Diversão e Arte

''Ennio Morricone deu mais som ao cinema'', diz Luiz Olivieri

Ao Correio, personalidades da música e do cinema falam da importância e do legado deixado por Ennio Morricone

Correio Braziliense
postado em 07/07/2020 10:35
Compositor italiano Ennio Morricone
O cinema perdeu, na madrugada de ontem, um dos nomes mais importantes da história das trilhas sonoras, o compositor Ennio Morricone morreu, aos 91 anos. O maestro morava em Roma e estava internado, há uma semana, após uma queda. A morte foi confirmada pelo advogado do músico, Giorgio Assumma. Com um currículo longo, creditado em mais de 500 produções entre longas, curtas, ficções, documentários e especiais próprios, Ennio Morricone ficou famoso por dar sons característicos a filmes do Velho Oeste. Entre os longas mais famosos que trabalhou estão Três homens em conflito (1966), Era uma vez na América (1984), Cinzas no Paraíso (1978) e, mais recentemente, Os oito odiados, último longa norte-americano do compositor. Durante os quase 60 anos de carreira, o maestro fez parcerias com diretores como Sergio Leone, Brian de Palma, Giuseppe Tornatore, Terrence Malick e Quentin Tarantino.

Italiano natural de Roma, nascido em 10 de novembro de 1928, o compositor se formou na Accademia Nazionale di Santa Cecilia. Ele trabalhava com cinema desde o início da década de 1960, quando compôs a trilha sonora do filme O Fascista e escreveu músicas para os longas Um pedaço de mau caminho, Brotos ao Sol, As motorizadas e Gli italiani e le vacanzi.

“Ennio Morricone deu mais som ao cinema”, ressalta Luiz Olivieri, compositor responsável pela música longa Acalanto, vencedor do Kikito de Melhor trilha sonora no Festival de Cinema de Gramado. “Morricone é um grande mestre. Ele inovou na mistura de timbres e sonoridades não convencionais”, explica o compositor. “O que ele fez nas trilhas sonoras de filmes democratizou um conhecimento que era muito refinado”, lembra Olivieri. “Imagine misturar um assobio, com uma guitarra elétrica a efeitos e uma orquestra, são muitos territórios sonoros diferentes”, completa.
 
“A genialidade do Ennio Morricone é vista quando composições dele agregam valor ao filme, trazendo emoções e temperamentos à cena”, comenta Cláudio Cohen, maestro da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro. Segundo o regente, é necessário um conhecimento musical muito elevado para fazer música para cinema da forma como Morricone fazia. “Ele conseguiu usar a arte de tal forma que as composições se descolam dos filmes e passam a ser famosas também como músicas tocadas por orquestras”, pontua Cohen. “É uma grande perda para o cinema e para música, assim como John Williams e Hans Zimmer, Ennio Morricone é parte integrante da sétima arte e marcou os séculos 20 e 21”, lamenta o maestro.

A Orquestra Sinfônica fez, inclusive, uma apresentação do tema de A missão (1986), de Ennio Morricone, com os músicos tocando de casa durante o período de quarentena.



Harmonia


“A trilha sonora é importante porque ela faz parte de um momento único, que forma, com outros aspectos da cena, o sentimento que a pessoa que está vendo o filme terá”, afirma Philippe Seabra, vencedor do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2014 pela trilha sonora de Faroeste Caboclo (2013) e guitarrista e vocalista da banda Plebe Rude. O artista conta que o trabalho do trilheiro e do diretor é simbiótico e de respeito mútuo, e que o compositor chega a lugares que jamais iria graças a parceria. Sobre Ennio Morricone, o músico acredita que ele marcou época e que os diretores com quem trabalhou devem muito a ele. “Quando alguém contratava o Morricone, já se sabia que viria algo bom”, diz Seabra.

Em 2018, o grande compositor italiano ganhou uma mostra em homenagem aos 90 anos de idade. Foram exibidos 22 longas que o maestro assinou as composições. O evento passou por Brasília no início daquele ano, entre janeiro e fevereiro, com sessões e debates no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) da capital.


Prêmios


Por ter participado de alguns dos filmes mais marcantes da história do cinema, Ennio Morricone colecionou prêmios durante a carreira. O compositor conta com sete indicações ao Grammy, tendo levado um para casa pelo trabalho em Os intocáveis (1987). Ele também concorreu ao Globo de ouro nove vezes, ganhando três, e apareceu seis vezes na lista do Bafta — saiu vencedor em todas.

No entanto, o maior prêmio da indústria cinematográfica, o Oscar veio para ele no último trabalho que fez. A trilha sonora do longa Os oito odiados (2015), de Quentin Tarantino, é responsável pela primeira e única estatueta dourada do maestro italiano. Morricone havia sido indicado previamente outras cinco vezes. O músico foi lembrado pela Academia também 2007, com um prêmio honorário pelo conjunto da obra feita até então.

*Estagiário sob supervisão de Igor Silveira

» Sons mais famosos de Ennio Morricone


Por um punhado de dólares (1964)
Primeira parceria entre Ennio Morricone, que na época assinava como Dan Savio, com o diretor Sergio Leone, o longa também é um dos marcos do chamado Spaghetti Western, gênero cinematográfico de Velho Oeste gravado em estúdios na Itália.

Três homens em conflito (1966) 
Longa também de Sergio Leone é um dos bang-bangs mais aclamados do cinema. A música tema do filme com um assobio característico entrou para a história sendo uma das mais replicadas do meio cinematográfico e um som emblemático do cinema de Velho Oeste.

Era uma vez na América (1984) 
A última vez em que Sergio Leone e Ennio Morricone trabalharam juntos. O filme não é mais em cavalos e sobre brigas, mas conta uma história de gangsters e máfia em Nova York e fala mais sobre a cultura ítalo-americana.

Os intocáveis (1987) 
Filme sobre a época da Lei Seca dos Estados Unidos apresenta um agente federal em uma busca incessante para capturar Al Capone. O filme também representa uma parceria importante para carreira de Morricone, com o diretor Brian De Palma.

Cinema Paradiso (1988) 
Filme italiano vencedor do Oscar de Melhor filme estrangeiro, Cinema Paradiso é um longa que fala sobre a relação de pessoas com o cinema. O diretor Giuseppe Tornatore é outro grande nome da indústria com quem Ennio Morricone colaborou mais de uma vez.

Os oito odiados (2015) 
A coroação de Ennio Morricone teve que vir em um bang-bang, mais de 50 anos após o início na carreira cinematográfica, o maestro ganha o Oscar de Melhor trilha sonora pela primeira vez no violento e intimista longa de Quentin Tarantino, diretor com quem já havia trabalhado em Bastardos Inglórios.
 

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