Correio Braziliense
postado em 31/07/2020 04:07
Quem consegue imaginar a cena de Michael Jackson dançando em uma mesquita, ao ofertar a quebra de seculares preceitos religiosos? Imenso sucesso quando da abertura nas bilheterias, o longa Sheikh Jackson dá a ideia do conteúdo que formata a 2ª Mostra de Cinema Egípcio Contemporâneo, estendida até 23 de agosto, por via digital. Nas palavras do curador Amro Saad, a peripécia de Michael Jackson é “impossível de acontecer, a não ser no cinema”. O pesquisador da sétima arte referenda o painel de filmes (exibido on-line e de graça) como revelador da grande parcela de conflitos entre tradição e aspectos contemporâneos que tocam cidadãos egípcios. Entender os outros e culturas diferenciadas fica mais fácil por meio da difusão no cinema. No caso dos filmes egípcios será possível acompanhar a mostra pelo site www.cinemaegipcio.com.
“O Egito tem se modificado nos últimos 10 anos, com muitas mudanças sociais, política e econômicas. Mas o mais interessante é a percepção do povo sobre o outro, sobre Ocidente. O avanço tecnológico, com certeza, e a internet abriram uma nova atenção dos egípcios para o vínculo com o mundo. Mas, sempre com a os cuidados de proteger e resguardar a identidade própria. Houve uma reforma na parte social para se aproximar do mundo e dos avanço nos outros países”, observa o curador Amro Saad que tem dupla nacionalidade, depois de anos morando no Brasil.
A mostra leva a chancela do incentivo feito pelo Centro Cultural Banco do Brasil e abriga metas ambiciosas de uma aproximação cultural. “Pretendemos abrir o debate sobre circunstâncias geográficas e sobre a criação dos filmes no país”, explica Saad. Na programação de hoje, serão mostrados Pó de diamante (às 19h), com mais de duas horas e meia de duração, e Fotocópia (às 22h). No primeiro, dirigido por MarMarwan Hamed, o protagonista Taha se embrenha, involuntariamente, em jogadas de crime e corrupção, deixando para trás a tranquilidade ao lado do pai deficiente. Já Fotocópia, de Tamer Ashry, mostra o aposentado Mahmoud perturbado com o avanço da tecnologia que ameaça o decadente império dele, condicionado a datilografia e fotocópias. Amanhã, às 17h, transcorre a palestra Música no Cinema Egípcio, com Hazem Shaheem. Na próxima semana (na sexta) é a vez da inclusão do workshop Documentários, dentro da programação de filmes.
A 2a Mostra de Cinema Egípcio Contemporâneo tem por eixo uma nova geração de cineastas, 99% composta por jovens com propostas de quebrar paradigmas, como observa o curador. “As transformações sociais e culturais nem sempre são alcançadas pela briga com os mais velhos, mas sim pela aproximação e pelos diálogos com gerações mais antigas”. No leque de filmes, quatro mulheres diretoras marcam presença, à frente dos longas Vila 69 (de Ayten Amin), Saída para o sol (de Hala Lotfy), Caos e desordem (assinado por Nadine Khan) e Joana d´Arc egípcia (fita de Iman Kamel, criada em 2106). O interesse dos espectadores infantis pode estar em filmes de propostas familiares como Dia do julgamento final (2018), atração de amanhã, às 19h.
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