Correio Braziliense
postado em 16/07/2020 04:12
Durante muito tempo, a capital federal foi a única cidade brasileira que ainda mantinha a tradição do drive-in, formato que teve auge entre as décadas de 1950 e 1970. O primeiro drive-in surgiu nos Estados Unidos em 1933, o que motivou polêmicas. Há quem diga que foi uma alternativa à epidemia de poliomielite, mas também há indícios de que seria uma opção criada para ser mais confortável aos cinemas convencionais.
Com a pandemia do novo coronavírus, o modo de diversão dentro do carro voltou com força total, por ser uma das poucas alternativas de lazer em meio à quarentena. “Ele surgiu como uma primeira oportunidade de retomada para evento presencial. Chegou de uma forma tímida e, logo, ganhou força. A gente vê isso acontecendo no Brasil todo. As principais cidades, claro, trazem um volume maior, como Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Mas já vemos também acontecendo no interior. Está sendo uma experiência de nível nacional”, avalia Tereza Santos, diretora de serviços da Sympla, plataforma de venda on-line de ingressos que dedica uma seção apenas a eventos drive-in no país.
Em Brasília, o Cine Drive-In, localizado no Autódromo, foi o primeiro espaço cultural a voltar a funcionar em 28 de abril após o decreto que fechou os principais estabelecimentos da cidade. A reabertura lotou o local e incentivou a criação de outros drive-ins.
Inicialmente o decreto permitia apenas a modalidade para exibição de cinema. No entanto, o setor pressionou o governo do Distrito Federal e conseguiu que, em 3 de junho, uma atualização permitisse atividades coletivas culturais, de qualquer natureza, em estacionamentos desde que as pessoas permaneçam dentro dos veículos. O decreto ainda ganhou mais uma atualização e o mais recente, de 2 de julho, não faz objeção à venda de comida e bebida, desde que seja mantida a distância mínima entre os veículos.
Primeiras iniciativas
Em meados de junho surgiram os primeiros novos drive-ins da cidade: o Cine Drive-In TGS, no Taguatinga Shopping; o Festival Drive-in, no estacionamento de Aeroporto de Brasília; a versão drive-in do Circo Real Português, no estacionamento do Serejão; e o Arena BSB drive-in, no estacionamento do Ginásio Nilson Nelson.
O drive-in do Taguatinga Shopping começou dedicado ao cinema e, agora, a partir de amanhã, inclui na programação shows de stand-up, além de estarem previstas apresentações musicais. “Está tendo uma ótima aceitação do público. Os clientes estão ávidos por entretenimento. Então, essa questão do drive-in ajudou esse momento de encontro das famílias. Com o sucesso, a novidade é que vamos ampliar para teatro e shows, porque o shopping sempre foi um palco de eventos e de entretenimento. Queremos continuar levando essa opção de lazer”, comenta Maíra Garcia, Gerente de Marketing do Taguatinga Shopping.
O Festival Drive-in, no Aeroporto, nasceu híbrido de manifestações artísticas. Mesmo que o cinema ocupe a maior parte da programação, o espaço recebe diferentes atividades culturais. No palco do local já se apresentaram atrações nacionais, como o humorista Maurício Meirelles, e artistas locais, a exemplo do grupo 7naRoda e da Orquestra Filarmônica, que, inclusive, já fez mais de um concerto. “A ideia de ser um festival drive-in foi para englobar tudo da cena cultura. Teatro, cinema, música... A gente quis também prestigiar as pessoas da cena local”, revela Nina Rocha, uma das idealizadoras do projeto. A previsão é de que o evento siga até 15 de agosto.
Novas ideias
Com o sucesso do drive-in na capital federal e também pelo restante do Brasil, a cada dia, novas propostas aparecem na cidade. Uma das mais audaciosas é o Drive Show Brasília, que iniciou ontem a venda de ingressos, e que tem como foco a apresentação musical em palco de grandes artistas da música brasileira, enquanto o público permanece nos carros no espaço montado no estacionamento do Mané Garrincha. A capacidade é de 600 carros e terá lançamento em 14 de agosto. Estão confirmados nomes como Capital Inicial, Dilsinho, Raça Negra e Maiara & Maraisa.
“Na verdade tanto eu, quanto meus parceiros nessa empreitada somos produtores de eventos em Brasília há muitos anos. São seis produtoras que estavam com calendário marcado de shows que foram impedidos em razão da pandemia. No intuito de sobrevivência nossa e da cadeia fomos buscando experiências inovadoras. Primeiro trabalhando lives, agora conseguimos a liberação do drive-in para outras modalidades”, explica Aci Carvalho, um dos idealizadores.
Ele revela que o sucesso do drive-in do Allianz Parque, em São Paulo, também serviu para quebrar os paradigmas e fazer com que as pessoas vissem a iniciativa de forma melhor. “Era muito importante criar uma forma de entretenimento, que fosse de qualidade e conseguisse gerar uma experiência para o nosso cliente com segurança”, completa. Assim, o evento tem medidas sanitárias e também pensadas para evitar o consumo de bebidas alcoólicas pelos motoristas, com campanha e também alternativas de “amigo da vez”, como motorista de aluguel. “Estamos lidando com muita seriedade, não queremos banalizar uma situação tão séria. Mas as pessoas estão cansadas e depressivas em casa, precisam de lazer. Vamos oferecer uma forma segura, com uma experiência nova a cada semana”, acrescenta Carvalho.
Com formato parecido nasceu o Arena Encontro de Culturas, localizado no Taguaparque, em Taguatinga, que estreia em 24 de julho com a presença de Tato, do Falamansa, e dos artistas locais Surf Sessions, Marcelo Mira e a Quadrilha Si Bobiá a Gente Pimba, numa festa junina de lançamento. “A gente juntou duas empresas que são produtoras que já estão há anos no mercado fazendo eventos e bolou uma ideia que pudesse ter as atrações culturais, não só o cinema depois que o decreto permitiu. Também queríamos colocar artistas locais que estavam parados, buscamos uma forma de disseminar a cultura local também”, explica Cynthia Ivanovic, produtora executiva do Arena Encontro de Culturas.
O surgimento do projeto também tem a intenção de descentralizar o formato drive-in, que está mais concentrado no Plano Piloto. As sessões de cinema farão parte do espaço, assim como outras modalidades culturais, inclusive, há uma parceria com o Instituto Candango de Artes, de Ceilândia, que promoverá apresentações de dança. “Com isso, conseguimos promover 200 empregos diretos e indiretos, celebrando a arte de Taguatinga, Ceilândia, Samambaia e Santa Maria, com segurança para todos, tanto a população, como a parte técnica. Sentamos com a Vigilância Sanitária e com a Administração de Taguatinga para estabelecer as medidas de segurança”, comenta. O espaço tem capacidade de 350 carros.
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» O que diz o público
“A minha experiência foi bastante positiva. Nunca tinha ido a eventos nesse formato e poder sair de casa, com segurança e conforto, em tempos de pandemia, me proporcionou mais tranquilidade para aproveitar o evento. Esse modelo tem tudo pra permanecer como nova forma de entretenimento. E o interessante é perceber a diversidade de festividades que podem ser realizadas nesse formato, o que amplia o leque para quem quer se divertir. É a velha forma de diversão, mas com muito mais tecnologia, adaptada ao novo normal”
Maíra Saad, 30 anos, servidora pública
“Tem sido uma experiência muito boa com as crianças (os três filhos), excelente, eu diria. O bom de levá-los ao drive-in é que proporciona um ambiente mais seguro na hora da diversão, porque ficamos dentro do carro, fora que, dá pra fazer um piquenique. Ademais, achei superorganizado na questão de ir ao banheiro, porque é um por vez e eles ficam limpando o tempo todo. As crianças amam! Se divertem muito!”
Diullini Santos, 29 anos, agricultora familiar
“Sempre frequentei cinemas e, mais recentemente, graças a uma amiga, comecei a ir a shows de stand-ups. Assim que o Cine Drive-in reabriu, logo fui conferir o último filme do Tarantino, Era uma vez em... Hollywood, que, inclusive, já tinha assistido meses antes. Eu já frequentava o Drive-in, mas muito pouco. Ia cerca de quatro vezes ao ano. Durante a pandemia eu já fui umas 10 vezes! Tenho certeza que frequentarei ainda mais esse tipo de entretenimento mesmo pós-pandemia”
Mateus Rafael, 29 anos, coordenador de projetos em telecomunicações
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