postado em 18/06/2008 08:32
Um dos sinais da inclusão da classe C no mercado de consumo, as viagens aéreas estão deixando de fazer parte da planilha de gastos dos brasileiros menos abastados. O número de passageiros que voaram desde o início do ano é maior que o do mesmo período de 2007, mas o crescimento está perdendo fôlego. O incremento de 3,5% de janeiro a abril é o menor dos últimos quatro anos, de acordo com a Infraero.
A culpa é do reajuste dos preços. Desde o início de 2008 até o fim de maio, as passagens domésticas ficaram 11,13% mais caras em média do que em 2007. É a maior elevação dos últimos 12 anos. Desde 1997, em apenas dois momentos as passagens ficaram mais caras que no ano anterior (veja quadro). Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), desde 2000, voar pelo Brasil fica mais barato a cada ano que passa. A interrupção da trajetória de queda só está sendo revertida agora.
No acumulado dos últimos 12 meses, o reajuste repassado para os consumidores foi de 67,56%. Para voar de Brasília ao aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o brasiliense pagaria entre R$ 211 e R$ 1.337, por trecho, se tivesse comprado a passagem nesta terça-feira (17/06) no fim da tarde em uma das quatro maiores companhias do país. No fim do ano passado, era possível pagar menos de R$ 100 em cada uma delas. A tendência é que as promoções sejam cada vez menos agressivas, segundo estimativa do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea).
Sem os descontos, a saída para o comerciante baiano Joanésio de Sousa, 55 anos, foi voltar a viajar de ônibus. Quando há promoções, ele opta por vir a Brasília de avião, mas, sem elas, o preço passou de R$ 250 para R$ 800 e se tornou inviável, conta. Pela passagem de ônibus, pagou R$ 73. ;Meu filho tem uma agência de turismo e olha o tempo todo o preço de passagens porque preciso vir a Brasília praticamente todo mês. Mas agora está muito caro, foi melhor vir e voltar de ônibus mesmo;, contou ontem, antes de embarcar na Rodoferroviária para oito horas de viagem até Barreiras (BA).
As empresas creditam o aumento das passagens à elevação do preço do querosene de aviação, derivado do petróleo. Neste ano, ele já está 30,57% mais caro, contra 1,6% registrado no mesmo período do ano passado. De janeiro a dezembro de 2007, o aumento foi de 12,60%, segundo levantamento do Snea. O combustível representa, em média, 40% dos custos das companhias. Em nota, a Gol e a Varig alegaram ser este o motivo e acrescentaram que ;se o atual cenário de alta do preço do petróleo permanecer, é possível que seja necessário aumentar os preços das passagens;. Também em nota, a TAM informou que durante este ano os preços de vôos domésticos devem ficar em torno de 7% mais caros, e os internacionais, 5%, ;como forma de equilibrar o aumento dos custos da empresa em combustível;.
Neste ano, o mercado deve desacelerar, segundo o diretor internacional da Associação Brasileira das Agências de Viagem (Abav), Leonel Rossi Junior. Desde 2005, a venda de pacotes e passagens cresceu 20% ao ano. Em 2008, a expectativa é que aumente em torno de 10%, não só pelo aumento dos preços das passagens, mas também porque a população está gastando mais com outras despesas, em função da inflação em alta, e abrindo mão das viagens.