Correio Braziliense
postado em 20/06/2020 04:16
Os mais diferentes assuntos se transformam em fonte de inspiração para os artistas brasileiros. A criatividade deles os leva a ter como tema de obras até algo tão sombrio, como a pandemia. A cantora e compositora Adriana Calcanhotto, por exemplo, lançou recentemente o álbum intitulado Só, para o qual concebeu, nesse período de isolamento social, uma série de músicas. No trecho de O que temos diz: “Deixa eu te espiar/ Finge que não vê/ O que temos são janelas/ Em tempo de quarentena/ Nas sacadas, nos sobrados/ Nós estamos amontoados e sós/ O que temos são janelas e panelas”.
Em tempos mais amenos — ou não — canções de louvor, de protesto ou com base na constatação de fatos, músicas foram criadas por grandes compositores, de estilos variados, como Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Renato Russo, Cazuza, Lulu Santos, Guilherme Arantes, Lenine e Xande de Pilares, Vitor Kley, Michael Sullivan e Paulo Massadas, que servem de antídoto para o tempo do “novo normal”. As letras trazem mensagens positivas, e, propositalmente, foram reunidas aqui, com o intuito de despertar em quem vive “enclausurado”, o sentimento de esperança e a expectativa de que tudo passará e de que dias melhores virão. (IRL)
Pro dia nascer feliz
O poeta Cazuza compôs para o CD Barão Vermelho 2, que viria a ser o seu primeiro grande hit. Para tanto, contribuiu com a versão de Ney Matogrosso, lançada praticamente ao mesmo tempo. em 1983. A música foi tomada como hino da redemocratização, pós-ditadura militar. Ao interpretá-la na apresentação do Barão, no Rock in Rio de 1985, Cazuza foi acompanhado por coro de mais de 100 mil vozes. Verso emblemático da letra desse clássico do rock nacional diz: “Estamos, meu bem, por um triz/ Pro dia nascer feliz/ O mundo inteiro acordar/ E a gente dormir”.
A Cura
Em Toda forma de amor, disco lançado em 1988, Lulu Santos registrou A Cura, composta no período em que havia a disseminação do HIV. Em parte da letra, de forma objetiva e otimista, ele acentua: “Desafiando de vez a noção/ Na qual se crê que o inferno é aqui/Existirá e toda raça, então, experimentará/Para todo mal, a cura”. É o que todos esperam em tempo de covid-19.
Paciência
De forma visionária, como que antecipando o que ocorreria 11 anos depois, Lenine (foto) compôs Paciência, gravada no CD Na pressão. Num dos versos, o cantor e compositor pernambucano escreveu: “Enquanto todo mundo espera a cura do mal/ E a loucura finge que isso tudo é normal/ Eu finjo ter paciência”. A música tem sido ouvida, ultimamente, na televisão em mensagens institucionais, fazendo alusão a tempos melhores.
Quando o sol bater na janela do seu quarto
Para o álbum Quatro Estações, de 1989, um dos últimos gravados em estúdio pela Legião Urbana, que trazia futuros clássicos, incluindo Há tempos e Pais e filhos, Renato Russo compôs Quando o sol bater na janela do seu quarto. Mesmo com a saúde fragilizada, ele, dubiamente cáustico e otimista, escreveu na letra dessa canção: “A humanidade é desumana, mas ainda tem chance/ O sol nasce para todos/Só não sabe quem não quer”. Espera-se que a mensagem, principalmente nesse período tão melancólico, seja bem assimilada.
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