postado em 01/07/2008 12:38
O preço do petróleo registra alta nesta terça-feira (1º/07), voltando ao patamar de US$ 143 - mas sem superar a marca recorde de US$ 143,67 atingida nesta segunda-feira (30/06). Continuam a pressionar as cotações da commodity a incerteza dos investidores sobre a desvalorização do petróleo e a tensão entre Israel e Irã - o segundo maior exportador da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
Às 11h47 (em Brasília), o barril do petróleo cru para entrega em agosto, negociado na Nymex (Bolsa Mercantil de Nova York, na sigla em inglês), estava em alta de 0,99%, cotado a US$ 141,83. Até o horário, o preço máximo era de US$ 143,33 e o mínimo, de US$ 139,95. Em Londres, o barril do petróleo Brent chegou a ser negociado a US$ 142,52.
O secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, disse hoje em Berlim que "não há uma solução óbvia de curto prazo" para a disparada dos preços do petróleo. "Não há dúvida de que em nossos países e no mundo inteiro estamos sentindo o fardo dos preços altos do petróleo e dos alimentos", disse Paulson, após encontro com o ministro alemão da Economia, Michael Glos.
"Temos preocupações do lado da oferta, tais como a retórica do Irã, que devem provavelmente manter o nível dos preços", disse à agência de notícias Associated Press (AP) o analista Victor Shum, da Purvin & Gertz em Cingapura. "Não vejo muita dificuldade em chegar a US$ 150, o que pode acontecer nas próximas semanas."
Nesta terça-feira a IEA (Agência Internacional de Energia, na sigla em inglês) revisou para baixo suas expectativas sobre a demanda mundial de petróleo nos próximos cinco anos. A agência ressaltou que os elevados preços do barril são justificados pelos "fundamentos do mercado", e rebateu os argumentos que tentam explicá-los por movimentos especulativos.
O presidente da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), Chakib Khelil, disse, por sua vez, que a produção dos países que fazem parte da organização representará 52% da demanda de petróleo mundial em 2010, frente aos atuais 40%. Ele ressaltou que a organização está fazendo muitos esforços para elevar sua capacidade de produção de petróleo, e disse que nos últimos sete anos, na realidade, ofereceu 57% da oferta.
Ele ainda negou que a Opep fixe os preços do mercado e afirmou que nem os países produtores nem os consumidores têm interesse em que o preço do petróleo esteja elevado, já que "pode destruir a demanda".
O risco de mais desvalorizações do dólar também preocupa os investidores. O BCE (Banco Central Europeu), que se reúne nesta semana, deve elevar sua taxa de juros, dos atuais 4% para 4,25%, depois que a inflação na zona do euro chegou a 4%. Um aumento de juros na Europa, combinado aos baixos juros nos EUA, podem fazer a moeda americana perder mais terreno diante da européia.
Em setembro do ano passado, quando o Federal Reserve (Fed, o BC americano) reduziu sua taxa de juros de 5,25% ao ano para 4,75%, o barril estava no patamar de US$ 81. A partir de setembro, e até abril deste ano, o banco reduziu os juros sete vezes consecutivas, para a taxa de 2% (mantida na reunião do último dia 25).
No período, o barril do petróleo passou dos US$ 81 para US$ 114. A queda dos juros fez com que o valor do dólar acelerasse sua queda em relação ao euro - a moeda européia chegou ontem a ser negociada a US$ 1,57. Com o dólar desvalorizado, o petróleo (que é cotado em dólares) ficou mais acessível a mais compradores, pressionando a demanda global.
Irã
Os investidores ainda lidam com a situação tensa entre Irã e Israel. O episódio mais recente de tensão entre os dois países foi a declaração do ex-presidente iraniano Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, dada no domingo à rede de TV "Al Jazira". Ele disse que descarta um ataque de Israel às instalações nucleares do Irã, mas alertou que o país se arrependerá se decidir lançar um ataque contra seu país.
No mês passado, o diário americano "The New York Times" publicou uma reportagem em que diz que autoridades norte-americanas informaram sobre um amplo exercício militar realizado por Israel, que pareceu ser o ensaio para um possível ataque a bomba contra as instalações nucleares do Irã.
Em um outro episódio, o ministro dos Transportes israelense, Shaul Mofaz, afirmou a um jornal local que um ataque ao Irã parecia "inevitável" dado o aparente fracasso das sanções da ONU para impedir o acesso iraniano à tecnologia para a fabricação de bombas. O governo iraniano respondeu dizendo que o governo de Israel é "perigoso" e perturba a segurança e a paz mundial.
O temor no mercado é de que uma eventual retaliação na forma de suspensão das exportações da commodity faça o o preço do barril no mercado mundial disparar.
Previsões
Previsões de que o preço possa disparar não faltam: Khelil disse que o barril pode chegar a US$ 170 nos próximos meses. Em maio, o banco norte-americano de investimentos Goldman Sachs havia estimado que o barril de petróleo atingiria a marca de US$ 141 no segundo semestre (à época da previsão, o preço do barril estava em US$ 127) - o mesmo banco havia informado pouco antes que o barril chegaria a US$ 200 dentro dos próximos dois anos. O próprio Khelil já havia previsto em abril que o petróleo chegaria a US$ 200, pressionado pelo dólar em queda - à época desta previsão o barril estava no patamar de US$ 118.