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Estigmas no palco

postado em 06/12/2019 04:08
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;Quem não é respeitado com ternos e gravatas?;, questiona o diretor e dramaturgo Eugênio Lima. Em cena, ele dirige sete atores que, apesar da alfaiataria, estão enfaixados. ;Para mostrar que estão em situação de vulnerabilidade;, explica. No decorrer da narrativa, contudo, as faixas cedem lugar para o brilho, o colorido e a alegria. ;Ao contrário da frase ;viado quando morre vira purpurina, falamos em viado quando vive é que vira purpurina. Já passou da hora de abrir o diálogo de questões de tolerância, de respeito, de amor, da vida plena dos direitos que são negados. Nosso intuito é que as pessoas saiam pensando que é possível viver com o outro na integralidade do que ele é;, pontua.

De Salvador, a montagem Coisa de viado tem como proposta tirar o véu de temas como diversidade de gênero, transexualidade, lgbtfobia, homoafetividade, invisibilidade lésbica, com foco étnico/racial.

A trama nasceu de vivências reais e cotidianas. O grupo integra uma ONG baiana ; a Bumbá Escola de Formação Artística. ;Diante do que vimos e vivemos, começamos a pensar como poderíamos tratar dessa questão mediante o cenário da cidade e do país e que afetava diretamente os jovens;, relembra Lima. A partir de questionamentos, pesquisas e dos relatos de opressão e ;brincadeiras; pejorativas construiu-se a narrativa da peça. ;Os textos são muito políticos e densos. Alguns são improvisados, outros da internet e também utilizamos escritos da Linn da Quebrada. Contudo, toda a opressão chega para o público de acordo com o universo LGBT, com muito aroma, muita alegria, muita lacração;, descreve o diretor.

Ao encenar estigmas e opressões vividos por gays, lésbicas e trans negras, a produção abre um canal de comunicação imediato com o público, sem deixar de lado uma experiência sinestésica de aroma, figurino e teatro. ;A nossa vontade de trazer o espetáculo para Brasília veio pelo momento de retrocessos que estamos vivenciando no país, e nada melhor que trazer a denúncia à capital do Brasil. Essa justificativa nos ajudou a aprovar o projeto no edital de cultura do governo da Bahia, que tenta resistir com a falta de recursos federais no Nordeste;, conclui Roberto Júnior, produtor da peça.

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