postado em 16/07/2008 15:43
Os preços ao consumo dispararam em junho nos Estados Unidos, registrando sua mais forte alta em 26 anos, devido ao peso crescente da energia, o que se soma ainda aos problemas de uma economia flertando com uma paralisação total.
Os preços ao consumo aumentaram 1,1% em junho em relação a maio, a alta mais forte registrada desde junho de 1982. Em um ano, a inflação atingiu 5%, seu mais alto nível desde 1991, indicou nesta quarta-feira o departamento do Trabalho.
Este "boom" extremo é particularmente mal vindo, disse Peter Kretzmer do Bank of America, que não hesitou em falar em "estagflação - uma atividade econômica estagnada num contexto de inflação elevada - para qualificar a situação atual".
O ministério explicou esta alta inesperada (os analistas previam um ganho da ordem de 0,7% apenas) pelos altos custos da energia.
Em um mês, os preços da gasolina e do diesel subiram mais de 10%, e com um barril de petróleo perto de seus recordes, os analistas vêem pouca razão para esperar um recuo.
"Os preços ao consumo devem continuar a aumentar nos próximos meses", afirmou Aneta Markowska do Société Générale, que prevê um barril de petróleo a US$ 147 em média até o terceiro trimestre.
"Isto deve deixar a inflação em torno de 5,5% a 5,6% daqui até o mês de agosto", acrescentou.
Sem contar energia e alimentação, o índice de base registrou uma alta mais modesta: mais 0,3% em um mês e 2,4% em um ano. Apesar também do preço do petróleo pesar, por exemplo na alta das tarifas aéreas, seu impacto é limitado, as empresas continuam no conjunto a reduzir suas margens de lucro em vez de aumentar seus preços.
Mas os analistas se perguntam quanto tempo isto pode durar: "Por enquanto não vemos um sinal de espiral salário-preço nos EUA, mas os dados de hoje aumentam as preocupações", disse Markowska.
Na realidade, os salários semanais corrigidos de acordo com a inflação recuaram 0,9% em junho, ou seja, a mais forte baixa em 24 anos.
A preocupação é também viva no banco central, que visa uma inflação "de base" de no máximo 2%. Terça-feira, o presidente do Fed, Ben Bernanke, advertiu poderia aumentar a curto prazo.
Em tempo normal, esta alta pediria um aumento das taxas. Mas a economia americana vem enfrentando múltiplos desafios decorrentes da crise do setor imobiliário, indo da ameaça de recessão às turbulências nos mercados financeiros, e isto impede de fato qualquer flexibilidade monetária.
O banco central, segundo analistas, deve portando manter por mais algum tempo a taxa básica a 2%, apesar das reticências dos mais ortodoxos de seu comitê de política monetária que não hesitaram em votar contra as recentes baixas de juros.