postado em 28/07/2008 08:36
Quem vê de longe pode pensar que a briga é pessoal, mas é comercial mesmo. Ainda assim, é curioso como o empresário paranaense Francisco Simeão funciona como termômetro do que incomoda os fabricantes de pneus. Durante anos ele esteve às turras com as multinacionais que dominam o mercado ; não só no Brasil, mas no planeta ; por sua insistência em importar pneus velhos para transformar em novos. Perdeu. Mudou de estratégia, mas não de adversários. Vencidos os remoldados, a indústria se alinhou contra os importados novos, chineses e mais baratos. Reencontrou Simeão, que já traz 100 mil unidades e quer dobrar esse volume.
Como acontece em outros setores que reclamam da concorrência, os pneus chineses têm preços imbatíveis. Eles chegam ao Brasil até 40% mais baratos que os similares nacionais. Isso ajuda a entender por que em poucos anos o país é responsável por metade dos 20 milhões de pneus novos que compramos a cada ano ; sozinhos respondem pelo crescimento das importações desde 2003, quando eram importadas 9 milhões de unidades.
Mas a pechincha incomoda os fabricantes, que enxergam concorrência desleal. ;Usamos as mesmas matérias-primas, borracha sintética e borracha natural, que têm preços internacionais, mas os pneus chineses entram no Brasil até 40% mais baratos. Em 2004 eles não tinham nada, hoje levam 20% do mercado;, reclama o presidente da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip), Eugenio Deliberato, ex-presidente Bridgestone/Firestone no país.
Economia
O incômodo é maior porque os importados miram no mercado de reposição para carros, ônibus e caminhões, onde os lucros são mais altos. De um lado, conquistam clientes como o barbeiro Agenildo Barbosa, que há um mês trocou os remoldados de seu carro por um produto chinês. ;Gostei do preço e parece mais seguro;, elogia. Noutro, transportadoras, como o grupo Fassina, estão usando os importados em toda a frota, de olho na redução de custos num setor onde o gasto com pneus só é menor do que com combustível.
As fábricas instaladas no país fizeram as contas e chegaram à conclusão de que a fatia tomada pelos pneus chineses corresponde ao que deixaram de vender. Também acham que as marcas asiáticas ganharam mercado com produtos vendidos abaixo de custo. Tal prática é ilegal pelas regras da livre concorrência e é o que sustenta a Anip em dois pedidos de ação antidumping que tramitam no setor de defesa comercial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O governo topou abrir uma primeira investigação sobre os pneus de carga e avalia a pertinência no caso dos pneus de passeio.
A bronca não é original. Produtos originários da China em geral são o principal alvo tanto das medidas antidumping em vigor ; 20 de 59, uma delas para pneus de bicicleta ;, quanto das em investigação (7 de 24). Tampouco se trata de uma questão restrita ao Brasil. Fabricantes norte-americanos engrossaram os lamentos no ano passado e, em fevereiro último, o governo americano passou a sobretaxar os concorrentes chineses, sob o argumento de que eles são subsidiados em seu país de origem.
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