postado em 09/07/2008 10:19
Brasília, DF (FolhaNews) - A Polícia Federal temia que o banqueiro Daniel Dantas fugisse ou conseguisse evitar na Justiça sua prisão pela Operação Satiagraha. A ação ocorreu em meio ao meganegócio de fusão da telefônica Oi com a Brasil Telecom, que já foi controlada por Dantas. A PF descobriu, por exemplo, que o banqueiro montou um esquema para tentar enganar os agentes federais, divulgando informações à imprensa de que ele já estaria fora do país, em Nova York. Os policiais, porém, sabiam tratar-se de uma contra-informação.
Eles vinham monitorando os passos de Dantas nos últimos dias, no Rio, com o objetivo de articular a estratégia de sua prisão, informada com antecedência ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a Folha apurou, o governo Lula e a Oi não temem, pelo menos por enquanto, que a prisão de Dantas prejudique a fusão com a Brasil Telecom. Isso poderia ocorrer caso a operação de ontem tivesse acontecido antes de 25 de abril, quando a Brasil Telecom assinou com a Oi o compromisso de venda da empresa.
Antes do acerto oficial, por exigência da Oi, Dantas já havia assinado contratos de venda de sua parte na empresa, por mais de US$ 1 bilhão, segundo cálculos de especialistas. Agora, não pode recuar do acerto. O resultado da investigação e a "natureza e importância" da Operação Satiagraha foram passados ao presidente Lula no último domingo, antes de sua viagem ao Japão, pelo ministro Tarso Genro (Justiça). Na conversa, Lula ficou sabendo também que haveria prisões e mandados de busca e apreensão que atingiriam, além de Dantas, os sócios do banqueiro e Naji Nahas.
O próprio diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, só foi informado na semana passada de que a operação seria deflagrada ontem, repassando a notícia a Tarso, seu superior.
Mensalão
Até o momento, o Palácio do Planalto trabalha com a informação de que as novas investigações não incluem nenhuma novidade sobre o mensalão. Assessores do presidente, contudo, estavam preocupados ontem com a possibilidade de que o episódio traga de volta ao centro do noticiário os negócios de Fábio Luís, o Lulinha, filho do presidente. Ele chegou a negociar uma sociedade com Daniel Dantas na Gamecorp, antes de fechar com a Oi.
Os agentes da PF também vinham acompanhando as iniciativas dos advogados de Dantas na Justiça, que queriam evitar sua prisão. Eles chegaram a entrar com pedido de habeas corpus preventivo no Superior Tribunal de Justiça em 28 de maio, mas não obtiveram liminar. No dia 11 de junho, recorreram ao Supremo Tribunal Federal -o ministro Eros Grau foi designado relator do pedido, mas não houve decisão.
O advogado de Dantas, Nélio Machado, entrou com os pedidos de habeas corpus com base em reportagem da Folha publicada no dia 26 de abril que antecipava a informação de que o banqueiro era alvo da PF. No STJ, o pedido foi negado liminarmente. O relator desse caso, ministro Arnaldo Esteves Lima, alegou que "o periculum in mora, todavia, não se revela palpável, objetivo, a justificar o deferimento, desde logo, do "salvo conduto", pois a notícia jornalística, ainda que preocupante para os pacientes, o que é compreensivo, denota, no entanto, mera possibilidade, ao expressar, no condicional, ..."poderia levar à prisão...´".