mais de 6,5 milhões de refeições. Nossa ideia é criar experiências diferentes para o público e para as marcas que apoiam esse projeto.”


Pedro Batista (Influenza Produções) 
“Como somos uma empresa que trabalha com eventos nos quais há aglomeração de pessoas, tivemos a cautela de nos adaptar à nova realidade. Nas conversas que vamos mantendo, há a busca de ações inovadoras. Em 10 anos de atuação, a Influenza tem realizado projetos reconhecidamente importantes, entre eles os festivais CoMa e Melanina, o Bud Basement e o Pavilhão Luz, que na primeira edição em 2019, no porão do Estádio Nacional Mané Garrincha, com a participação de Ludmilla, IZA, Ferrugem, Rael, entre outros. Nossa meta principal para este ano, o Pavilhão Luz, um projeto itinerante, será levado para outro espaço com o intuito de ressignificar e iluminar outros pontos da cidade. A princípio, a realização será entre novembro e dezembro. Mesmo tendo prejuízo inevitável, não houve demissão e mantivemos a equipe de 23 integrantes. Tivemos influência na ampliação de lives, como a de Alok, com o trabalho que realizamos como agência. Estamos também ajudando movimentos de suporte no setor do entretenimento, como o Backstage Brasília”.


Marcelo Piano (Upiano Entretenimento) 
“Com atuação na área do entretenimento há 35 anos, estamos vivendo o pior momento. Mas, para quem promoveu a Micarecandanga por 15 anos; o Green Move por oito; shows que marcaram época, como os de Shakira, Lenny Kravitz e Roberto Carlos, em diferentes épocas, não é agora que vamos esmorecer. Assim que a pandemia passar, voltaremos com as nossas produções. Tínhamos programado o Festival Micarê, na área externa do Ginásio Nilson Nelson, para o dia 25 deste mês, que foi adiado para maio de 2021. O show Este amor sem preconceito, de Nando Reis, com a participação de Arnaldo Antunes, remarcaremos para outra data; assim como o de Caetano Veloso e Ivan Sacerdote; Capital Inicial acústico; além do musical de Cláudia Raia, todos previstos para o auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Tivemos o cuidado de distribuir cestas básicas para profissionais que têm trabalhado com nossa produtora, como montadores, motoristas, pessoal de bilheteria, portaria, limpeza.”


João Maione (Oh! Artes) 
“Ao longo de 13 anos de atividade, produzimos espetáculos de grandes artistas nacionais e internacionais, que emocionaram os brasilienses, como Tribalistas, Maroon 5 e Sandy e Junior, no Estádio Mané Garrincha; Los Hermanos, Novos Baianos, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, no Ginásio Nilson Nelson; Gilberto Gil, Maria Bethânia e Zeca Pagodinho, Paulinho da Viola e Marisa Monte, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Havia a possibilidade de realizarmos neste ano, um número de shows semelhante ao da temporada de 2019, algo em torno de 20. Mas o nosso setor foi o primeiro a parar e será o último e retomar as atividades, o que gerou prejuízo incalculável. Para compensar, em parte, criei, em parceria com o Banco de Brasília, o projeto BRB Play, em comemoração aos 60 anos da cidade. Foi um festival com apresentações, pelas plataformas digitais, de Zélia Duncan, Nando Reis, Dinho Ouro Preto, Oswaldo Montenegro, Hamilton de Holanda, Digão dos Raimundos, Plebe Rude e Scalene. Além de gerar trabalho para esses artistas e a equipe de 200 pessoas, proporcionamos entretenimento para o público, com ótimo retorno de audiência. Tenho buscado atender a pessoas que trabalham com a Oh! Arte, de forma concreta nesse período tão difícil, principalmente para os de menor poder aquisitivo.”


Pedro Caetano (Funn Entretenimento)
“A pandemia nos trouxe prejuízo tanto financeiro quanto psicológico. Atuando há cinco anos em Brasília, realizamos mais de 100 eventos, entre eles, o Samba Brasília, Tardezinha e o Funn Festival. A 4ª edição do Funn Festival iniciaria em 8 de maio, mas foi adiada e ainda não sabemos para quando. Investimos quase R$ 3 milhões e agora estamos tentando remarcar datas com os artistas. Entre os que havíamos acertado estão Elba Ramalho, Gusttavo Lima, Thiaguinho e Bruno & Marrone. Teríamos também uma atração internacional, o grupo Sublime. É um trabalho de meses e meses que foi interrompido, trazendo, economicamente, sérios problemas não só para a Funn, mas também para toda uma cadeia de profissionais, incluindo parte técnica, segurança, bares, limpeza.”