postado em 01/06/2008 09:17
Os auditores-fiscais da Receita Federal ameaçam iniciar uma nova greve a partir desta semana, mas tudo não passa de jogo de cena. Na guerra de nervos travada com os ministérios do Planejamento e da Fazenda ao longo dos últimos 70 dias, a categoria admite ter chegado ao limite, não vai cruzar os braços, pois sabe que é impossível avançar para além do que já foi conquistado ; R$ 19,4 mil de salário final em 2010. O desfecho de mais essa queda-de-braço reflete mudanças que podem, daqui para a frente, definir novos espaços na delicada relação entre governo e funcionalismo.
Ao descontar os dias parados e reduzir os salários dos grevistas da Receita, o Executivo mandou recados não só aos auditores, mas também às demais categorias que ensaiam protestos semelhantes. Apesar de ceder, de abrir o cofre mais do que poderia e de recuar em momentos decisivos, o governo cumpriu a promessa e descontou os dias parados dos funcionários que, durante a paralisação, não foram trabalhar. O gesto é simbólico. Tal punição nunca tinha sido aplicada com tanto rigor.
A partir de agora, e apoiado por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a prática de lançar na folha as faltas indevidas será comum. ;O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva fala que algumas greves são como férias. Não pode ser assim;, disse ao Correio o ministro Paulo Bernardo no mês passado. Desde o ano passado, a Secretaria de Recursos Humanos (SRH) acompanha de perto o trabalho dos RHs dos órgãos mais prejudicados por greves. Essa sintonia aumentou tanto que, ao contrário de outras épocas, a folha de pagamento é aberta e modificada com muito mais facilidade.
Pega de surpresa, a maioria dos sindicatos ainda não sabe como lidar com a novidade. ;Há muita disputa político-partidária e pouco embate sindical. As entidades estão um pouco perdidas;, reconhece um atuante líder dos servidores públicos. O discurso de palanque, admite o sindicalista, não funciona tanto. ;Por isso é importante renovar, preparar o terreno para quem vier depois do Lula;, justifica em tom desanimador.
Nelson Marconi, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo, explica que há entre os sindicatos uma disposição quase que generalizada de aproveitar o momento. Assim como no início do governo Lula, voltou-se nos últimos anos a apostar na bondade do ex-metalúrgico, diz o analista. ;A impressão é que eles (sindicatos) querem tirar proveito porque não sabem o que pode vir pela frente. Têm medo de que as coisas fiquem mais difíceis;, completa.
Segundo o especialista, o próximo presidente terá como principal desafio o controle dos gastos com pessoal. Administrar recursos humanos com políticas eficientes e racionais será uma exigência, não o diferencial. ;Seja quem for, vai ter de se preocupar com o peso da folha, terá de repensar também a estratégia de simplesmente focar a questão salarial das carreiras;, reforça Marconi.