Diversão e Arte

Cada vez mais digitais: Ilustradores ajustam produção à pandemia

Artistas digitais adaptam-se ao período de pandemia para manter a produção e a exposição das obras

Correio Braziliense
postado em 17/07/2020 09:42
@positivossauroArtistas digitais adaptam-se ao período de pandemia para manter a produção e a exposição das obras

Os meios artísticos sempre se reinventaram com o surgimento de novas tecnologias e, na era digital, isso se perpetua. Com a sociedade mais conectada virtualmente, as redes sociais surgem como mais uma forma de expressão e como galerias para as ilustrações digitais. Assim, artistas brasileiros transmitem sentimentos, ideias e histórias por essas plataformas. Com traços simples ou trabalhados, ilustrações, designs, desenhos e quadrinhos tomam conta das redes e apresentam uma nova maneira de ver o mundo, dando o pontapé inicial para artistas terem os trabalhos reconhecidos. Assim, muitos ilustradores aproveitam o Instagram e o Twitter para publicar as obras.

*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira

 
@dracoimagem 
Nascido no Rio de Janeiro, Edno Pereira Jr, 39 anos, é o ilustrador conhecido nas redes sociais como Draco. Desde criança, o carioca via o irmão mais velho ilustrando, que, apesar de não ter seguido no ramo, foi fonte de inspiração para o jovem. Por ser tímido, Draco usou as habilidades artísticas para se conectar com as pessoas. Há cerca de quatro anos, ele começou a publicar as ilustrações nas redes sociais e, desde então, tem um grande retorno. Só no Twitter, o artista registra mais de 15 mil seguidores. “A visibilidade é surreal, principalmente por que não é preciso qualquer tipo de investimento financeiro, só tempo”, afirma o carioca. O ilustrador tem muitas inspirações, embora busque não rotular os trabalhos. “Recentemente, tenho usado muito a cultura iorubá para representar alguma coisa de negritude nesse sentido, porque quando eu comecei a pensar em como reproduzir isso, eu vi que tinha muita gente falando das nossas dores, enquanto indivíduos pretos. Pensei em como tratar de algo que tivesse representatividade, mas que também tivesse uma identidade para muita gente. Não é o meu foco principal, mas nos últimos anos é como eu tenho me expressado mais”, destaca. 
 

Saiba Mais



@blackcollage_
Aos 19 anos, Thais Silva traz, nos trabalhos, fotografias históricas e resgate da ancestralidade. Foi no ensino médio que ela passou a se interessar pelas artes. “Comecei a colocar as artes nas redes sociais em julho de 2018. Logo houve bastante repercussão”, relembra a artista digital.
A artista trabalha com colagens, imagens digitais e telas analógicas que perpassam pelo movimento afrofuturista, na qual relaciona a cultura africana com ciência e tecnologia, indígena futurismo e movimento abstrato/minimal. “Os temas que inspiram meus trabalhos são questões de identidade, principalmente cafuza (miscigenação de indígenas e de negros), sensibilidade afroindígena e o reflexo de todas as minhas vivências como uma mulher cafuza brasileira”, conta. No Instagram, ela reúne mais de 27 mil seguidores. Para encomendar os trabalhos dela, acesse o site blackcollage.com.br.
 


» Sobre tirinhas e HQs
 
 
 
 
@positivossauro 
Ana Laura Pinheiro, 20 anos, é o nome por trás do perfil do Instagram @positivossauro. A jovem, desde pequena, gostava de desenhar. Aos 16 anos, a ilustradora publicou as artes nas redes sociais e assim surgiu o Positivossauro, um dinossauro chamado Benjamin com traços simples, mas que leva reflexões jurássicas e sentimentais para os mais de 2,8 mil seguidores da rede. Apesar do nome Positivossauro, o protagonista nem sempre traz mensagens positivas. A vida, o autoconhecimento, os sentimentos, questões sociais, políticas e algumas piadas fazem parte do cotidiano das tirinhas e dos quadrinhos. “Funciona muito como uma válvula de escape, eu gosto de colocar coisas que eu estou pensando e externá-las para lidar melhor com elas”, conta Ana Laura. Este ano, Benjamin ganhou a companhia de uma nova personagem nos desenhos: a Triceratopes, uma dinossaura que canalizará a tristeza nas ilustrações. Mesmo com as dificuldades do período de isolamento, a quarentena está sendo um momento de inspiração. “Está sendo complicado, mas que bom que estou em uma posição muito privilegiada, porque eu posso fazer quarentena e ficar em casa. Nesse período, o Positivossauro voltou com tudo e as pessoas estão se identificando com isso, de formas diferentes e com várias interpretações”, pontua.

@instadevaneios 
Yorhán Araújo criou o perfil Devaneios, que traz como personagens principais Sigmund e Freud. Em 2014, o carioca colocou as tirinhas nas redes sociais e, até hoje colhe, os frutos com quase 400 mil seguidores. Falando sobre reflexões e humor, o ilustrador usa as tirinhas e os quadrinhos para passar ideias de texto com o auxílio visual. “Eu posso definir como tirinhas para pessoas que buscam soluções para os próprios problemas. Quando eu faço tirinhas, pessoas me falam que eu fiz espionando as vidas delas, mas são inspirados na minha vida, então, é bom saber que as soluções que eu encontro na minha vida também podem ajudar outras pessoas”, aponta Yorhán. “Ilustração é uma forma mais chamativa na internet, e eu sempre gostei como os memes funcionavam. Eu via que, por mais simples que fossem, a ideia principal que as pessoas compartilhavam eram os textos e a imagem era um auxílio visual para ter mais engajamento na rede social. Por isso, comecei a fazer tirinhas”, relembra. O artista acredita que há dois cenários de ilustração no Brasil em termos de valorização da arte. “Tem caminhos para ser a arte ser exaltada, mais elitista, como prints assinados e coisas assim. E tem o meu lado, que tem artistas brancos que chegam em lugares que eu não vou chegar tão cedo, apesar de estar no mesmo patamar. É valorizada, sim, mas é pouco na questão de representatividade. Quando eu vou aos eventos, por exemplo, a maioria é de artistas brancos, falta representatividade no meio, porque a ilustração é bem-aceita em termos de narrativa”, crítica o ilustrador.
 
 

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