postado em 25/05/2008 19:42
O governo argentino e os agricultores realizaram neste domingo (26/05) demonstrações de força em atos separados, como parte de um novo capítulo do conflito causado pela forma de tributação da soja e que se arrasta há mais de 70 dias na Argentina, um dos maiores países exportadores de alimentos do mundo.
Numa cerimônia oficial, em Salta (norte), ante 150 mil pessoas, segundo os organizadores, a presidente Cristina Kirchner não se referiu diretamente ao confronto com os produtores rurais e convocou para seu lado todos aqueles que quiserem "seguir construindo um país com eqüidade, com distribuição da renda".
Quase simultaneamente, 300 mil pessoas, segundo a polícia, aplaudiam em Rosário (300 km ao norte de Buenos Aires) os líderes agrários, num comício que teve o apoio de políticos e se transformou no primeiro grande ato opositor nos cinco meses de Cristina Kirchner no poder.
Críticas
Os líderes agrários criticaram duramente a política oficial e, embora antecipassem que vão atender à convocação de diálogo feita pelo Governo para esta segunda-feira, advertiram sobre a dimensão que poderia tomar o protesto se não houver solução para suas reclamações.
Rosario é o coração do complexo agroalimentar argentino além de ser, com um milhão de habitantes, a principal cidade de Santa Fé - a única província governada pelo socialismo.
Taxação
A questão sobre a taxação do lucro sobre a soja parece ter chegado a um beco sem saída; o governo não abre mão de seu programa de impostos móveis às exportações de grãos, e os agricultores não aceitam essa medida e exigem sua suspensão, para que assim, as manifestações, greves e o alerta nos campos sejam suspensos.
O programa tributário desencadeou a rebelião agrária em março passado, que tomou um viés político quando os dirigentes opositores decidiram rebelar-se e protestar contra a medida.
A crise é considerada a pior vivida nos últimos cinco anos de poder dos Kirchner, já que antes de Cristina assumir o cargo no início do ano, seu marido, Néstor Kirchner presidiu o país (2203-2007). Atualmente especula-se que o ex-presidente divide o poder com sua mulher e, recentemente, tornou-se o titular do Partido Justicialista (PJ, peronista), no governo.
Greve
O protesto dos agricultores gerou uma greve de 21 dias em março, que provocou o desabastecimento, além do aumento dos preços e alimentos e dos insumos e que praticamente paralisou as exportações de cereais, ao que se seguiu um 'lockout' patronal em maio, levantado à meia-noite de quarta-feira.
No entanto, a prolongação do conflito ameaça o papel da Argentina de provedora mundial de alimentos, uma potência agrícola com capacidade de alimentar aproximadamente 300 milhões de pessoas, de acordo com dados oficiais.
O país exportou em 2007 matérias-primas agrícolas e produtos agroindustriais por 45 bilhões de dólares, dos quais 13,4 bilhões foram fruto das vendas externas de soja e seus derivados.