Os mais diferentes assuntos se transformam em fonte de inspiração para os artistas brasileiros. A criatividade deles os leva a ter como tema de obras até algo tão sombrio, como a pandemia que se espalhou pelo mundo. A cantora e compositora Adriana Calcanhotto, por exemplo, lançou recentemente o álbum intitulado Só, para o qual concebeu, nesse período de isolamento social, uma série de músicas. No trecho de O que temos diz: “Deixa eu te espiar/ Finge que não vê/ O que temos são janelas/ Em tempo de quarentena/ Nas sacadas, nos sobrados/ Nós estamos amontoados e sós/ O que temos são janelas e panelas”.
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Pro dia nascer feliz
O poeta Cazuza compôs para o CD Barão Vermelho 2, que viria a ser o seu primeiro grande hit. Para tanto, contribuiu com a versão de Ney Matogrosso, lançada praticamente ao mesmo tempo. em 1983. A música foi tomada como hino da redemocratização, pós-ditadura militar. Ao interpretá-la na apresentação do Barão, no Rock in Rio de 1985, Cazuza foi acompanhado por coro de mais de 100 mil vozes. Verso emblemático da letra desse clássico do rock nacional diz: “Estamos, meu bem, por um triz/ Pro dia nascer feliz/ O mundo inteiro acordar/ E a gente dormir”.
A Cura
Em Toda forma de amor, disco lançado em 1988, Lulu Santos registrou A Cura, composta no período em que havia a disseminação do HIV. Em parte da letra, de forma objetiva e otimista, ele acentua: “Desafiando de vez a noção/ Na qual se crê que o inferno é aqui/Existirá e toda raça, então, experimentará/Para todo mal, a cura”. É o que todos esperam em tempo de covid-19.
Paciência
De forma visionária, como que antecipando o que ocorreria 11 anos depois, Lenine compôs Paciência, gravada no CD Na pressão. Num dos versos, o cantor e compositor pernambucano escreveu: “Enquanto todo mundo espera a cura do mal/ E a loucura finge que isso tudo é normal/ Eu finjo ter paciência”. A música tem sido ouvida, ultimamente, na televisão em mensagens institucionais, fazendo alusão a tempos melhores.
Quando o sol bater na janela do seu quarto
Para o álbum Quatro Estações, de 1989, um dos últimos gravados em estúdio pela Legião Urbana, que trazia futuros clássicos, incluindo Há tempos e Pais e filhos, Renato Russo compôs Quando o sol bater na janela do seu quarto. Mesmo com a saúde fragilizada, ele, dubiamente cáustico e otimista, escreveu na letra dessa canção: “A humanidade é desumana, mas ainda tem chance/ O sol nasce para todos/Só não sabe quem não quer”. Espera-se que a mensagem, principalmente nesse período tão melancólico, seja bem assimilada.
Apesar de você
Composta por Chico Buarque, Apesar de você foi gravada inicialmente num compacto e depois no LP com o nome do artista e intelectual carioca, lançado em 1978, durante a ditadura militar, tendo execução radiofônica proibida pela Censura Federal. Verso da letra diz: "Apesar de você/ Amanhã há de ser outro dia/ Eu pergunto a você onde vai se esconder/ Da enorme euforia.." Tudo a ver com o virus que se espalha pelo país.
Andar com fé
No LP Um banda um, de 1982, que trazia canções como Drão e Esotérico, o eterno tropicalista Gilberto Gil incluiu também Andar com fé, em que cantava: "Andar com fé eu vou/ A fé não costuma faiá..." O título desse reggae, regravado pela banda mineira Skank em 2015, no álbum-coletânea Rock in Rio -- 30 Anos, embora tenha significado religioso, remete a uma expressão popular de apoio motivacional para o ser humano. Tão necessário no tempo de de Covid-19.
Nada será como antes
"Que notícias me dão dos amigos/ Que notícias me dão de você/Sei que nada será como antes amanhã". Clássico da obra de Milton Nascimento, Nada será como antes tem letra de Ronaldo Bastos -- escrita no período dos anos de chumbo --, que chamava atenção para os "desaparecidos" e para o que viria. pós-redemocratização.Agora, pode ser ouvida quando todos sonham com o fim da pandemia. Milton a gravou no disco Minas,de 1975, lançado simultaneamente com o Geraes. Nada será como antes deu título também a um musical criado pelos encenadores Charles Moöler e Cláudio Botelho, em homenagem ao cantor e compositor carioca-mineiro e apresentado com sucesso entre 2017 e 2018.
Amanhã
Dono de uma extensa obra, no cenário da música pop nacional, Guilherme Arantes lançou incontáveis hits. Um deles é Amanhã, registrado no LP Ronda noturna, de 1977, regravada por Caetano Veloso, nove anos após, no álbum ao vivo Totalmente demais. Como se tivesse sido feita para o quem espera o que virá pós-corona virus, a letra, logo na abertura traz esse verso: "Amanhã/ Será um lindo dia/ Da mais louca alegria/ Que se possa imaginar..."
O sol
Uma das boas revelações da música popular brasileira o cantor e compositor gaúcho Vitor Kley é autor e intérprete de O sol, gravada no CD Adrenalizou, de 2018, um dos maiores sucessos do dos últimos anos do segmento pop. De forma leve e pra cima ele canta: "Ô sol/ Vê se não me esquece e me ilumina/ Preciso de você aqui/ Ô sol vê se enriquece a minha melanina/ Só você me faz sorrir". Quem não espera por isso, depois de quase três meses de quarentena.
Tá escrito
Um dos compositores e cantores de maior destaque do pagode, autor de sambas-enredo da do Salgueiro, Xande de Pilares fez em 2009 Tá escrito. De maneira positiva ele sugere na letra: "Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé/ Mande a tristeza embora/ Basta acreditar que um novo dia vai raiar..." É o que todo mundo torce para que aconteça depois da maldita pandemia.
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