Economia

Produtores de alimentos não podem ser culpados por crise, diz Lula

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postado em 01/07/2008 16:19
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira (1°/07) na Argentina, onde participa da cúpula do Mercosul, que os países da América do Sul, grandes produtores e de alimentos e de energia, devem estar atentos para que não terminem sendo responsabilizados pela instabilidade econômica nos países desenvolvidos. "Há muita coincidência entre a crise da especulação imobiliária nos Estados Unidos, que envolve bancos europeus, e a situação atual", disse Lula, diante dos presidentes do Mercosul, além dos sócios do bloco, Chile e Bolívia. "E até agora o FMI não deu um palpite de como os Estados Unidos devem fazer para consertar sua economia." "Temos que ter cuidado para que eles não joguem com essa crise da inflação dos alimentos. Ou vamos ver logo, logo, o FMI vindo aqui e já sabemos qual é o resultado --recessão, desemprego. Já vimos essa situação". Lula disse que "estranhamente", ao contrário do esperado, os Estados Unidos não fizeram ajuste na sua taxa de juros para cuidar de sua própria economia. O banco central americano (Federal Reserve) vinha cortando os juros até a semana passada, quando manteve a taxa estável em 2% ao ano. "Temos que tomar cuidado para que essa crise que estava a oito mil quilômetros não seja uma crise nossa", disse. Especulação O presidente Lula voltou a dizer que o problema na discussão sobre a alta de alimentos é a especulação das commodities no mercado financeiro, não o aumento da demanda no mundo em desenvolvimento. "Queira Deus que a cada dia um chinês mais possa estar comendo e que possamos vender mais nossos alimentos", disse. Segundo ele, hoje especula-se com a produção de petróleo e de alimentos. O presidente Lula receberá, nesta terça-feira, a presidência temporária do Mercosul, que exercerá durante os próximos seis meses. Ele voltou a dizer que o Brasil "há muito tempo não enfrentava um bom momento como esse". "Digo aos meus ministros, não me peçam para adotar medidas que possam prejudicar os avanços que nosso povo está tendo. Isso não vou fazer." Lula também mandou recado à Argentina, que impôs barreiras às exportações de seus grãos --principalmente soja. "Temos que ter cuidado porque o preço da soja, que hoje está alto, não sirva para que os empresários nos convençam para não entrar (na Rodada de Doha) Porque o preço sobe, mas também desce", disse Lula. "E é preciso ter clareza do que queremos, de como podemos avançar, como Mercosul." Biocombustíveis. Ao falar do encontro que será realizado no Brasil em novembro sobre os biocombustíveis --algumas vezes tratados como vilões pelos países ricos por gerar pressão sobre os alimentos, Lula disse que alguém ainda precisa ainda convencê-lo de que os biocombustíveis geram fome e que não trocará "estômago por um tanque de combustíveis". "Mas nessa questão da inflação e alimentos, nunca estivemos tão perto de resolver nossos problemas. Queremos que os países ricos nos tratem com respeito." Antes do discurso, Lula teve uma reunião a sós com a presidente argentina, Cristina Kirchner. Ela pediu que ninguém estivesse presente, além do tradutor. Na conversa, esperava-se que Cristina pedisse maior fornecimento de energia ao Brasil e que Lula criticasse as barreiras impostas pela argentina às exportações de trigo para o mercado brasileiro. Participam da reunião os presidentes de Brasil, Argentina, Uruguai e Venezuela. O Paraguai enviou um representante do presidente atual Nicanor Duarte Frutos, que deverá tomar posse como senador nesta terça-feira.

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