Economia

Crise alimentar pode levar a guerras civis, diz FAO

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postado em 25/04/2008 15:34
O diretor-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), Jacques Diouf, alertou nesta sexta-feira para o risco de guerras civis em alguns países devido à escassez de alimentos e pediu um reforço no sistema internacional de alimentos. Segundo ele, os líderes internacionais falharam em agir após os alertas feitos pela FAO de que havia uma "catástrofe previsível" se aproximando. Diouf afirmou que os "governos eleitos" têm de assumir a responsabilidade diante de seus povos. Questionado em entrevista à rede de TV France 24 se concorda com o diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Dominique Strauss-Kahn, que disse que os preços em alta dos alimentos podem "terminar em guerra", Diouf respondeu: "Com um qualificativo: guerra civil". Para ele, o risco de guerras civis é considerável em países na África --principalmente na região subsaariana--, mas também na Ásia e na América Latina. "Dentro dos países, se, mais uma vez, todas as medidas necessárias não forem tomadas, há risco de conflitos. Sabemos que já ocorreram mortes em alguns países", disse Diouf. "Infelizmente, sempre esperamos até que ocorra uma catástrofe nesse mundo antes de agirmos." Distúrbios ligados à alta dos preços dos alimentos e à falta de comida já ocorreram em diversos países, como Haiti, Indonésia, Camarões, Egito, Costa do Marfim, Mauritânia, Etiópia, Madagáscar, Filipinas e Indonésia, segundo a agência de notícias France Presse. Diouf destacou a disputa entre políticas de diferentes órgãos internacionais, o que dificulta a implementação de medidas para solucionar a crise. "É verdade que o Banco Mundial e o FMI [Fundo Monetário Internacional] apresentaram, ao longo das duas últimas décadas, políticas que desmontaram sistemas implementados para proteger agricultores em países Terceiro Mundo, notadamente na África", disse. "[Mas] eu diria que o Banco Mundial reconheceu que suas políticas para a África não foram boas e que tem de mudá-las." Ele negou que uma alta nos preços em mais de 120 países, no caso do arroz, acabaria beneficiando os agricultores mundiais. "Tem de haver investimento na gestão do uso da água", disse. "Na África, em 96% da terra, a produção depende da incidência de chuvas". "Quando se considera as precárias redes de transporte de água (...) e as instalações inadequadas de armazenamento [esses países] perdem entre 40% e 60% da produção a cada ano." Subsídios. Diouf sugeriu, em entrevista ao jornal alemão "Süddeutsche Zeitung", que a comunidade internacional conceda subsídios aos agricultores dos países em desenvolvimento para compensar a ajuda estatal recebida pelos agricultores do Hemisfério Norte. "É preciso criar condições iguais para todos", afirmou Diouf. "Não tenho nada contra o fato dos agricultores dos países desenvolvidos receberem subsídios para elevar seus rendimentos a um nível conveniente. Porém, os agricultores dos países em desenvolvimento também devem receber estes subsídios de parte dos doadores da comunidade internacional." "Se não queremos isto é necessário suprimir os subsídios para todo mundo. Não é aceitável que os pobres sejam sempre os mais pobres", acrescentou. Ao ser questionado sobre quem se beneficia com a atual crise alimentar mundial provocada pela alta dos preços, o senegalês citou "supermercados e negociantes que vendem as mercadorias a preços elevados", assim como os "especuladores dos mercados a termo, que ganham muito dinheiro". "E certamente, se beneficiam os agricultores dos países ricos. Podem produzir em boas condições e ainda recebem subsídios", completou. ONU O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Ban Ki-moon, disse hoje que a alta nos preços dos alimentos já chegou ao nível de uma crise global. "Esse forte aumento nos preços dos alimentos se tornou uma crise global real", disse, em uma conferência em Viena (Áustria). "A ONU está muito preocupada, bem como todos os países-membros", afirmou, acrescentando que a comunidade internacional precisa tomar uma ação imediata.

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