Correio Braziliense
postado em 15/06/2020 07:40
Numa edição classificada como histórica, o Big brother Brasil 20 coroou a médica Thelma Assis como a grande vencedora. Thelminha, como ficou conhecida a participante na casa, conseguiu quebrar paradigmas dentro e fora do confinamento com atitudes coerentes e engajadas com o movimento feminista e negro. A noite da final emocionou grande parte do Brasil pela representatividade da vitória ao ver uma mulher negra e médica, em meio a uma pandemia que o país ainda passa, tendo lugar de destaque. Essa foi apenas a quarta vez que uma mulher negra venceu o programa, antes Cida (BBB4), Mara Viana (BBB6) e Gleici (BBB18), e ocorreu exatamente um ano depois de uma edição que premiou uma participante que teve comentários racistas e de intolerância religiosa.
Mesmo não sendo uma personalidade do mundo artístico, a vitoriosa tem feito bom uso da projeção. Esteve em campanhas pelas medidas de combate ao novo coronavírus, assumiu um quadro no É de casa em que conversa com médicos e enfermeiros na linha de frente da covid-19 e se posiciona sempre nas redes sociais contra o racismo, inclusive nos últimos casos envolvendo as mortes de Gleorge Floyd por policiais brancos nos EUA, João Pedro também pela polícia em ação no Rio de Janeiro, e, mais recentemente, Miguel após ter sido deixado em um elevador pela patroa da mãe num grande prédio em Pernambuco, além do próprio sofrido em uma live no Instagram, com o qual acionou a justiça. Ao Correio, Thelma Assis fala da vida pós-BBB e do posicionamento que assumiu depois do programa devido ao lugar de fala.
» Entrevista // Thelma Assis
Como avalia a sua participação no BBB?
Foi uma das maiores experiências da minha vida. Avalio de forma positiva, pois consegui mantendo meus princípios e valores, sendo quem eu sou. Sempre fui uma pessoa com muita garra e determinação. Sou grata pelo público ter enxergado essas características e ter me elegido como campeã da edição.
Como tem sido a vida após vencer o programa?
Tenho aproveitado todas as oportunidades que estão surgindo nesse pós-reality e me readaptando a essa nova vida. Venho recebendo uma onda de carinho muito grande e quero retribuir isso também, usando a voz que me foi dada. Tem sido muito especial.
Como foi para você sair do confinamento e se deparar com o Brasil em uma pandemia? Como médica e
hoje pessoa pública acredita que uma das suas funções é ajudar, também, por esse outro meio da comunicação?
Foi um choque! Lá dentro do BBB não tínhamos noção da dimensão em que a pandemia estava. Eu acreditava que sairia da casa e a quarentena teria uma data para acabar. Quando saí é que consegui enxergar a proporção do que estava acontecendo aqui fora. Como médica, acho, sim, importante usar a minha voz para levar informação e conscientizar ainda mais as pessoas. É um momento em que estamos buscando novas informações constantemente e venho conversando com amigos especialistas, para entender tudo o que está acontecendo e poder transmitir isso para as pessoas por meio desse lugar de fala que me foi dado nesse momento. Foi uma forma que encontrei para ajudar também.
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Sua vitória e presença no reality show foi vista como um exemplo de representatividade. Como você enxergou isso quando saiu? Como foi se tornar um modelo para tantas mulheres?
Lá dentro as coisas aconteciam muito naturalmente, então não tinha muita noção da repercussão disso aqui fora. Essa edição abordou temas importantes como o machismo, o racismo e a representatividade. Fico feliz por terem me atribuído essa voz e quero continuar inspirando muitas mulheres e meninas que se inspiram na minha história.
Como você vê esse levante que tem acontecido nos Estados Unidos contra o racismo estrutural do país e que vem tomando força no Brasil?
É triste saber que em pleno século 21 as pessoas ainda são assassinadas por conta da cor da pele. A sociedade civil chegou no limite da tolerância, pois não aguenta mais tanta discriminação e impunidade. É um momento difícil, porém necessário na luta antirracista.
Sei que esse é um momento de incertezas ainda, mas quais são seus planos pós-BBB?
Nesse momento, estou me readaptando à minha vida, estudando e aproveitando todas as oportunidades que tem me aparecido. Quero continuar usando a minha voz, aliada é claro, à minha profissão, que é médica anestesista. Pretendo dar palestras, continuar usando minhas redes sociais e meu canal no YouTube para levar informação, sobretudo nesse momento e assim, que possível, ir voltando para a minha rotina como anestesista, que é o que eu amo.
» Entrevista // Babu Santana
O ator e cantor Babu Santana surpreendeu o público assim que foi anunciado como um dos participantes do BBB20. O motivo é que o artista já tinha um currículo extenso no cinema, além de alguns trabalhos na televisão. Mas Babu entrou no programa com a intenção de colocar um holofote sobre a carreira, muitas vezes invisibilizada. E conseguiu. Mesmo não sendo intitulado o campeão da temporada, o Paizão, como ficou conhecido, conquistou o público e, hoje, colhe os frutos da boa repercussão, estreando um canal no YouTube, com contrato assinado com a Rede Globo e ainda se dedicando à música, lançou, inclusive, na semana passada Morrão, com Papatinho. Ao Correio, ele fala da vida pós-reality e de racismo, pauta que defende há anos. (AI)
Durante o programa você sempre falava muito do desejo de vencer, talvez, porque não imaginasse que teria tantas oportunidades aqui fora. Como foi para você sair e ver que, de certa forma, você também era um campeão?
Eu acredito que me sentir campeão tem muito a ver com o olhar que tenho para minha trajetória, as infinitas e árduas batalhas, e hoje estar aqui. Sou muito grato pela oportunidade de ter estado no programa, que colocou sobre mim uma lente de aumento. E isso é especial, pois minha arte está reverberando mais, minhas falas sendo amplamente disseminadas, entre outras questões que esta visibilidade tem me trazido, algo que sempre quis desde que iniciei minha carreira nas artes. Outra coisa que considero importante mencionar é que ser campeão não tem apenas a ver com chegar, e sim com o percurso. E que percurso!
Você sempre falou dentro e fora da casa da sua luta contra o racismo e da importância de um preto vencer o programa. Para você, qual foi a importância da vitória da Thelma e também da sua boa repercussão lá dentro em meio a essa pauta?
Essas pautas, essas falas, essa forma de me expressar, foi sempre assim. Porque eu sou preto, eu venho dessas raízes, isso é minha existência. Então eu fico feliz por saber que num programa de tamanha audiência, fomos capazes de debater, levantar assuntos como esse, trazer algum conhecimento e, sem dúvidas, muitas reflexões. Ver Thelma vencer, com certeza, é ver os pretos vencerem, se inspirarem, se agigantarem, mas, claro, há muito o que fazer. Nós ainda somos tratados de forma diferente, os olhares ainda discriminam, as falas ainda machucam, as injustiças ainda existem.
Estamos vivendo um momento de manifestações pelas vidas negras. Como você enxerga tudo isso? Qual é a importância desse movimento?
Na verdade, não estamos vivendo este momento, sempre o vivemos. A questão é que agora o racismo está sendo fotografado, gravado, chegando aos olhos de todos. Mas essa luta antirracista nasceu desde que nasceu, também, essa ideia estúpida e desumana de um cidadão branco escravizar um cidadão preto. A importância é falar que já chega! Que estamos cansados de sermos tratados desta forma. As pessoas precisam conhecer a história, o quanto o povo preto já sangrou e sangra. Os diálogos precisam acontecer. E o poder público e a sociedade precisam ter ações. A inclusão não pode ser só uma palavra bacana e que muita gente abre a boca para dizer. Os movimentos reforçam que estamos vivos e queremos assim permanecer. E queremos estar, também, na liderança, no protagonismo. Igualdade e conhecimento libertam!
Você lançou recentemente um canal no YouTube. Como veio essa ideia e como tem sido gravar esse conteúdo?
Estou cada dia mais me familiarizando com as redes sociais, e tem sido muito prazeroso. É um campo onde tenho muito o que aprender. E meu canal é esta oportunidade: de me aproximar mais do público, de termos bons diálogos, construtivos e com muito conhecimento. Além de poder cantar, dançar e, também, cozinhar. Estou animadíssimo com esse novo projeto e, junto com minha equipe, rascunhando pautas e novos quadros. Muita novidade a caminho! Se inscrevam e acompanhem.
Você assinou contrato com a Globo. Já tem algo nesse sentido que pode adiantar de futuros projetos?
Estar na Globo é muito maravilhoso, um sonho que eu sempre tive. Alguns projetos estão sendo pensados e ainda não consigo adiantar muita coisa, mas o público pode aguardar muita coisa boa. Estaremos mais uma vez juntos pela arte.
Você também tem uma banda e tinha planos, antes da pandemia, de sair em turnê. Tem aproveitado a quarentena para tocar algo relacionado à música?
Sim, este é um momento em que estou conseguindo trabalhar e desengavetar muitos projetos. As ideias estão a mil por hora! É especial demais poder parar e pensar sobre os novos sonhos, histórias, personagens, músicas. Tenho um desejo imenso de estrear, sim, a turnê com minha banda, assim que for possível. A música é parte da minha vida e a música me escolheu nesta vida. Eu quero me expressar sempre por meio das canções e, enquanto não podemos fazer os shows, que estejamos juntos pelas redes sociais.
Como tem sido esse período de quarentena, saindo de um confinamento e indo para outro ainda mais duro?
Isso, de fato, foi bem desafiador. É algo que o mundo não esperava, mas o importante, para quem consegue, é ficar em casa. Estou grato pela oportunidade de poder trabalhar e cuidar da minha família. Desejo que tudo isso passe e sejamos fortalecidos, tendo também um outro olhar para o mundo, para as pessoas e para o meio ambiente.
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