Economia

Juros continuarão em alta, sinaliza ata do Copom

Selic, que está em 11,75%, deve encerrar o ano em 13,25%, acreditam analistas

postado em 24/04/2008 20:51
Apesar de não sinalizar qual o tamanho do aperto que está por vir, o Banco Central indicou, por meio da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada ontem, que novos aumentos de juros estão a caminho. Com base nas justificativas apresentadas pelo BC e do reconhecimento de que a inflação pode fugir ao controle, os analistas acreditam que a taxa básica (Selic) deverá encerrar o ano em 13,25%. Isso significa dizer que, incluindo a alta de 0,5 ponto percentual na semana passada ; a primeira em quase três anos ;, os juros tendem a aumentar dois pontos percentuais até dezembro. Já na reunião de junho (nos dias 3 e 4), o Copom elevará a Selic em mais 0,5 ponto. [VIDEO1] "As incertezas quanto ao rumos da inflação cresceram muito. Os reajustes dos alimentos têm sido fortes, há riscos de desabastecimento em vários setores, o que facilita repasses da indústria e do comércio para os consumidores e, em algum momento, os combustíveis subirão, contaminando os demais preços da economia", disse o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa. Para ele, o BC deixou claro que, ao forçar a mão na taxa de juros agora, está se antecipando a um possível descontrole da inflação. "Se não agisse assim, teria de correr atrás dos prejuízos, impondo um custo desnecessário à economia, como um recuo mais expressivo no ritmo de expansão do Produto Interno Bruto (PIB)", acrescentou. Segundo o BC, as expectativas do mercado para a inflação se deterioraram muito desde a reunião de março do Copom. As estimativas deste ano para o IPCA, usado como referência para o sistema de metas do governo, saltaram de 4,41% para 4,66%, superando os 4,5% perseguidos pela instituição. No cenário base do BC, que levou em consideração a manutenção da Selic em 11,25% até dezembro, também a estimativa para o IPCA superou o centro da meta. O mesmo aconteceu nas previsões para 2009. E é para aquele ano que estão voltadas as atenções do BC, pois a maior parte da alta dos juros só terá efeito entre seis e 12 meses. "O BC quer, de qualquer jeito, ancorar as expectativas de inflação de 2009 ao centro da meta", frisou o economista-chefe da Corretora López León, Flávio Serrano. Mantega silencia Liderado por Henrique Meirelles, presidente do BC, o Copom enfatizou sua grande preocupação com o descompasso entre oferta e demanda. Na avaliação dos diretores do banco, já há desabastecimento de insumos e matérias-primas em setores da indústria. Mas o que realmente preocupa o BC é a possibilidade de as empresas se aproveitarem do forte aumento do consumo para reajustar as tabelas de preços, sobretudo nos segmentos em que a quantidade de mercadorias está restrita. Somente a hipótese desse movimento se confirmar já contaminou as expectativas futuras de inflação. "Por isso, o BC ressaltou tanto a necessidade de prudência", assinalou Newton Rosa, lembrando que nem mesmo o expressivo aumento das importações, favorecidas pelo dólar em baixa, está contribuindo para aumentar a competição na economia e inibir os reajustes. Na opinião do Copom, a demanda tão aquecida não seria temerária se os investimentos para o aumento da produção não estivessem demorando tanto para maturar. "A ampliação das fábricas é vital para que o consumo continue crescendo sem pressões inflacionárias", ressaltou Flávio Serrano. O Copom reconheceu ainda que o governo também tem sua parcela de culpa no aumento da inflação, ao ampliar demais os gastos públicos. Crítico feroz do BC, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, optou pelo silêncio, seguindo recomendação do presidente Lula para não criar marolas na área econômica. Combustíveis devem subir Nem mesmo o Banco Central acredita mais na manutenção dos preços da gasolina nos atuais patamares, diante da disparada dos preços do petróleo ; o barril encerrou as negociações de ontem cotado a US$ 116,06 em Nova York, com baixa de 1,9%. A despeito de ter frisado na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) que não prevê reajuste para o combustível nem para o gás de cozinha, a instituição reconheceu que esse cenário se tornou improvável. O mercado, inclusive, já fez as estimativas de alta. Prevê aumentos nas bombas entre 5% e 8% para a gasolina e entre 5% e 7% para o óleo diesel. Para o BC, ressalta o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, o melhor é que o reajuste dos combustíveis saia logo, pois os impactos serão absorvidos ao longo deste ano, em que sabe que a inflação ficará acima do centro da meta, de 4,5%. Ele ressaltou que o fato de a Petrobras adiar o inadiável só contribui para alimentar as expectativas futuras de inflação, estimulando reajustes preventivos em vários setores da economia. "É melhor resolver logo esse assunto, para que o BC possa se focar na inflação de 2009, que sentirá o baque dos juros", afirmou. Segundo Flávio Serrano, economista-chefe da Corretora López León, mesmo não admitindo oficialmente o reajuste da gasolina e do diesel, o BC implicitamente contabilizou o aumento nas suas projeções para os preços administrados, cuja alta foi mantida em 4% para este ano. "No mercado, a aposta é de que os administrados subam 3,5%. Ou seja, a diferença de 0,5 ponto percentual é uma gordura para acomodar o ajuste dos combustíveis", destacou.

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