Diversão e Arte

Enquanto as rodas não recomeçam

Alguns dos responsáveis pelos eventos de samba mais tradicionais da cidade contam como tem sido a quarentena

Correio Braziliense
postado em 29/06/2020 04:15
Alguns dos responsáveis pelos eventos de samba mais tradicionais da cidade contam como tem sido 
a quarentena
O mais representativo dos gêneros musicais brasileiros, o samba sempre fez parte do cotidiano do brasiliense — desde os primórdios da capital. Aqui, chegou trazido por servidores públicos que vieram transferidos do Rio de Janeiro. Inicialmente, foram criados alguns núcleos na Asa Norte, Asa Sul e no Cruzeiro Velho, onde surgiu a primeira escola de samba, a Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro (Aruc). A partir da década de 1970, bares e casas noturnas passaram a oferecer rodas de samba na programação.
 
Hoje em dia, essa manifestação cultural pode ser apreciada em vários locais do Plano Piloto e também em outras localidades do Distrito Federal. Em tempo da pandemia, foi momentaneamente paralisada, deixando muitos músicos sem uma de suas principais fontes de renda. O Correio conversou com alguns deles, que falaram sobre o que vêm fazendo para compensar a ausência de trabalho e de como mantêm vivo o prazer de exercer o ofício. Quase todos vêm participando de lives para ter alguma recompensa e não perder o contato com o público.

 
Kadu Nascimento (7 na Roda) — Há 13 anos, às terças-feiras, a partir das 20h, inicialmente no Calaf e, depois, no Outro Calaf (Setor Bancário Sul), o brasiliense tem curtido a mais longeva roda de samba de Brasília. Com dois discos lançados, o grupo que até 1917 se chamava Adora Roda e depois passou a se chamar 7 na Roda, fez história na cena musical da cidade. “Em função da pandemia, pela primeira vez, tivemos que interromper por um período mais longo nossas apresentações. Paramos em 10 de março e, claro, estamos sentindo muita falta da roda e do público que sempre nos deu ótima acolhida”, diz o percussionista Kadu Nascimento. “Neste período de longa quarentena, temos feito lives e uma delas foi pelo festival No Quadrado, após participar de edital virtual.

 
Cris Pereira (Mulheres de Samba) — Fortalecer a ocupação de espaço pela mulher como cantora, compositora e instrumentista no universo do samba. Esse foi, em síntese, o mote para a criação do coletivo Mulheres de Samba, que surgiu há quatro anos na cidade. De três em três meses, o grupo formado por 40 sambistas — a maioria delas desenvolvem projetos individuais — se reúne para uma grande roda de samba no Outro Calaf, com a presença de expressivas plateias. A estreia ocorreu em abril de 2016, para celebrar o Dia Internacional da Mulher e, desde então, tem demarcado posição na cena musical brasiliense. “Nesse momento sombrio para todos, temos cumprido as determinações das autoridades da área da saúde, nos isolando socialmente, mas buscamos alternativas para ocupar o tempo. Em abril, fizemos uma live, cada uma de casa. Individualmente, também temos participado de lives. Quando a pandemia passar vamos tomar parte, como em outras vezes, da roda nacional de samba de mulheres”, anuncia Cris Pereira, nome de destaque do movimento.

 
Pedro Berto (Samba Urgente) — Em apenas dois anos de existência, o Samba Urgente (foto) tornou-se uma das rodas de samba com maior popularidade no DF. Um maior número de pessoas tomou conhecimento do grupo no começo de 2019, quando passou a ocupar o Canteiro Central no Setor Comercial Sul. O maior público reunido, porém, foi em agosto último, ao participar do projeto Contém, na área da Piscina de Ondas, no Parque da Cidade, ao tocar para 10 mil pessoas. “Somos um coletivo, que conta com 12 músicos e um DJ. Nosso trabalho é voltado, primordialmente, para o samba, embora o pagode e choro façam parte do nosso repertório”, explica o bandolinista Pedro Berto. “Na paralisação provocada pela covid-19, estamos ocupando tempo para fazer pesquisas, gravar vídeos e cuidar da cabeça. Na volta, ainda sem previsão, mas pela qual há uma grande ansiedade, a ideia é de realizar projetos menores, que se adaptem à nova realidade”, complementa.

 
Karla Sangaleti (Roda do Pinella) — Cantora que, há algum tempo, se dedica ao samba, Karla Sangaletti está à frente da roda no Pinella (408 Norte) há três anos, sempre às sextas-feiras, das 19h às 23h. “Nossa última apresentação foi no em 16 de março. Desde então, em função do distanciamento social, mantenho-me em casa, mas não parei de trabalhar”, conta. “Estou elaborando alguns projetos e fiz lives, usando o aplicativo do Pinella, mas não vejo a hora de as coisas voltarem ao normal, para que possa retomar as atividades presenciais, interagindo com o público”, agrega.

 
Nelsinho Serra (Feitiço no Samba) — Tradicional palco de boa música na capital, o Feitiço Mineiro (306 Norte) acolhe, há 12 anos, a Feitiço no Samba, roda comandada por Nelsinho Serra, mestre do cavaquinho. Ele e mais Vinicius Viana (violão 7 cordas), Augusto Rodrigues (pandeiro) e as cantoras Anaí e Karla Sangaletti transitam entre o samba e choro com familiaridade, às sextas-feiras, a partir do meio-dia e, aos sábados, às 13h. Bem, isso vinha ocorrendo até o primeiro fim de semana de março. “O advento do novo corona vírus nos fez dar um tempo com uma das coisas que mais gostamos de fazer”, lamenta Nelsinho. Em isolamento social, o cavaquinista tem feito pesquisa, para acrescentar novas músicas no repertório e preparado novos projetos e ministrado aulas on-line “Fizemos também uma apresentação para moradores do Sudoeste, em frente aos prédios, e faremos outra, na Praça Bem-te-vi, em Águas Claras”, adiciona.

Oto Neves (Kanella de Cobra) 
— É na matriz do samba na capital, o Cruzeiro Velho, que está instalado o Círculo Operário, onde, há 11 anos, às sextas-feiras, a partir das 22h, ocorre a roda promovida pelo grupo Kanella de Cobra (foto), formado por sete músicos, que tem como líder o vocalista e pandeirista Oto Neves. “Realizamos a nossa roda de samba pela última vez em 6 de março. Essa interrupção, por causa da pandemia, nos levou a buscar algo que preencha o isolamento social”, ressalta. “Apresentamos vídeos pela internet, participamos de live na casa de um amigo e produzimos outra para o dia 12 último”, destaca.

 
Negro Vato (Samba da Comunidade) — “Disseminar a cultura do samba de raiz, ressaltar grandes compositores, cantores e instrumentistas, cantar e contar a história desse gênero musical é a bandeira que o Samba da Comunidade (foto) carrega”, afirma o percussionista Negro Vato, um dos criadores do movimento, há seis anos. Segundo ele, o encontro, no terceiro sábado de cada mês, com início às 16h, na Praça da Bíblia, no P Norte, Ceilândia, foi realizado por último em fevereiro. “Com a explosão da covid-19, estamos nos guardando em casa, como recomendam as autoridades da saúde, mas todos nós sentimos muita falta dos encontros”, expõe.
 
 

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