Diversão e Arte

Alcione: 'Tijolo por tijolo. Foi assim que construí minha carreira'

'Tijolo por tijolo', produzido por Alexandre Menezes, reúne 14 faixas, compostas especialmente para Alcione

Pessoa de muita crença, Alcione tem feito preces para que Deus retire a covid-19 do planeta. Aos 72 anos, mesmo mantendo-se em casa, guardando o necessário distanciamento social, a cantora maranhense está em plena atividade. . Perguntada sobre o assunto, a artista preferiu não se pronunciar) e acaba de lançar Tijolo por tijolo, o 42º disco, em 48 anos de trajetória artística — o primeiro de músicas inéditas, depois de sete anos. Nesse projeto, voltou a gravar compositores com presenças frequentes em seu trabalho e outros cuja assinatura aparece pela primeira vez.

Diva da MPB, com carreira internacional, embora seja reverenciada como sambista, ela é uma intérprete eclética, que transita com familiaridade pela canção romântica, bolero e ritmos nordestinos. Amiga do roqueiro Axl Rose e apreciada pelo rapper Snoop Dogg, a mangueirense também é pop. No segundo semestre — desde que a pandemia cesse — chega às telas de cinema um documentário intitulado Eu sou Marrom. Há, ainda, a possibilidade de ser homenageada no teatro com um musical, a ser dirigido por Miguel Falabella.

Tijolo por tijolo, produzido por Alexandre Menezes, com arranjos de Jorge Cardoso, Prateado e Zé Américo Barrros, reúne 14 faixas, compostas especialmente para Alcione, teve os singles Fascínio (Paulinho Rezende e Toninho Geraes), Alto conceito (Fred Camacho e Leandro Fab) e a música título (Serginho Meriti e Claudemir) lançados em março. O álbum está disponível nas plataformas digitais.

Entre as músicas, estão o samba Lado a lado (Arlindo Cruz e Marcelinho Moreira e Rogê), o samba de roda em homenagem a Santo Amaro da Purificação (Edil Pacheco e Walmir Lima); Lençois (Zé Américo e Salgado Maranhão), que fala sobre um romance fictício vivenciado no cenário turístico dos Lençóis Maranhenses; e O homem de Três Corações (Altay Veloso e Paulo César Feital), uma celebração a Pelé. Há ainda, Meu universo a parceria de Zeppa e Jorge Vercillo, compositor que a cantora grava pela primeira vez. Confira entrevista exclusiva de Marrom ao Correio, em que fala, entre outros assuntos, de música e protestos antirracistas.

 
Tijolo por tijolo
CD de inéditas de Alcione. Biscoito Fino, 14 faixas. 
Disponível nas plataformas digitais e à venda, 
no formato físico, pelo site www.biscoitofino.com.br.

>> Entrevista // Alcione


Entre Eterna alegria, de 2013 e o novo disco de inéditas houve um hiato de sete anos. O que foi determinante para isso?

Fiz vários projetos que incluíam hits e outros temáticos, como o DVD Boleros. Mas os compositores me perguntavam e os fãs estavam ansiosos por um CD com canções inéditas. Aí, vi que havia chegado a hora de realizar esse trabalho.

Além de ser o título de uma das faixas, o que a levou a dar ao álbum o nome de Tijolo por tijolo?

Tijolo por tijolo. Foi assim que construí minha carreira. Desde o início, optei pela construção de uma trajetória. Jamais pensei em ser apenas uma cantora de sucesso. Talvez, por isso, tenha conquistado a tal longevidade.


Foi difícil definir o repertório com tantas músicas para escolher?

Nossa, foi uma pedreira. Muita coisa boa ficou de fora, embora possa entrar em outros discos. O Brasil é um celeiro de bambas, de compositores de altíssima qualidade. Foi difícil fechar um repertório depois de ouvir tantas músicas lindas que me foram enviadas.


Sambas variados, canções românticas e homenagens. Esse disco pode deve ser visto como eclético?

Nunca gostei de me fechar em caixinhas. Sempre fui eclética e gosto de cantar o que me emociona. Não escolho um repertório por nomes famosos ou vislumbrando o que está em alta ou na moda. Canto samba, samba de roda, samba-canção, música romântica, bolero, xote, forró... Desde que me arrepie. Tijolo por tijolo é um mosaico e traz algumas dessas minhas predileções musicais. O disco é um passeio pelo Brasil.

No repertório, há homenagens a Pelé, Mangueira e 
Santo Amaro. omo as músicas a levaram a essas reverências?

O homem de Três corações, de Altay Veloso e Paulo César Feital, me possibilitou homenagear o grande Pelé, o maior atleta do século. Em Barco que navega malandro, não navega mané, de Serginho Meriti e Claudemir, traz uma visão abrangente da comunidade, do que é a minha Mangueira. Já Santo Amaro é uma flor, dos baianos Edil Pacheco e Walmir Lima, não poderia faltar nesse trabalho. É um samba de roda que fala de uma festança em Santo Amaro e de Dona Canô. Santo Amaro é um lugar mágico, que pertence a Caetano e a Bethânia, e da qual faço parte.

Como analisa as manifestações e ações antirracistas 
ocorridas recentemente no Brasil e nos Estados Unidos?

Depois de séculos de escravidão, discriminação e tantos preconceitos, resta-nos à indignação. E ainda não estou fazendo vestibular pra santa! O mundo inteiro parece estar enlouquecendo. A que ponto chegamos! Como pode, por exemplo, policiais que deveriam estar ali para protegerem as pessoas assassinarem um negro sem sequer importarem-se com filmagens? O que faz a impunidade! Não nasci com marca de chicote nas costas, gosto de respeito. Comigo e com os meus... Isso inclui negros, brancos, índios... Nossos tons de pele, idiomas e culturas são diferentes, mas nossos corações e nosso sangue sempre terão a mesma cor.
Biscoito Fino/Divulgação - Capa do disco Tijolo por tijolo de Alcione
Marcos Hermes/Divulgação - Alcione