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Crítica / Mulher ***

Correio Braziliense
postado em 13/03/2020 04:17
Filme da dupla Anastasia Mikova e Yann Arthus-Bertrand equaliza a capacidade de denúncia de mulheres presentes em 50 países
 
A voz da igualdade

Como verdadeiras metralhadoras em ação, uma leva de determinadas mulheres prova, por meio da singularidade e da abrangência em depoimentos contundentes, o quanto devem ser levadas em conta e o quanto há poder de união, quando se juntam em defesa de relatos de sororidade.

Num trabalho monumental, o documentário Mulher estimula a capacidade de escuta dos espectadores, uma vez que o grosso do enredo está no teor auditivo. Ainda assim, não falta o colorido de imagens caprichadas supervisionadas pelos diretores Anastasia Mikova e Yann Arthus-Bertrand.

Yann é fotógrafo e jornalista (além de realizador do longa Home, em associação com Luc Besson) enquanto Anastasia Mikova, também cineasta, tem larga experiência como repórter. Entre a descrição de atrocidades e o enlevo de situações sublimes (em que pesa o tema da maternidade, entre tantos outros), Mulher se prende ao conteúdo sintetizado, por excelência, já que foram ouvidas 2 mil mulheres residentes em 50 países.

Em se tratando do espírito de celebração, Mulher é exemplar, com amplo espaço para discussão de ousadias cotidianas, tramas de autoafirmação e vitórias no campo profissional (num dos relatos, uma depoente conta do gatilho inesperado para a convicção de assédio moral, num alerta dado justo por um homem, companheiro de labuta). Mulher capricha nos relatos tensos que cercam dados como envelhecimento e absoluta solidão.

Organização

Ainda que incomode alguns clichês estéticos, o documentário tem um potencial de alerta e de denúncia fortes. Sistematizado pela organização minuciosa das editoras Françoise Bernard e Brigitte Delahaie, o filme incrementa uma plataforma de respeito que deveria ser assimilado por todo e qualquer verdadeiro homem.

Mas, nem tudo é festa, e nos relatos pesam asperezas e crueldades inimagináveis. É uma experiência extremamente revoltante acompanhar as tramas relacionadas à atuação de organizações como o Estado Islâmico e a milícia congolesa Raia Mutomboki, enredadas em tópicos de estupro e extremada escalada de degradação.

Casamentos arranjados, a venda para servilismo sexual e o abuso de crianças são atrozes. Por U$ 5 ou um maço de cigarro, os crimes hediondos tiveram brecha. Mas, ao menos, Mulher desfruta do poder de denúncia.
 
 

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