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Crítica / Judy %u2014 Muito além do arco-íris ***

Com o talento explosivo de Renée Zellweger nas telas, o mito de Judy Garland, estrela da fase de ouro de Hollywood, ressurge em filme de Rupert Goold

Correio Braziliense
postado em 31/01/2020 04:17
Enquanto não se revela nos palcos, Judy (Renée Zellweger) é sufocada pela avassaladora vida doméstica
 
Amargo sabor de um sorriso 

Mais do que imitação ou interpretação, há personificações na história do cinema que motivam um entusiasmo bastante forte por parte de todo e qualquer espectador. Quem descola associações de Truman Capote do protagonista encarado pelo perfeccionista Phillip Seymour Hoffman, na telona; quem desprezaria a performance de Jamie Foxx, quando deu vida a Ray Charles na telona, e, mais: quem, depois de assistido a Jackie, não repensa as feições de Jacqueline Kennedy Onassis, sob o prisma da sensível Natalie Portman no filme de 2016? Pois, bem, nessa linha em que se compreende a expressão “bigger than life” — vinculada a efeitos memoráveis ou exuberantes, no termo em inglês —, Renée Zellweger desponta, irretocável, em Judy — Muito além do arco-íris.

Há um filme na carreira de Judy Garland, morta aos 47 anos, que, numa tradução, ao pé da letra, soaria como Eu poderia seguir cantando. A ideia traz o avesso do que se vê no longa assinado por Rupert Goold. Numa sequência de impasses, atritos e falta de moderação, a atriz — por toda a vida, celebrada como a estrela-mirim de O mágico de Oz (1939) — Judy Garland não consegue dominar a turnê inglesa feita numa passagem pelo palco do famoso nightclub The Talk of the Town. Impecável e magnética, Renée Zellweger, muito inclinada a conquistar o segundo Oscar da carreira, entoa clássicos como San Francisco e Come rain or come shine.

Mas tal qual o desafio envolto em ansiedade, em momento de humilhação pública, experimentado pela Marilyn Monroe da cinebiografia Sete dias com Marilyn (com a sensacional Michelle Williams), Judy parece prestes a sucumbir. O filme, baseado em peça de Peter Quilter, traz a atriz irlandesa Jessie Buckley (de Chernobyl) na pele de uma espécie de bengala para a abatida Judy: ampara a solitária estrela, interpretando a jovial tutora Rosalyn.

Autor de roteiros como os de alguns episódios de The crown, Tom Edge avança pelos bastidores do showbiz, mas não ignora a camada de dramas pessoais de Judy, associada ao contato com os filhos Lorna, Joe e Liza. Resíduos tóxicos de uma vida repleta de esgotamentos ainda ficam evidentes, dado o contato da atriz com pílulas e álcool. A conjuntura emocional é abalada ainda pelos duelos junto ao ex-marido Sid (Rufus Sewell) e ao constrangedor flerte com Mickey Deans (Finn Wittrock), candidato ao posto de quinto marido. Antes dos golpes finais, embalados por músicas como For once in my life e, claro, Over the rainbow, Judy traz emblemáticas, precisas e envolventes cenas de Judy, numa escalada torta junto ao sucesso na MGM, em esclarecedores flashbacks protagonizados pela jovem atriz Darci Shaw.
 
 

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