Jornal Correio Braziliense

Economia

OMC: situação é 'muito tensa', diz porta-voz

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As negociações de Genebra entre as sete grandes potências comerciais sobre a liberalização dos mercados vivem um momento "muito tenso", declarou o porta-voz da Organização Mundial do Comércio (OMC), na madrugada desta terça-feira (29/07, hora local). "A situação é muito tensa, o equilíbrio é muito frágil e o resultado não é, de nenhuma maneira, certo", disse à imprensa o porta-voz Keith Rockwell. O maior ponto de discórdia é o chamado Mecanismo de Salvaguarda Especial (MSE), que a Índia quer obter para defender seu mercado agrícola. Os negociadores das sete potências, que tratam de salvar a Rodada de Doha, voltarão a se encontrar nesta terça-feira, revelou o ministro de Comércio da Índia, Kamal Nath. Encontro nesta terça Os representantes de Brasil, Estados Unidos, União Européia, Índia, Japão, Austrália e China, que tinham retomado suas consultas por volta da meia-noite, mantiveram "intensas discussões e elas prosseguirão" durante o dia de amanhã, disse Nath. O encontro deve começar a partir do meio-dia, confirmou o chanceler brasileiro, Celso Amorim, admitindo que as discussões prosseguem "sobre o fio da navalha". Se os sete não chegarem a um acordo, as negociações da Rodada Doha correm o risco de naufragar. Mecanismo de proteção O MSE visa a proteger os mercados agrícolas de países em desenvolvimento, e seus principais críticos são os países exportadores agrícolas, tanto do mundo desenvolvido, como Estados Unidos e Austrália, como do mundo em desenvolvimento, como Uruguai e Paraguai, o que torna o impasse paradoxal. Nas propostas feitas na sexta-feira passada pelo diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, o MSE figura como um gatilho de elevação de tarifas que é disparado quando a importação de um produto registra um aumento de 40% em relação aos três anos precedentes. Índia e outros países em desenvolvimento querem reduzir esse nível para 10%, mas os EUA e os países agroexportadores consideram que tal patamar seria um freio inaceitável aos fluxos comerciais. Rockwell disse que, no encontro de hoje, várias propostas foram analisadas, sem que houvesse qualquer consenso. Se os Sete chegarem a um acordo, este será submetido aos ministros de outros 30 países, que desde a semana passada participam da reunião convocada especialmente para salvar a Rodada Doha. Europa Na noite desta segunda-feira, nove países da União Européia, entre os que mais se opõem às propostas do diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, reuniram-se para tentar estabelecer uma posição comum. A reunião aconteceu na missão italiana na OMC, e contou com a participação de negociadores de Itália, França, Irlanda, Polônia, Hungria, Grécia, Portugal, Lituânia e Chipre. O porta-voz do vice-ministro italiano para o Desenvolvimento Econômico, Adolfo Urso, disse que esses países se batizaram de "o clube dos voluntários", e que o encontro foi "uma reunião política antes da reunião do conselho (de ministros europeus do Comércio) de amanhã (terça-feira)". "Esperamos poder mudar o curso das coisas na OMC", disse o porta-voz de Urso, após o encontro dos nove ministros. "Esse grupo de países pode pressionar a UE e o negociador europeu, Peter Mandelson, para conseguir avanços" nas denominações de origem que Itália e outros 11 países querem proteger melhor por intermédio da OMC, destacou o porta-voz. Segundo uma fonte italiana, "muitas nuvens pairam sobre as negociações, principalmente sobre a questão do acesso aos mercados dos países emergentes, como a China, a Índia e o Brasil". A proposta apresentada por Lamy foi considerada pelo "clube dos voluntários" "muito desequilibrada, com uma Europa que dá muito, talvez até demais, e que obtém pouco".