postado em 29/05/2008 08:21
No melhor momento da sua história no Brasil, a indústria automobilística foi a mais beneficiada pelos incentivos fiscais a investimentos concedidos pelo governo no pacote da nova política industrial. Dos R$ 6,1 bilhões em desonerações fiscais previstas para estimular os investimentos dos diversos setores da indústria até 2011, as montadoras e os fabricantes de autopeças vão ficar com R$ 3,2 bilhões, o que representa mais da metade (52,8%) dos subsídios.
;Não é justificável uma concentração tão significativa dos incentivos em um único setor;, diz o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, assessor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, autor do levantamento sobre a desoneração dos investimentos.
Para ele, a nova medida de desoneração fiscal capaz de dar um relevante impulso adicional ao investimento é a depreciação de máquinas e equipamentos em 20% do prazo normal. O problema é que ela foi limitada à compra de máquinas e equipamentos para a fabricação apenas de bens de capital, automóveis e autopeças.
O Iedi entende que a definição de setores a serem contemplados com benefícios fiscais poderosos, como a depreciação acelerada de máquinas e equipamentos, deveria seguir critérios mais objetivos. Se os recursos são escassos, como argumenta o governo, deveria se incentivar o investimento nos setores que enfrentam restrições de oferta, estrangulamento da produção ou que precisam de muita competitividade para encarar os concorrentes externos.
;O objetivo seria remover limites ao crescimento industrial, neutralizando possíveis pressões inflacionárias;, afirmou o economista Almeida. Entre os setores que hoje enfrentam gargalos na produção, Gomes de Almeida cita a indústria química, a metalurgia e a siderurgia.
Tem direito quem investe mais, diz Anfavea
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, entende que o setor terá desonerações superiores aos demais na nova política industrial do governo porque também vai investir mais. ;O benefício é direcionado para qualquer empresa que investir;, disse ele, ressaltando desconhecer o estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Segundo Schneider, montadoras e autopeças anunciaram investimentos de US$ 20 bilhões para o período 2008-2010. ;Novos investimentos serão anunciados, até porque a política industrial ajuda a reforçar a decisão das empresas e porque o setor acredita na economia do País.;
Com 1,1 milhão de carros novos vendidos de janeiro até a última terça-feira - alta de 31% ante igual período de 2007 -, as montadoras caminham para superar o recorde de 2007, quando o consumo atingiu 2,46 milhões de veículos. Este ano deve chegar a 3 milhões. A produção ficará quase 10% acima da registrada no ano passado, a maior da história até agora, com 2,97 milhões de veículos. Várias empresas operam no limite da capacidade. Os US$ 4,9 bilhões que serão investidos este ano só pelas montadoras elevará a capacidade produtiva para 3,85 milhões de veículos e em 2009 para 4 milhões.