postado em 05/08/2008 15:16
O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) decidiu nesta terça-feira (5/08) manter sua taxa de juros em 2%, marcando a segunda reunião consecutiva de pausa em sua política de cortes de juros.
O banco reduziu a taxa entre setembro do ano passado e abril deste ano, na expectativa de, ao baratear o crédito, dar um estímulo à economia, afetada pelas crises nos mercados imobiliário, hipotecário e de crédito, que também atingiram outros mercados financeiros pelo mundo. O governo também adotou outras medidas para estimular a economia e evitar uma recessão - como o pacote aprovado pelo presidente George W. Bush, em fevereiro deste ano.
Tanto os esforços do Fed como os do governo, no entanto, ainda não renderam os resultados esperados: no primeiro trimestre, o governo mostrou diversos ritmos de crescimento para a economia - 0,6%, divulgado em abril; 0,9% anunciado em maio; e 1% anunciado em junho (a leitura mais recente, anunciada também na sexta, mostrou revisão para baixo, ficando em 0,9%). Todos resultados fracos. Na semana passada, o Departamento do Comércio informou que a economia cresceu 1,9% no segundo trimestre, abaixo da expectativa dos analistas, 2%.
O resultado foi beneficiado em parte pelo pacote de estímulo do governo, de US$ 168 bilhões, mas principalmente pelo crescimento nas exportações: o comércio internacional contribuiu com 2,42 pontos percentuais para a expansão da economia. As exportações americanas cresceram 9,2% no trimestre passado, enquanto as importações tiveram recuo de 6,6%. No primeiro trimestre do ano, o comércio exterior havia contribuído com 0,77 ponto percentual do PIB (Produto Interno Bruto).
O pacote de estímulo fez com que os gastos do consumidor no trimestre passado tivessem crescimento de 1,5%, contra 0,9% no primeiro trimestre. Os gastos com consumo respondem por cerca de 70% de toda a atividade econômica dos EUA). Mesmo assim, o impulso não foi suficiente para que a economia como um todo crescesse em níveis satisfatórios.
Na avaliação dos economistas, para os próximos dois trimestres, a expectativa é de resultados ainda mais fracos, uma vez que os fatores que ajudaram o resultado no trimestre passado poderão não estar mais presentes. O movimento acentuado de desvalorização do dólar perdeu força, o que pode se refletir em um ritmo mais lento de exportações. Além disso, os envios dos cheques do pacote de estímulo já terão terminado.
O governo ainda reviu para baixo os indicadores de crescimento dos dois último trimestres de 2007: no quarto trimestre, a economia passou de um crescimento de 0,6% para uma contração de 0,2%. Já no terceiro trimestre, a expansão teve ligeiro recuo, de 4,9% para 4,8%.
O dado sobre consumo de julho já não trouxe um bom sinal: os gastos dos consumidores caíram 0,2%, quando descontados os efeitos da inflação.
Inflação
Preços são um obstáculo que o Fed vai ter de encontrar uma forma de superar sem apertar ainda mais a política monetária. Na leitura sobre gastos do consumidor em julho, o Departamento do Comércio informou que os preços registraram uma alta de 0,8%, a maior desde fevereiro de 1981, quando houve alta de 1%.
Em junho, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 1,1%, maior avanço mensal desde setembro de 2005. O núcleo do índice (que exclui os preços de energia) teve alta de 0,3%, contra uma elevação de 0,2% em maio e de 0,1% em abril.
O (Índice de Preços no Atacado (PPI, na sigla em inglês) de junho, por sua vez, apresentou alta de 1,8%. No acumulado dos 12 meses, o índice teve alta de 9,2% (dado sem ajuste sazonal), maior avanço nessa comparação desde junho de 1981. O núcleo do índice 0,2%, mesmo avanço registrado em maio e abaixo do índice de abril --alta de 0,4%.
No comunicado da reunião de junho, o Fed informou que "as condições restritas de crédito, a contínua contração do mercado imobiliário e a alta nos preços da energia devem pesar no crescimento econômico nos próximos trimestres". Além disso, com as altas nos preços da energia --o preço do petróleo tem recuado nas últimas semanas, mas em 11 de julho atingiu a marca recorde de US$ 147,27-- e as expectativas de inflação, "a incerteza sobre o cenário de inflação continua alta".
Analistas e investidores esperam por uma elevação dos juros no fim deste ano, mas a economia não apresenta sinais animadores de uma recuperação significativa da economia neste segundo semestre. O mercado de trabalho continua a perder vagas --em julho foram fechados 51 mil postos de trabalho, enquanto a taxa de desemprego subiu para 5,7%. O resultado foi melhor que o esperado (a previsão era de um corte de 72 mil vagas), mas ainda assim o dado é negativo.
Imóveis
O mercado imobiliário, por sua vez, ainda sofre com a crise. O índice S/Case-Shiller, divulgado no fim do mês passado, mostrou que os preços dos imóveis residenciais nos EUA caíram 15,8% em maio nas 20 principais regiões metropolitanas do país, na comparação com maio do ano passado. A queda foi recorde e marcou o 22° mês consecutivo de baixa de preços.
O índice também teve queda recorde, de 16,9%, na apuração dos preços nas 10 principais regiões metropolitanas do país, na comparação com maio de 2007.
As vendas de casas novas em junho caíram 0,6%, marcando o sétimo declínio nos últimos oito meses. Em relação a junho de 2007, a queda foi de 33,2%. Os preços dos imóveis tiveram uma queda de 2% na comparação com junho do ano passado. Já as vendas de casas já construídas nos EUA caíram 2,6% em junho na comparação com maio. Na comparação com junho de 2007, houve uma queda de 15,5%.
"O Fed está encurralado agora. Não pode ir para frente nem para trás", disse o professor de economia da Smith School of Business da California State University em Channel Islands, Sung Won Sohn.