postado em 14/07/2008 17:50
O plano de resgate idealizado para salvar duas gigantes hipotecárias americanas, Fannie Mae e Freddie Mac, é o último esforço do governo dos Estados Unidos para recuperar a estabilidade de um mercado que ameaça provocar um colapso. Apesar disso, ainda fica no ar a pergunta sobre a conveniência de uma intervenção estatal.
A manobra do Executivo, anunciada no domingo (13/07), foi feita em dois dias cheios de cansativas reuniões e consultas por parte do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) e do Departamento do Tesouro do país a bancos de investimento de Wall Street e legisladores do Capitólio.
O secretário do Tesouro, Henry Paulson, quis perceber o grau de nervosismo dos bancos de investimento sobre a delicada situação da Freddie Mac e da Fannie Mae, e averiguar se as entidades financeiras participariam do leilão de US$ 3 bilhões em dívida a curto prazo organizado pela primeira instituição para hoje.
A resposta foi variada, segundo fontes ligadas às conversas, mas as bolsas de Nova York reagiram com altas e os títulos dessas duas empresas se recuperaram das fortes quedas registradas nos últimos pregões.
O plano de resgate do governo prevê o aumento temporário da linha de crédito que as duas companhias têm com o Tesouro e aquisição, em última instância, de ações destas empresas.
*Crédito disponível* O atual montante de créditos disponível para as duas sociedades é de cerca de US$ 2,250 bilhões, valor fixado pelo Congresso americano há quase 40 anos.
A quantidade de que ambas as firmas vão dispor ainda será determinada, mas funcionários a par dos termos disseram que o Congresso deveria autorizar cerca de US$ 300 bilhões.
A Fannie Mae tem uma dívida de US$ 800 bilhões, enquanto a da Freddie Mac chega a US$ 740 bilhões.
As duas empresas garantiram hipotecas no valor de US$ 5,3 trilhões, quase a metade do mercado, pelo que o governo não pode permitir que ocorra um colapso em suas operações.
O Fed, por sua vez, autorizou o banco da autoridade monetária em Nova York a proporcionar capital às duas empresas, em caso de emergência.
Definitivamente, terão acesso ao guichê de desconto do banco, até agora reservado para as instituições comerciais e de investimento, para conseguir financiamento a curto prazo.
*Garantias* O movimento do governo reforçou a idéia de que os investidores podem contar com o Executivo para tirá-los de uma crise, algo que Paulson e o presidente do Fed, Ben Bernanke, quiseram evitar com todos os meios.
A pergunta sobre se o Executivo deveria auxiliar no resgate de empresas com turbulências financeiras foi feita pela primeira vez quando o governo interveio para tentar salvar o banco de investimento Bear Stearns, que acabou sendo comprado pela JPMorgan Chase. Entretanto, agora, as críticas aumentaram.
As duas companhias foram criadas pelo Congresso dos Estados Unidos para manter e aumentar a liquidez do mercado hipotecário, mas são controladas por acionistas.
O que está claro é que o governo não pode permitir uma crise financeira em nenhuma das duas firmas.
Com os preços dos imóveis descendo e o número recorde de execuções de hipotecas, o governo e o Congresso dependem da Fannie Mae e da Freddie Mac mais do que nunca.
Caso uma delas entre em colapso, possibilidade que pareceu real na semana passada quando suas ações caíram quase 50%, seria um duro revés para o mercado hipotecário e imobiliário e colocaria em perigo toda a economia americana.
*Salvação* O presidente e executivo-chefe da Fannie Mae, Daniel Mudd, elogiou o anúncio do governo, ao afirmar que dadas as turbulências do mercado, as opções para ter acesso a fundos provisórios "ajudarão a fortalecer a confiança neste".
No entanto, Mudd declarou que a empresa conta com "um acesso mais que adequado à liquidez" procedente dos mercados de capitais.
O principal responsável da Freddie Mac, Richard Syron, disse, por sua vez, que a ação do governo garante aos mercados mundiais que as duas companhias "continuarão apoiando os compradores de imóveis e inquilinos americanos".
A Fannie Mae, criada em 1938 como parte do New Deal que tirou os Estados Unidos da Grande Depressão, e a Freddie Mac adquirem hipotecas dos bancos e de outras pessoas que fazem empréstimos privados e as combinam em pacotes de investimento, o que aumenta a liquidez do mercado hipotecário.