Divirta-se mais

Existência surrupiada

postado em 06/12/2019 04:08
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Há dois anos, o Festival de Brasília do Cinema trouxe um inesperado exemplar de filme de terror, a produção paraibana O nó do diabo. A fita investia o foco num revide ao patriarcado e à elite que cavou desigualdades abissais pela engrenagem escravagista. Agora, com O juízo, novo filme de Andrucha Waddington, pesa a capacidade narrativa e cênica dos magnânimos Lima Duarte e Fernanda Montenegro, a serviço da representação de um cíclico enredo que envolve dinheiro fácil e exploração. Tudo decorrente da penúria de escravos.

Uma propriedade secular, no Caminho do Ouro (região de Minas Gerais), representa muito para o enredo escrito por Fernanda Torres. Saltam aos olhos a direção de arte e a de fotografia, respectivamente, a cargo de Rafael Targat e de Azul Serra. Apesar de um lugar de destaque para São Dimas (o citado ;bandido bom;, nas crenças católicas), o filme cerca, na realidade, as injustiças reservadas ao escravo Couraça (Criolo, em participação emblemática). Silenciado por séculos, ele retorna como companhia inesperada (e inconveniente) para o seio familiar de Augusto (Felipe Camargo), um herdeiro que vive a estagnação do ócio, a serviço de mero apego material.

Com absoluta falta de propósitos, Augusto se muda para o interior, levando a mulher Tereza (Carol Castro) e o filho Marinho (Joaquim Torres Waddington). Descobertas de pertences como anéis e cartas balizam a narrativa do longa que trata de ajuste de contas. Entre episódios de agressões e acidentes, O juízo estabelece uma linha de suspense com habilidade distribuída entre os personagens coadjuvantes. Num clima soturno, que trata de falta de amor e de individualismo crítico, sem alardes, O juízo tem muito a dizer.



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