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Crítica / Açúcar ***


Há sete anos, a diretora Renata Pinheiro (ao lado do corroteirista Sergio Oliveira) levou às telas Amor, plástico e barulho, filme que revelava a destituição de um sonho, a decadência de uma cantora e a renovação de um quadro para o terreno da música brega. Dos mesmos criadores daquele longa brota a força criativa por trás de Açúcar. Modelos de exploração social e uma cultura que sedimenta privilégios e fecha caminhos para o crescimento dos desfavorecidos está em primeiro plano no longa estrelado por Maeve Jinkings (Boi neon). Um retorno à Casa Grande coloca a protagonista frente a frente com uma desafiante existência, em meio à Zona da Mata pernambucana.

Entre expressões pejorativas (para se referir aos empregados), o medo de assimilar a perda de status e um conflito (rico no reinado de inveja), as reais raízes da protagonista Bethânia (Jinkings) são renegadas. Para si, ela não admite que “gente seja igual”, como alerta a jovem Alessandra (Dandara de Morais, premiada pelo longa Ventos de agosto), empregada ocasional da proprietária de terras. Entre outras pequenas vitórias, Alessandra reluta a vestir uniforme.

Favores implantados num cotidiano sem contrapartidas acalentam o modelo de vida de Bethânia. Apegada a referências do passado, e com o cabelo alisado e clareado, Bethânia irradia uma sensação de propriedade capaz de fazê-la bradar: “Essa terra sou eu!”. Alheia à mestiçagem e autoritária, ela vive de aparências e recebe mimos como a visita da madrinha Dona Branca (Magali Biff). O aprendizado desta senhorinha da nossa época se faz necessário e desemboca num perturbador cenário que dá espaço ao adensamento de valores ancestrais. Dados que tornam o filme interessante e imprevisível.