postado em 29/04/2008 17:09
As Nações Unidas e outras organizações internacionais fizeram um apelo nesta terça-feira a uma ação urgente para combater a disparada dos preços dos alimentos, criando um estado-maior de crise e solicitando um comércio mundial mais equitativo.
"Nossas necessidades para 2008 são de 3,1 bilhões de dólares, faltando-nos mais 755 milhões de dólares para enfrentar os recentes aumentos dos preços", lembrou Josette Sheeran, diretora executiva do Programa Mundial de Alimentos (PAM).
"Dispomos atualmente de apenas de 18 milhões de dólares em dinheiro", afirmou alarmada.
Já a Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO) pede 1,7 bilhão de dólares para reforçar a produção agrícola de países atingidos pela crise, num momento em que os estoques de alimentos mundiais estão no nível mais baixo desde 1980.
"Acionamos o sinal de alarme, mas ninguém tomou a decisão no momento apropriado", denunciou o diretor-geral, Jacques Diouf. "É preciso parar de falar e passar à ação".
"As próximas semanas são críticas. Para dois bilhões de pessoas, os preços dos alimentos elevados são agora uma questão de combate cotidiano, de sacrifício e até de sobrevivência", advertiu Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial.
O secretário-geral da ONU anunciou a criação imediata de uma célula de crise reunindo os chefes das agências das Nações Unidas, do Fundo Momentário Internacional e do Banco Mundial, ficando sob a autoridade direta de Ban.
A prioridade imediata é de "nutrir os famintos", reiterou Ban, renovando o apelo aos países doadores a responderem com urgência e de maneira completa.
A célula de crise será coordenada pelo principal funcionário humanitário da instituição, o subsecretário adjunto John Holmes.
O anúncio foi feito ao término de uma reunião de 27 importantes agências em Berna para elaborar um plano de batalha para enfrentar a crise alimentar, que ameaça aumentar o número de desnutridos em cerca de 100 milhões de pessoas, segundo o Banco Mundial (Bird).
Ban também fez um apelo a países como Brasil e Egito, que adotaram restrições à exportação de alguns produtos alimentícios, para que abandonem estas medidas, já que reduziram a oferta e contribuíram para a escalada dos preços.
Para enfrentar a recente escalada do custo dos alimentos, Brasil, Argentina, Vietnã, Índia e Egito limitaram a exportação de alguns produtos para garantir o abastecimento interno.
"Devem ser implementadas medidas de política doméstica que corrijam as distorções e não ponham em risco a oferta, junto a medidas de apoio orçamentário e apoio à balança de pagamentos para os países mais afetados", disse Ban.
As declarações foram apoiadas pelo diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, e pelo presidente do Bird, Robert Zoellick, ambos presentes na conferência.
O presidente do Bird deu as boas-vindas à decisão da Ucrânia de retirar as restrições à exportação de trigo, e destacou que a medida gerou uma queda imediata dos preços.
Lamy também disse que as restrições às exportações não são "boas soluções econômicas a curto prazo".
Um paradoxo da crise alimentar é que muitos grandes exportadores de alimentos como o Brasil, na linha de frente na batalha pela liberalização do comércio mundial na Rodada de Doha da OMC, estão agora adotando medidas protecionistas.
Ban disse que a prioridade imediata da comunidade internacional deve ser "alimentar aqueles que têm fome", e pediu que os países financiem "de forma urgente e cabal" o Programa Mundial de Alimentos (PAM).
"Sem um financiamento total destas demandas de emergência, corremos outra vez o risco de uma fome generalizada, desnutrição e distúrbios sociais em uma escala sem precedentes", alertou Ban.
Para dar uma idéia da dimensão do problema, o PAM advertiu nesta terça-feira que o crescente preço do arroz o obrigou a deixar de fornecer o café da manhã a 450.000 crianças pobres nas escolas do Camboja.
A agência afirmou que o programa foi suspenso porque já não era possível pagar o custo atual do arroz, que representa 76% dos lanches escolares.
Ban pediu a revisão dos subsídios aos biocombustíveis, considerados uma das causas da escalada dos preços dos alimentos.
"É preciso investigar mais o impacto da mudança do cultivo de alimentos à produção de biocombustíveis e todos os subsídios aos biocombustíveis devem ser revisados", afirmou.