postado em 02/05/2008 08:31
São Paulo - A elevação do Brasil a grau de investimento pela agência de classificação de risco Standard & Poor's (S) deverá abrir caminho para investimentos de longo prazo no país. Para o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, isso não pode representar um afrouxamento das metas de inflação, política fiscal e tampouco representar mudanças no câmbio flutuante. "A questão de ter mais dinheiro para investimento é extremamente positiva, nos dá a capacidade a médio e longo prazos para expandir com maior vigor a capacidade da economia e de crescer", afirmou. "Por outro lado, agora é importante que o Brasil continue, porque, como já dizia o meu avô, a economia não aceita desaforo: grau de investimento se ganha e se perde."
Meirelles disse que a melhoria da classificação tem o aspecto simbólico importante e deverá, na prática, atrair investimentos de melhor qualidade e dar maior tranqüilidade para o país financiar o emergente déficit nas contas externas. "O fato de termos o câmbio flutuante e reservas elevadas já estava nos dando condições de enfrentar tudo isso com maior tranqüilidade. E agora o grau de investimento ajuda", frisou.
Por outro lado, há tendência de parte do capital especulativo deixar o país. Ele acredita que, embora o grau de investimento tenha "pego muita gente de surpresa", de certa forma a elevação da nota já estava sendo antecipado pelo mercado especulativo. "Porque ele já apostou no grau de investimento e já ganhou."
Contas públicas
O aumento dos gastos públicos, segundo ele, é um tema a ser discutido pela sociedade. Porém, Meirelles preferiu enfatizar que a situação fiscal tem dois componentes, um deles - a arrecadação - que tem crescido muito e tem garantido atingir as metas de superávit primário (economia que o governo faz para pagamento de juros da dívida).
"O que é extremamente positivo - e foi mencionado inclusive pela agência - que os superávits primários que estão sendo entregues são suficientes e importantes", contou. "Evidentemente que essa questão da capacidade da tributação continuar a aumentar é uma questão macroeconômica importante", alertou. "Portanto, eu acredito que o debate que vai se colocar agora na sociedade e, certamente dentro do governo, é exatamente essa questão de travamento do aumento do gasto público."
Dólar e inflação
Ele admitiu que a maior entrada de dólares no País pode reduzir a projeção de inflação. Mas foi evasivo sobre a possibilidade de modificar a política de aperto monetário do Banco Central. Ele lembrou que o valor do dólar é apenas um dos fatores a serem levados em consideração. "O Brasil tem hoje um regime de câmbio flutuante com reservas internacionais elevadas, o que significa que, caso ocorra qualquer desequilíbrio nas nossas contas externas, o câmbio flutuante tem condições de ajustar isso, com calma, porque nós temos uma economia sólida e reservas elevadas."
Meirelles lembra que "existe uma série de outros fatores, como foi colocado nas atas do Copom (Comitê de Política Monetária) e nos relatórios de inflação que terão de ser levados em conta a cada reunião", observou.
Ao ser questionado se o Banco Central ainda está preocupado com a inflação, Meirelles argumentou que o BC deve se preocupar com a inflação por "dever de ofício". E garantiu que, se a inflação começar a dar sinais de descontrole, o BC "estará preparado para atuar", seguindo o regime de metas de inflação. "É importante que a comunidade saiba que nós temos um banco central atuante", reforçou.
Diante da pergunta se depois da elevação da nota de risco de crédito (rating) o Banco Central estaria mais ou menos preocupado com a inflação, Meirelles foi enfático na resposta: "Sempre preocupado, mas agora sereno", observou. "Porque nós temos um histórico de boa aplicação bem-sucedida do regime de metas da inflação."
Juros
Diante da pergunta se o Brasil poderia, afinal, chegar a ter juro real de 4% no médio prazo, ele salientou que a taxa real já vinha em uma trajetória de queda. Segundo ele, esse patamar deve ser atingido, mas somente mais no futuro. "Acredito que olhando, no longo prazo, sim, podemos contemplar uma economia estabilizada e, portanto, com prêmios de risco menores e, em conseqüência, com taxas de juros reais de mercado menores no futuro."
Investimentos
Meirelles pediu para que os empresários em geral sigam investindo no aumento da produção e na melhoria da competitividade, pois o câmbio flutuante se encarregará de corrigir eventuais distorções ao longo do tempo. "O importante é que os exportadores e os produtores de uma maneira geral invistam no Brasil. Porque a demanda interna no Brasil continua crescendo e é importante que o Brasil possa atendê-la", pregou.