postado em 11/06/2008 16:17
Os consumidores de baixa da renda deverão ser os principais responsáveis pela expansão do mercado de cartões de crédito neste ano. Nem mesmo a ameaça de um quadro inflacionário e o cenário de aumento da taxa de juros deve prejudicar o desempenho deste segmento, que, nos últimos cinco anos, cresceu 142%, e deve ultrapassar, no final de 2009, o grupo das demais rendas na participação do faturamento da indústria de cartões.
Em 2007, o grupo de consumidores de baixa renda (renda familiar de até R$ 1.499, conforme definição da pesquisa Itaucard) respondeu por 47,8% do faturamento do mercado de cartões de crédito, contra 52,2% das demais rendas (renda familiar acima de R$ 1.500). Em 2006, os índices foram de 45,8% e 54,2%, respectivamente.
"Ao final de 2009 e começo de 2010, a baixa renda deve ultrapassar a de demais rendas na participação de faturamento em cartões. Eles (baixa renda) já são 65,1% do número de cartões emitidos", disse Fernando Chacon, diretor de marketing de cartões do Banco Itaú.
Entre 2003 e 2007 (base da pesquisa Itaucard, com dados do mercado), foi vendido o dobro de cartões para a baixa renda (60 milhões de unidades) em comparação com as demais rendas (32 milhões). No período, a quantidade de cartões para baixa renda saltou 111% e a de alta renda, 96%.
Em relação ao faturamento nos últimos cinco anos, enquanto a baixa renda anotou alta de 142% nos últimos cinco anos, o grupo de demais rendas cresceu 85%, contra a taxa média do mercado, de 108%. Só em 2007, o faturamento da indústria de cartões de crédito com a baixa renda subiu 26,5% em relação a 2006, enquanto a do grupo de demais rendas, avançou 16,5%.
"A baixa renda tem puxado a expansão do mercado de cartões de crédito. (...) E será assim neste ano também. A penetração (de mercado) para este público ainda é muito baixa (cerca de 40% contra 60% para renda superiores). A inflação e o desemprego são ameaças, mas ainda assim, deve ser o mercado de maior expansão neste ano", disse Chacon.
Oportunidades
De acordo com o executivo, pesquisa realizada pela Itaucard com famílias de baixa renda (com e sem conta em banco, e não restrita a clientes do Itaú), em capitais e cidades do interior, apontou que esses consumidores utilizam o cartão de crédito, principalmente, para aproveitar ofertas, em emergências (compra de remédios em farmácias) e no parcelamento (de alimentos, roupas e bens duráveis).
"O mês não tem 30 dias para a renda do consumidor de baixa renda. Para a renda dele, o mês é mais curto e o cartão de crédito é importante para compensar a falta de dinheiro", explica Chacon, que aposta em um crescimento cada vez maior do uso dos cartões para o pagamento de alimentos, principal vilão da alta de preços no país desde o ano passado.
Segundo Chacon, a inadimplência entre os consumidores de baixa renda não é um problema. Ele lembrou que as taxas vêm em queda há três anos [o mercado não divulga índice de inadimplência] e que as financiadoras e bancos empregam suas ferramentas para evitar a falta de pagamento das faturas. Uma delas é o parcelamento da fatura --no momento do pagamento da fatura, e não da realização da compra--, que permite o consumidor a dividir sua dívida, independentemente de ainda não estar inadimplente.
"O parcelamento da fatura representa 20% do total do volume financiado na indústria. O valor da parcela sendo conhecido previamente é favorável . O que é ruim é o consumidor não saber o que vai pagar (por sua dívida)", avaliou o diretor de marketing.
Projeções
A expectativa do setor é que o faturamento com os meios eletrônicos de pagamento neste ano alcance R$ 223 bilhões, alta de 21,4% sobre o ano passado. "Prevemos 21,4% de crescimento do faturamento neste ano. No primeiro semestre, a expansão será de 22,4%. Isso quer dizer que o mercado de cartão de crédito não deve crescer tanto no segundo semestre", afirmou Fernando Chacon.
Para o diretor de marketing de cartões do Itaú, o crescimento menor no segundo semestre ocorrerá por conta da base maior de faturamento registrada na segunda metade do ano passado. Ele descartou que o mercado de cartões sofra reflexos negativos com a inflação e a taxa de juros maiores.
"O efeito da inflação não é negativo só para a indústria de cartões, mas devastador para o país. Há indícios de aumento de preços, mas o quadro inflacionário ainda não se configurou. Em momentos de apertos da economia, os meios de financiamento são mais necessários e se concentram mais riscos. Para a baixa renda, a perda do emprego é devastador. Mas não entendemos que o faturamento deva ser afetado. Mas estamos muito atentos", disse.
Caso o quadro inflacionário e de alta de juros se confirme, segundo Chacon, as financeiras e os bancos devem controlar a emissão de cartões de crédito. "O que tende a acontecer se a situação piorar é haver controle de limite de crédito."