postado em 22/04/2008 19:51
O presidente da Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos), Synesio Batista da Costa, disse nesta terça-feira que a entidade vai processar a Mattel por danos ao setor de brinquedos com a realização de recalls. Para ele, o consumidor ficou amedrontado com os riscos e deixou de comprar.
"Estamos quantificando as perdas e vamos cobrar os danos dos responsáveis", afirmou referindo-se à Mattel e aos prejuízos causados por recalls mundiais em 2007. "Se essa empresa (a Mattel) não quebrar por isso (os recalls), vai quebrar por qualquer outro motivo", afirmou.
A Mattel, maior fabricante mundial de brinquedos, anunciou ontem prejuízo de US$ 46,6 milhões --US$ 0,13 por ação-- no primeiro trimestre, ante lucro de US$ 12 milhões --ganho de US$ 0,3 por ação-- no mesmo período no ano passado. De acordo com Costa, havia "defeito no projeto da Mattel". "Tinha de testar antes, não pode colocar no mercado assim, com problema técnico", criticou.
Os recalls de brinquedos, tanto da Mattel como da Gulliver, no Brasil, provocaram uma perda de faturamento para o setor de R$ 300 milhões no Brasil e de US$ 5 bilhões no mundo, afirmou a Abrinq. Pela estimativa de Costa, o faturamento do setor no Brasil podia ter crescido mais do que os 2% entre 2006 e 2007, quando a indústria brasileira fechou com faturamento de R$ 2,234 bilhões. No mundo, o faturamento do setor registrou queda de 5%, também atribuída ao medo do consumidor com os recalls.
Com o resultado das empresas em US$ 68,3 bilhões, a perda estimada é de US$ 5 bilhões. Costa criticou bastante o modelo chinês de fabricação de brinquedos e disse que a concorrência é desleal. Os recalls, para ele, só vieram prejudicar ainda mais a imagem do setor.
Mattel
Desde agosto, a Mattel fez retiradas do mercado de mais de 21 milhões de brinquedos chineses, a pedido da CPSC (sigla em inglês para a comissão americana de segurança dos consumidores), essencialmente por defeitos de fabricação, mas também devido à quantidade em excesso de chumbo nas tintas usadas no acabamento dos produtos. No primeiro, em 14 de agosto, a Mattel anunciou um recall de 18,6 milhões de brinquedos com ímãs no mundo, incluindo cerca de 850 mil unidades comercializadas no Brasil.
Em outro procedimento, em 5 de setembro, a empresa anunciou que recolheria mais 844 mil brinquedos fabricados na China pelo excesso de chumbo. Em 25 de outubro, a CPSC anunciou a retirada do mercado de mais 346 mil produtos para crianças fabricados na China, entre os quais 38 mil Fisher Price, do grupo Mattel.
Gulliver
Em agosto do ano passado, a Gulliver - tradicional fabricante de São Caetano do Sul (ABC paulista)- comunicou a retirada de produtos importados da linha Magnetix das lojas. A Gulliver vendeu 35 mil itens da linha Magnetix no Brasil em 2006 --brinquedos com esferas metálicas e hastes plásticas com ímãs em suas extremidades que permitem que as crianças montem objetos.
Em março deste ano, a Gulliver anunciou recall de 6.209 unidades dos brinquedos de montar Magtastik e Magnetix Jr. devido à possibilidade de partes e peças dos brinquedos serem engolidas pelas crianças.
Long Jump
Em novembro de 2007, a distribuidora Long Jump iniciou a troca dos brinquedos Bindeez por qualquer outro produto de igual valor ou a devolução do dinheiro. Os brinquedos podem conter uma substância que, em contato com água, se transforma em GHB, droga conhecida como "ecstasy líquido". Os brinquedos Bindeez, da fabricante australiana Moose Enterprise, são vendidos pela Long Jump no Brasil. Em comunicado, a distribuidora informou que, desde maio de 2007, 63.696 unidades da linha Bindeez --composta por quatro modelos de brinquedos-- foram comercializados no país.