Correio Braziliense
postado em 06/06/2020 06:01
Pessoa de muita crença, Alcione tem feito preces para que Deus retire a covid-19 do planeta. Aos 72 anos, mesmo mantendo-se em casa, guardando o necessário distanciamento social, a cantora maranhense está em plena atividade. . Perguntada sobre o assunto, a artista preferiu não se pronunciar) e acaba de lançar Tijolo por tijolo, o 42º disco, em 48 anos de trajetória artística — o primeiro de músicas inéditas, depois de sete anos. Nesse projeto, voltou a gravar compositores com presenças frequentes em seu trabalho e outros cuja assinatura aparece pela primeira vez.
Diva da MPB, com carreira internacional, embora seja reverenciada como sambista, ela é uma intérprete eclética, que transita com familiaridade pela canção romântica, bolero e ritmos nordestinos. Amiga do roqueiro Axl Rose e apreciada pelo rapper Snoop Dogg, a mangueirense também é pop. No segundo semestre — desde que a pandemia cesse — chega às telas de cinema um documentário intitulado Eu sou Marrom. Há, ainda, a possibilidade de ser homenageada no teatro com um musical, a ser dirigido por Miguel Falabella.
Tijolo por tijolo, produzido por Alexandre Menezes, com arranjos de Jorge Cardoso, Prateado e Zé Américo Barrros, reúne 14 faixas, compostas especialmente para Alcione, teve os singles Fascínio (Paulinho Rezende e Toninho Geraes), Alto conceito (Fred Camacho e Leandro Fab) e a música título (Serginho Meriti e Claudemir) lançados em março. O álbum está disponível nas plataformas digitais.
Entre as músicas, estão o samba Lado a lado (Arlindo Cruz e Marcelinho Moreira e Rogê), o samba de roda em homenagem a Santo Amaro da Purificação (Edil Pacheco e Walmir Lima); Lençois (Zé Américo e Salgado Maranhão), que fala sobre um romance fictício vivenciado no cenário turístico dos Lençóis Maranhenses; e O homem de Três Corações (Altay Veloso e Paulo César Feital), uma celebração a Pelé. Há ainda, Meu universo a parceria de Zeppa e Jorge Vercillo, compositor que a cantora grava pela primeira vez. Confira entrevista exclusiva de Marrom ao Correio, em que fala, entre outros assuntos, de música e protestos antirracistas.
Tijolo por tijolo
CD de inéditas de Alcione. Biscoito Fino, 14 faixas.
Disponível nas plataformas digitais e à venda,
no formato físico, pelo site www.biscoitofino.com.br.
>> Entrevista // Alcione
Entre Eterna alegria, de 2013 e o novo disco de inéditas houve um hiato de sete anos. O que foi determinante para isso?
Fiz vários projetos que incluíam hits e outros temáticos, como o DVD Boleros. Mas os compositores me perguntavam e os fãs estavam ansiosos por um CD com canções inéditas. Aí, vi que havia chegado a hora de realizar esse trabalho.
Além de ser o título de uma das faixas, o que a levou a dar ao álbum o nome de Tijolo por tijolo?
Tijolo por tijolo. Foi assim que construí minha carreira. Desde o início, optei pela construção de uma trajetória. Jamais pensei em ser apenas uma cantora de sucesso. Talvez, por isso, tenha conquistado a tal longevidade.
Foi difícil definir o repertório com tantas músicas para escolher?
Nossa, foi uma pedreira. Muita coisa boa ficou de fora, embora possa entrar em outros discos. O Brasil é um celeiro de bambas, de compositores de altíssima qualidade. Foi difícil fechar um repertório depois de ouvir tantas músicas lindas que me foram enviadas.
Sambas variados, canções românticas e homenagens. Esse disco pode deve ser visto como eclético?
Nunca gostei de me fechar em caixinhas. Sempre fui eclética e gosto de cantar o que me emociona. Não escolho um repertório por nomes famosos ou vislumbrando o que está em alta ou na moda. Canto samba, samba de roda, samba-canção, música romântica, bolero, xote, forró... Desde que me arrepie. Tijolo por tijolo é um mosaico e traz algumas dessas minhas predileções musicais. O disco é um passeio pelo Brasil.
No repertório, há homenagens a Pelé, Mangueira e
Santo Amaro. omo as músicas a levaram a essas reverências?
O homem de Três corações, de Altay Veloso e Paulo César Feital, me possibilitou homenagear o grande Pelé, o maior atleta do século. Em Barco que navega malandro, não navega mané, de Serginho Meriti e Claudemir, traz uma visão abrangente da comunidade, do que é a minha Mangueira. Já Santo Amaro é uma flor, dos baianos Edil Pacheco e Walmir Lima, não poderia faltar nesse trabalho. É um samba de roda que fala de uma festança em Santo Amaro e de Dona Canô. Santo Amaro é um lugar mágico, que pertence a Caetano e a Bethânia, e da qual faço parte.
Como analisa as manifestações e ações antirracistas
ocorridas recentemente no Brasil e nos Estados Unidos?
Depois de séculos de escravidão, discriminação e tantos preconceitos, resta-nos à indignação. E ainda não estou fazendo vestibular pra santa! O mundo inteiro parece estar enlouquecendo. A que ponto chegamos! Como pode, por exemplo, policiais que deveriam estar ali para protegerem as pessoas assassinarem um negro sem sequer importarem-se com filmagens? O que faz a impunidade! Não nasci com marca de chicote nas costas, gosto de respeito. Comigo e com os meus... Isso inclui negros, brancos, índios... Nossos tons de pele, idiomas e culturas são diferentes, mas nossos corações e nosso sangue sempre terão a mesma cor.
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