Correio Braziliense
postado em 23/06/2020 14:30
A fábrica da Kirow/HeiterBlick, que fica em Leipzig na Alemanha, entrou em contato com o arquiteto Oscar Niemeyer em 2011 para fazer o projeto de transformação do restaurante da cantina, destinada ao almoço dos trabalhadores, em um pavilhão que pudesse servir também para atividades noturnas, como festas e jantares. A empresa é responsável pela produção de guindastes para as ferrovias e trens e pela produção de bondes.
Para isso, Niemeyer apresentou a Ludwig Koehne, o dono da fábrica, um projeto de uma esfera modernista, sobrepondo os tijolos vermelhos da cantina, o que deixou os responsáveis emocionados. “Quando começamos a construir a Esfera Niemeyer, em 2017, eu estava lendo a carta que lhe enviamos contendo o resumo da extensão da cantina. Todos ficaram impressionados com forma grandiosa e simples que Oscar Niemeyer resolveu o desafio de colocar um pavilhão interessante no terraço, e que seria ao mesmo tempo adequado como espaço do restaurante, atraindo muitos visitantes e transformando o local industrial em uma área urbana atraente e animada”, conta Ludwig.
Em dezembro de 2012, Oscar Niemeyer morreu aos 104 anos, tornando o projeto uma obra póstuma do arquiteto. “Você pode aprender muito sobre o poder da arquitetura quando tem a honra de trabalhar com alguém como Oscar Niemeyer. Sua generosidade agora infunde o lugar. Estamos muito orgulhosos e nos sentimos muito honrados por esse grande presente. O objetivo é integrar a fábrica na cidade, trazendo beleza para um local onde você normalmente não a esperaria. Às vezes, a arquitetura, que é arte ao mesmo tempo, é o que é necessário para alcançar essa transformação”, destaca Ludwig.
Para a construção do que chamaram de Esfera Niemeyer, três desafios: encontrar engenheiros capazes de calcular a estrutura assimétrica complexa; encontrar uma empresa que construísse a estrutura com alta qualidade e custo razoável; e encontrar uma empresa que pudesse fazer o vidro especial com tecnologia de cristal líquido, pois a linha de produção desse novo tipo de vidro foi implantada apenas em 2019, dois anos depois do início da obra.
“Felizmente, a empresa Merck acabou de desenvolver um vidro do tipo cristal líquido que você pode alternar em menos de um segundo da transmissão de luz de 50% para 2%. Estamos convencidos de que isso reduzirá o brilho e o consumo de energia, além do ruído do ar-condicionado, para que seja muito confortável no interior, mesmo durante os verões quentes da Alemanha. Nos invernos, temos a vantagem de ter um vidro quase transparente, o que contribui muito para a leveza e a beleza da Esfera Niemeyer como espaço”, explica o empresário.
Homenageado na cidade
Uma outra curiosidade que acompanha a construção desse espaço arquitetônico é a mudança, feita pela prefeitura, do nome da rua em que está localizado para Niemeyer Strasse (em tradução literal, Rua/Estrada Niemeyer). “Já temos muito interesse dos habitantes de Leipzig. A Esfera Niemeyer é, pode-se dizer, o assunto da cidade. Como sinal de reverência a Oscar Niemeyer, a rua que leva à Esfera e à fábrica foi renomeada para Niemeyer Strasse”, destaca a empresa. Eles pretendem continuar o processo de finalização do projeto ainda este ano com os devidos cuidados, mas a inauguração formal terá que esperar até aproximadamente abril de 2021, quando é provável que haja mais segurança em relação a pandemia do novo coronavírus.
Niemeyer tem diversas obras fora do país, como na Alemanha, Estados Unidos, Israel, Itália, Argélia e França, e segue espalhando os traços modernistas ao redor do mundo.
Primeira visita a Brasília
Dez anos antes de iniciar as construções, em 2007, Ludwig veio a Brasília para conhecer a cidade pela primeira vez e lembra que foi uma experiência muito pessoal. “Estávamos negociando há mais de uma semana com a Thyssen Krupp na entrega de transportadores para a nova usina siderúrgica TKCSA, quando tive um dia de folga. De manhã, peguei um voo para Brasília e depois voltei à noite. A experiência de Brasília foi como visitar as pirâmides do Egito ou a Acrópole de Atenas. Uma sensação tão grande de espaço e proporções perfeitas. Passei as 10 horas completas nos prédios. Pareciam um presente para a humanidade”, diz o empresário, que se impressionou e elogiou as formas, cores e elegância de obras como a Catedral, Itamaraty e o Congresso Nacional.
*Estagiária sob supervisão de Adriana Izel
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