Diversão e Arte

Para superar o isolamento durante a pandemia, setor cultural se reinventa

Lives, drive-in e iniciativas para grupos pequenos são alternativas encontradas para a situação vivid atualmente

Correio Braziliense
postado em 21/06/2020 07:00

Festa Tela Plana promove clima de balada em formato virtual

 

 

Desde março quando foi decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a pandemia do novo coronavírus, o cenário de entretenimento e cultura mudou. Eventos presenciais foram adiados, depois, cancelados. Os espaços culturais, como cinema, museus e teatros, fechados para o público. Em meio a tudo isso, o setor agiu rapidamente e buscou alternativas. Vieram as lives. Agora, numa segunda onda, os projetos drive-in aparecem com força, assim como iniciativas exclusivas para grupos pequenos, já pensando na retomada. Sem, claro, excluir as interações virtuais que vieram para ficar.

 

Para Franklin Costa, cofundador do OCLB, plataforma de cursos on-lines que conecta uma comunidade de profissionais das indústrias criativas do Brasil, esse é um momento em que o setor vai apostar na criatividade para estabelecer os novos padrões. “Quando a gente fala de entretenimento, a gente tem o hábito de olhar com as lentes do passado para enxergar o futuro. Quando as pessoas vão poder ir numa rave, num forró com todo mundo junto? Isso é um modelo do passado. Esse modelo agora demandará muita criatividade, porque a necessidade de entreter é inerente ao ser humano, tanto quanto o instinto de sobrevivência. A gente percebeu essa necessidade de sociabilizar”, completa Costa.

 

“Tudo vai girar em torno dessa vacina da covid-19, enquanto não for descoberta o convívio será restritivo. Temos que pensar temporariamente, sabendo que o novo normal pode se tornar numa realidade. Uma situação dessa vez vem justamente para provar a importância da indústria do entretenimento e da cultura para a população, porque é um certo conforto nesse isolamento”, comenta Kiko Fernandes, coordenador do curso de Formação Executiva em Music Business da FGV.

 

Interação virtual

 

Uma das iniciativas que chamou atenção durante a pandemia foi a festa virtual brasiliense Tela Plana, iniciativa do coletivo e cervejaria Criolina. O modelo se inspira nas lives e na popularização dos aplicativos de videoconferência, sendo um novo formato de balada. O projeto começou de forma informal com festas para até 30 pessoas. Atualmente tem média de 150 pessoas por evento, com música feita ao vivo por Djs residentes Barata e Ops e convidados, espaço para bate-papo e interação entre os presentes e um trabalho visual e de som que conta com vários profissionais nos bastidores, entre eles, a Vj Grazi.

 

A primeira edição foi realizada em abril como alternativa da cervejaria que recebia semanalmente shows e festas. “Pensamos no delivery de cerveja, mas queríamos fazer uma festinha para a galeria que recebia. Chamamos alguns amigos e começou a ficar mais interessante”, explica Rodrigo Barata, um dos idealizadores. A festa ocorre todas às sextas no Zoom, a partir das 22h, com direito a after até as 8h — esse último promovido pelo grupo Boogie. Podem participar os compradores das cervejas e do clube de assinaturas, além de quem comprar o ingresso colaborativo à venda no Sympla, o valor do ingresso ajuda aos profissionais da cervejaria que continua com as portas fechadas. A próxima empreitada do grupo é o lançamento de uma cerveja em lata, a Criolipa, paralelamente a festa que deve ter vida longa, quem sabe até na realidade pós-pandemia.

 

Volta aos palcos

 

O formato virtual se estendeu para todas as áreas da cultura e alguns profissionais têm testado novidades. É o caso da iniciativa Teatro Já, da atriz Ana Beatriz Nogueira em parceria com André Junqueira, ator e gestor do Teatro PetraGold, no Rio de Janeiro. O projeto é uma série de transmissões digitais ao vivo de peças protagonizadas por grandes nomes da dramaturgia, algumas que estavam previstas para serem estreadas antes da quarentena e outras inéditas, feitas exclusivamente para o formato.

 

As apresentações começam em 4 de julho e seguem até 30 de setembro. Diariamente, os artistas irão até o palco do Teatro PetraGold para encenar as montagens. Além do protagonista, uma pessoa na plateia representando o público que assiste de casa em uma plataforma on-line, um técnico de som e um profissional para gravar a peça, seguindo as medidas de segurança. Para assistir é preciso comprar um ingresso solidário que remunera profissionais envolvidos na cadeia do teatro brasileiro.

A programação tem nomes de peso, como Marcelo Serrado, com Os vilões de Shakespeare; e Lília Cabral com espetáculo inédito e ainda sem título. Durante todo o mês de julho, o projeto Teatro Já abre ainda espaço para a música com o Segunda musical em que Luis Felipe De Lima se apresenta com convidados. “Essa foi a maneira que achamos de fazer teatro e levar o teatro até a casa das pessoas. Não sabemos quando e como vamos voltar. Então as pessoas poderão ver de casa, com um olhar que permanece único e ímpar. Porque o teatro é mágico. A gente está fazendo com várias câmeras, sem corte, se não seria televisão. A partir de agosto, as pessoas estarão vendo estreias, espetáculos que as pessoas estão ensaiando agora”, adianta a atriz.

 

Drive-in

 

A céu aberto, com uma grande tela e dentro do carro. Esse é o modelo que virou tendência no Brasil e no mundo durante a pandemia, e que foi exportado do antigo modelo de cinema. Brasília, inclusive, era a única cidade brasileira a manter um cinema no modelo, o Cine Drive-In que tem feito muito sucesso na quarentena desde a reabertura.

 

Agora, explodiram projetos no formato. No Dia dos Namorados foi lançado outro cinema drive-in na Arena Bsb, na área do Ginásio Nilson Nelson. Na quinta-feira será lançado o cinema drive-in do Taguatinga Shopping, montado no estacionamento do espaço comercial. A partir de amanhã é a vez da estreia do 1º Festival Drive-In, que une música, teatro e cinema no estacionamento B do Aeroporto Internacional de Brasília Juscelino Kubistchek. A estreia será com a Orquestra Filârmonica de Brasília, sob o comando do maestro Thiago Francis, com a apresentação de As quatro estações, seguido da exibição do filme Yesterday.

 

A inspiração para o projeto veio de uma iniciativa na Alemanha, onde foi realizada uma rave em formato drive-in. “Vi essa ideia numa rede social e pensei quer queria trazer pra Brasília. Montamos o projeto para que fosse um drive-in para além do cinema, um festival mesmo que movimentará a cena da música, do teatro, com programação infantil”, comenta Nina Rocha, uma das idealizadoras do 1º Festival Drive-In. A programação segue até 15 de agosto, buscando se adaptar e interagir com o público mesmo cada um dentro de um carro. A ideia é colocar redes sociais como forma de interação, além de códigos possíveis com o próprio veículo, como buzina, farol e luz interna. O festival terá ainda conteúdos inéditos como o espetáculo da cia G7, Cenas da Quarentena, e até a estreia do comediante Maurício Meirelles no formato.

 

Público restrito

 

Há algumas semanas, as galerias de arte do Distrito Federal retomaram às atividades com a reabertura do comércio, assim como os museus que estão autorizados desde a última quinta-feira. Como se tratam de espaços fechados, ambos, precisam restringir o número de público para visitação.

 

Foi o que aconteceu na Referência Galeria, na 202 Norte. A proprietária Onice Moraes conta que foi feito um estudo para avaliar quantas pessoas poderiam visitar o espaço ao mesmo tempo, mantendo um distanciamento de dois metros, com todas as medidas de segurança. “Temos recebido alguns clientes com agendamento. A primeira coisa que eu fiz foi esse estudo, que mostra que é possível ter até 10 pessoas em cada uma das salas, para uma visita guiada ou abertura de uma exposição”, revela. A ideia também é unir a parte física e virtual para estender a participação. Durante a pandemia, a galeria investiu em tour virtual e em projetos pelas mídias sociais, como o catálogo on-line das obras que iriam para SP Arte e o Quintas do Ateliê.

 

O futuro

 

Sem uma vacina e sem uma noção ao certo de quando a pandemia será controlada, pelo menos no Brasil, o cenário fica incerto e em constante mudança. “Costumo dizer que o show não parou, só mudou de lugar. Inicialmente, o que a gente viu foi a explosão de lives e um movimento importante das plataformas de vídeos se tornando o meio para esse jogo. Agora vem esse movimento dos drive-in que vem acontecendo em todo o Brasil. Tenho muitas ressalvas em relação a esse modelo, mas acho importante e acredito que sairão muitos experimentos criativos. Isso será só um início de um novo modo que a gente ainda não conhece”, completa Franklin Costa.

 

O especialista arrisca alguns modelos que devem ser implementados ao novo normal da cultura e do entretenimento, como eventos ao ar livre e mais intimistas, além de um formato híbrido entre físico e virtual: “Terá menos fervo, mas, talvez, eventos ao ar livre, com mais restrição de quantidade de pessoas e circulação de espaço. Todos os eventos terão que ter protocolos e vai mudar a relação com as próprias seguradoras, que devem inserir a cláusula de doença contagiosa. As regras vão mudar”.

 

Kiko Fernandes, da FGV, também aponta as mudanças do público, que deve se tornar ainda mais exigente. “Quando terminar a pandemia as pessoas estarão num processo de selecionar. Poderá cair o custo dos ingressos, principalmente, com eventos híbridos. Porque o alcance do show muda. Algo que seria para 5 mil pessoas, pode se tornar para 500 mil. Então, tem uma queda de custos. Acho que o entretenimento presencial vai mudar tendo esse plus do virtual”, avalia o coordenador. 

 

 

 » COMO PARTICIPAR E CONFERIR

 

» Tela Plana: www.sympla.com.br

» Teatro Já: www.teatropetragold.com.br

» 1º Festival Drive-In: https://

    www.festivaldrivein.com.br/

» Referência Galeria: http://

   www.referenciagaleria.com.br/ 

 

 

 

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