Correio Braziliense
postado em 17/07/2020 04:09
Quando o cineasta Esmir Filho propôs à Netflix o enredo da obra Boca a boca, que estreia hoje na plataforma, ele não imaginava que a produção pudesse dialogar com a atualidade por conta de um aspecto específico da história: a trama retrata a epidemia de uma doença transmitida pelo beijo que se espalha numa cidade fictícia no interior do Brasil.
O verdadeiro diálogo com a atualidade que Esmir buscava era o fato dessa narrativa ter uma perspectiva de juventude — característica do trabalho dele no cinema — e pela abordagem do comportamento social em si na história que se passa na conservadora cidade de Progresso, município fictício que teve a cidade de Goiás Velho como inspiração visual.
“Criei a cidade de Progresso, uma cidade modelo, em que pais e professores prezam pela tradição e pelos bons costumes. Tem os adolescentes que estão simplesmente querendo experimentar seus desejos, curtir e surge uma epidemia de uma síndrome não conhecida causada pelo beijo e isso amedronta tanto os pais, quanto os filhos. Mas esse surto é uma simbologia à repressão dos próprios corpos. Não simboliza a morte, mas algo que faz com que esses personagens tenham que lutar para serem mais fortes, é um símbolo da toda transformação. Essa é a mensagem da série”, define o criador em entrevista ao Correio.
Para contar essa história, Esmir fez um estudo de alguns quadros de epidemia que aconteceram ao longo da história. “Teve pânico, medo, desconfiança, discriminação e também o privilégio de acesso de alguns corpos. O que assustadoramente se repete. Lançamos uma luz sobre isso. A epidemia é um ponto de partida para discutir as nossas relações, as nossas comunidades”, explica.
Por isso, ele acredita que Boca a boca ter sido lançada no meio da quarentena faz com que ela se torne ainda mais necessária. “A série vem com uma mensagem de reflexão. Não vem para causar pânico. Ela trabalha as relações humanas dentro da história. Acho que, no fim, passa uma mensagem de acolhimento, afeto e conexão, que é o que a gente precisa. A doença aqui expõe uma causa social que a gente precisa ver em vários âmbitos, nos nossos microcosmos e macros”, completa.
A história ganha desdobramentos pelo ponto de vista de um trio de protagonistas: Alex (Caio Horowicz), Fran (Iza Moreira) e Chico (Michel Joelsas). Alex é o filho do maior fazendeiro de Progresso e vive um conflito dentro de casa por ser vegano e não compactuar com os princípios da família. O escape dele é a internet. Fran é filha de Dalva (Grace Passô), funcionária da fazenda, e as duas sofrem o risco de serem despejadas da Colônia, parte da fazenda em que vivem os mais pobres. Já Chico (Michel) é o menino da cidade grande que vai morar com o pai e percebe todo esse tradicionalismo e conservadorismo da cidade e dessa comunidade.
É por meio dos protagonistas que a série discute questões como conflitos familiares e também as diferenças sociais. Sexualidade, em geral, é outro assunto explorado na narrativa. A temporada é formada por seis episódios de 45 minutos. O elenco tem ainda grandes nomes como Denise Fraga e Bruno Garcia.
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