Correio Braziliense
postado em 22/07/2020 07:31
Qualidade é das palavras que movem o envolvimento autoral da artista multimídia Jocy de Oliveira, autora de óperas e vencedora de prêmios como Jabuti (pela dedicação à literatura) e, nos Estados Unidos, o prestigioso Guggenheim. “Quando crio uma obra, procuro um momento de intuição poética, uma verdadeira cumplicidade entre artista e audiência, um momento em que nossa percepção de tempo e espaço se expanda e mergulhe em nosso interior”, comenta Jocy, pianista e compositora, que aos 84 anos, lançou, pelas plataformas, o longa Liquid voices — A história de Mathilda Segalescu, “uma ópera cinemática”, como ela define.
A obra representa um novo formato de cinema e de ópera, dado que se trata de peça concebida e roteirizada para cinema. Não é mero do registro de um espetáculo apresentado em teatro.Com os primeiros anos de vida cercados pela Segunda Guerra, Jocy bebeu do encadeamento histórico para o filme. “A memória veio a influenciar muitas gerações com acesso ao conhecimento. O meu filme trata de uma narrativa ficcional, a partir de eventos factuais, trazendo repetições históricas de refugiados através dos tempos”, explica.
Em Liquid voices, a célebre cantora judia Mathilda Segalescu adentra com o piano em derradeira viagem no Struma — último navio que zarpou da Romênia para Palestina, em 1941, levando 769 refugiados judeus, todos mortos em trágico naufrágio no Mar Negro. Um pescador árabe descobre o piano, visto como caixa preta do acidente capaz de propagar o espectro de Mathilda.
Saiba Mais
Da criação, aos postos de diretora, produtora, e ainda abrindo frente para captação de recursos, Jocy segue na trincheira da música de vanguarda e multimídia, fonte de pesquisas americanas e europeias. “Tenho sido considerada pioneira na criação de óperas multimídias assim como a primeira a apresentar música eletrônica no Brasil (em 1961) e meu LP, em 1959, enunciou uma criação de ante bossa nova (A música século XX de Jocy, com relançamento em Berlim, para breve).” Liquid voices, a nona ópera multimídia de Jocy, percorre o mundo, com prêmios em Londres, Nice, Madrid, Nazaré, Nova York, Varsóvia e Santiago.
Opressão
“Para mim, tem sido uma experiência um tanto premonitória como, por exemplo, ao voltar à Segunda Guerra, com elementos como nazismo, discriminação e hegemonia, justo quando hoje o mundo sofre uma onda de extrema direita, com autoritarismo e fascismo nos atingindo a pele”, comenta a artista. O filme sugere vários caminhos ao espectador, como ela descreve: “uma fábula, um viés político, uma reflexão poética, uma reformulação do conceito operístico e cinemático”. Muito dos méritos do filme (atração do Now, Looke e Vivo Play) brotam dos cantores Luciano Botelho (tenor radicado no exterior) e Gabriela Geluda (soprano).
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