postado em 22/11/2019 04:17
[FOTO1]O Museu Nacional da República recebe um conjunto de três exposições que vão do acervo da própria instituição até uma reunião de obras de Almandrade e de Rubem Valentim. Na galeria principal, a curadora Thaís Darzé reuniu 95 peças de Valentim e Mestre Didi em Simbólico sagrado, um diálogo com foco na herança cultural africana.
Contemporâneos e expoentes de uma mesma geração, Mestre Didi (1917;2013) e Rubem Valentim (1922-1991) tiveram histórias de vida muito distintas, mas tocam num mesmo ponto da produção artística brasileira. ;Eles têm objetivos muito similares, que é o de preservar, difundir e elevar o legado de povos africanos na diáspora no Brasil;, explica Thaís. ;A fonte de ambos os artistas é o simbolismo de natureza africana, as armas e os instrumentos utilizados pelos orixás. Esse é o ponto de partida do vocabulário de ambos. A gente propõe um olhar crítico para esse sagrado. Os artistas envolvidos com essas poéticas foram reduzidos ao campo do sagrado como algo místico, mágico, e se negligenciou a força política e de resistência que o sagrado exerce até hoje para a manutenção da cultura dos povos africanos no Brasil.; Para reunir as 95 obras, Thaís contou com colecionadores privados de Salvador, São Paulo e Brasília.
A Galeria Acervo recebe Pensar o jogo, uma celebração dos 45 anos de carreira de Almandrade com uma seleção de 80 obras, realizada pela curadora Karla Osório. ;Entre a geometria e o conceito, entre a forma e a palavra, entre o rigor espacial e a poesia. Assim caminha a obra de Almandrade, expoente baiano da arte conceitual e, hoje, um dos grandes nomes das artes visuais brasileiras, com produção respeitada nos principais circuitos de arte do país e reconhecida internacionalmente;, explica Karla, que representa o artista na cidade e intermediou a doação de uma escultura de Almandrade para o acervo do Museu Nacional.
Almandrade é um dos grandes expoentes da arte conceitual brasileira. Baiano, traçou um curso um pouco solitário no estado natal devido ao engajamento na arte concreta e conceitual nos anos 1970, mas foi reconhecido por nomes como Décio Pignatari e Helio Oiticica, alguns dos pilares do movimento. ;Seu trabalho, iniciado em meio ao vigor criativo que marcou o movimento artístico na década de 1970, tem um traço muito particular: representa a própria universalidade da arte, alternando-se entre a estética construtivista e a arte conceitual e experimental. Na Bahia, foi solitário no seu engajamento à arte concreta e conceitual;, diz Karla Osório.
Acervo próprio
O espaço do Mezanino do Museu Nacional ficou reservado para Doações 2019, reunião de obras doadas à instituição ao longo deste ano. ;O Museu Nacional da República, que, como todo museu brasileiro, não tem política de aquisição e, portanto a formação de um acervo coeso recebeu doações de peso durante o ano corrente;, avisa Charles Cosac, diretor do museu. Entre os destaques, ele cita um lote de 140 obras doadas por Karin Lambrecht, artista brasileira de origem alemã, hoje radicada na Inglaterra, e um conjunto de gravuras e matrizes de Fayga Ostrower doados pelos herdeiros da artista.
Um quadro de Marcelo Solá e uma fotografia da performance Imperatriz, da artista trans Élle de Bernardini, ambos doados graças à intermediação de Karla Osório, também integram a exposição. Cosac explica que não tentou criar nenhuma coerência curatorial para a exposição nem pensou na diversidade da produção da arte contemporânea. ;Elas (as obras) estão juntas simplesmente porque foram doadas no mesmo ano;, avisa o diretor, que pretende realizar, a cada ano, uma mostra das doações recebidas pela instituição. ;Espero que, com essa exposição, que ocorrerá anualmente até dezembro de 2022, o museu receba ainda mais doações e denote a transparência com a qual elas são recebidas;, diz.
SERVIÇO
Exposições
Sagrado Simbólico
Com Mestre Didi e Rubem Valentim. Curadoria: Thais Darzé
Pensar o Jogo
Mostra individual de Almandrade. Curadoria Karla Osorio e o artista
Doações 2019
Curadoria Charles Cosac
Visitação até 19 de janeiro, de terça a domingo, e aos feriados, das 9h às 18h30, no Museu Nacional da República (Setor Cultural Sul, Lote 2 Esplanada dos Ministérios)